quarta-feira, 13 de maio de 2009

Olimpíadas 2016 no Rio de Janeiro. A cidade ganha um presente ou um abacaxi?

http://msn.lancenet.com.br/maisesportes/noticias/09-05-02/537812.stm?olimpiada-comite-social-questiona-legado-dos-jogos-de-2016


Entre os dia 27 de abril e 1 de Maio membros do Comitê Olímpico Internacional (COI) visitaram o Rio de Janeiro para examinar as condições da cidade, com vistas as Olimpíadas de 2016. Com a exceção das instalações esportivas, os critérios do COI - transporte, saúde, educação, meio ambiente e segurança – fazem parte do cotidiano do cidadão, que vota para que esses direitos sociais sejam garantidos.

Passado o ritual eleitoral o que percebemos infelizmente é a conversão do cidadão em um grande espectador da política; alguém que assiste passivamente as decisões pessoais de governantes e de grupos econômicos privados serem tomadas e justificadas como de interesse público. Neste sentido, a realização de uma Olimpíada na cidade é de interesse de todos? Atende a que prioridades? Serão feitas remoções forçadas? Os investimentos em saúde serão somente para os atletas? De que forma a realização de um evento que dura um mês pode trazer benefícios de longo prazo para a população?

Esses questionamentos têm sido marginalizados como se qualquer crítica ao projeto Olímpico de 2016 fosse exemplo de uma oposição antipatriota. O endosso midiático de artistas e atletas, a divertida roda gigante e o poder simbólico do esporte no “país do futebol” reforçam apenas um clima de oba-oba, permitindo que qualquer ação feita em nome das Olimpíadas e de preservar a “imagem do país lá fora” se autojustifiquem. Se de fato a população apóia a realização do evento como uma grande oportunidade para a revitalização urbana e social do Rio de Janeiro, ele só será um sucesso se os seus proponentes lidarem de forma aberta com as prioridades sociais e o compromisso de deixar um legado amplo para a cidade.

Infelizmente a experiência dos Jogos Panamericanos 2007 esteve muito longe de atender essas expectativas. Os canais de participação social e democrática foram nulos. Nenhuma grande obra de infraestrutura urbana prometida foi realizada. A Agenda Social do PAN ,que previa investimentos importantes para a população carente até 2012 no município foi esquecida. As poucas instalações esportivas construídas encontram-se fechadas para uso público, subutilizadas ou foram privatizadas, sendo que todas necessitam de amplas reformas se vierem a abrigar os Jogos Olímpicos. Ações arbitrárias na Marina da Glória, no Estádio de Remo da Lagoa e de remoção de comunidades na Zona Oeste tiveram que ser impedidas na justiça e como parte da resistência da sociedade civil.


É longa a lista de erros de concepção, planejamento e irregularidades que fizeram pular a previsão inicial de 400 milhões para um gasto final de mais de 3,6 bilhões de reais na realização do Pan/2007. Algumas dessas questões foram apontadas de antemão por organizações sociais reunidas em torno do Comitê Social do Pan desde 2005. Apesar desses problemas e sua necessária investigação a experiência do Pan/2007 não deve ser esquecida.

Os 30 bilhões de reais inicialmente previstos pelo projeto Olímpico equivalem ao gasto de quase 8 jogos Pan-Americanos. São gastos de dinheiro público e tendo em vista os erros passados é fundamental que o planejamento dos jogos contemple desde já a participação da sociedade civil, das comunidades locais e dos órgãos fiscalizadores em seu processo de tomada de decisão. Os discursos em torno do legado social presentes na candidatura devem se traduzir em políticas efetivas – de investimentos sociais e de lazer em comunidades carentes; de melhorias amplas no transporte público; de usufruto público e esportivo das instalações construídas, e que essas não tragam prejuízos ao cidadão, em especial à população residente no entorno das intervenções urbanas.

No dia 2 de outubro os membros do COI decidirão entre Chicago, Madri, Tóquio ou o Rio de Janeiro como sede das Olimpíadas de 2016. Se o Rio for escolhido os desafios são enormes. Não desejamos repetir os onerosos erros do Pan/2007 e os elefantes brancos das últimas Olimpíadas. O fantástico Estádio Olímpico de Pequim jaz silencioso com a previsão de um único evento para este ano. Atenas ainda hoje amarga seus gastos realizados em 2004. Não desejamos e nem podemos arcar com tamanho desperdício, considerando as imensas demandas de investimento e melhoria na infraestrutura e serviços de nossa cidade.

O “Comitê Social do Pan” reivindica a realização das Olimpíadas 2016 no Rio de Janeiro com base nesses princípios. Convocamos indivíduos e organizações sociais a somarem esforços na construção coletiva de um projeto olímpico verdadeiramente cidadão, democrático e participativo.

Rio, abril de 2009.

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COMITÊ SOCIAL DO PAN – Mega Eventos Esportivos

Criado em abril de 2005, o “Comitê Social do Pan” é fruto da articulação entre o Fórum Popular do Orçamento (FPO), o Fórum Popular do Plano Diretor do Rio de Janeiro, organizações sociais e de moradores afetados pelas obras e pesquisadores do esporte. O Comitê realiza até hoje reuniões periódicas com o objetivo de acompanhar os projetos e o legado do PAN 2007 e de Mega Eventos Esportivos previstos para o Rio: como os Jogos Mundiais Militares em 2011, as Olimpíadas 2016 e a Copa do Mundo de 2014 no Brasil.

Contatos: Site: http://br.geocities.com/fporj/ Email: fporiodejaneiro@gmail.com

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