sábado, 16 de junho de 2007

Se o produto encalha, a culpa é do consumidor?

http://www.furacao.com/opiniao/coluna.php?cod=1289 15/06/2007

Juarez Villela Filho, em sua mais recente coluna - Por que o Atlético tem tão poucos sócios? - respondeu à nota apócrifa publicada no site oficial do Atlético criticando a pouca adesão aos planos de sócios. O Juarez, como sempre, ofereceu-nos um grande texto, cheio de bons argumentos e de coerência. Ao final, lançou ao Mauro Holzmann a pergunta desafiadora: "Se o produto encalha na prateleira, a culpa é do consumidor?".
A questão é boa e carece de resposta, ou respostas, posto que é tema controvertido, daqueles que dividem opiniões, acaloram os debates e fazem surgir inúmeras correntes de pensamento. Embora a indagação tenha sido feita ao Mauro Holzmann, resolvi dar aqui minha resposta, e que, em linhas gerais, é a seguinte...
O Mauro Holzmann, homem de marketing e que já serviu ao poderoso Clube dos Treze, vê o futebol como um produto, onde consumidores adquirem de tudo, desde chaveiros até pacotes de ingressos para as temporadas. Nesse contexto, o próprio Atlético não seria mais do que um produto, uma marca, um logotipo impresso em camisetas, canecas, cinzeiros, e em toda sorte de artigos possíveis de serem disponibilizados aos consumidores brasileiros.
Essa parece ser a concepção dele, mas não é a minha e seguramente não é a de muitos torcedores que têm o direito de pensar diferente da cúpula atleticana, sem que sejam vistos como opositores, torcedores de ocasião ou menos atleticanos.
Entendo que o futebol é uma paixão, e não um produto. Somos torcedores e não consumidores e a razão que me leva a pensar assim é bastante simples: consumidores compram por necessidade; torcedores consomem por paixão.
Mesmo não querendo, você é obrigado a comprar uma escova de dentes, pois existe a necessidade imperiosa de se manter a saúde bucal. Ontem mesmo, tive de comprar uma, pois a minha estava com as cerdas deformadas. Não queria ter desembolsado doze reais naquela escova, mas não tive opção. A necessidade é inadiável.
No último mês de janeiro, tive uma amidalite que me levou cento e cinqüenta reais em dinheiro vivo na compra de antibióticos, mas tive de comprá-los, pois havia uma necessidade absoluta e a necessidade é inadiável. O consumidor necessita de um produto e compra, pois não lhe resta escolha: é comprar ou comprar.
Entretanto, defendo a idéia de que futebol é paixão e que, por isso mesmo, não tem consumidores, e sim, apaixonados, e isso é muito diferente, ao menos no meu ponto de vista. O torcedor consome por paixão, não por necessidade, e o grande ponto a ser atacado pelo nosso marketing esportivo é: como intensificar essa paixão.
O torcedor pode deixar de ir ao estádio, pois ir ao estádio sempre esteve longe de ser uma necessidade. Porém, saciadas as necessidades básicas, primárias ou inadiáveis, vamos chamar assim, o torcedor pode, sim, voltar-se à sua paixão e nela injetar boa parte do dinheiro que lhe sobejar, se é que dinheiro sobeja hoje em dia. Mas quem é que investe numa paixão morna, fria, debilitada? Ninguém!
Tomem o exemplo das mulheres, sempre sábias e saborosas: quando querem nos obter algo, produzem-se, maquiam-se, perfumam-se, metem-se naqueles vestidos provocantes, pintam a boca de vermelho e depois dizem bem baixinho que amam a gente e a gente burro acredita e lhes entrega até alma, como se já não fosse suficiente ter lhes dado o coração.
A paixão exige apelo, exige sedução e essa é a grande lição que aprendemos com as mulheres, essas verdadeiras víboras que vertem veneno em cada beijo e que o inoculam em nossas veias enquanto nos esvaímos de paixão […].
E é aí que está: quais são os apelos atualmente existentes para vender o Atlético aos seus apaixonados torcedores? O que há no nosso Atlético em 2007 para poder nos seduzir? Nada e aí a paixão fica morna, fica fria, fica burocrática e cai naquela mesmice onde um jogo é só mais um jogo e nada mais. Fica faltando um tempero, uma mágica, um diferencial daqueles que movem o torcedor apaixonado a querer mais e sempre mais.
[...]
Éramos uns loucos, uns apaixonados, uns cegos de amor pelo Atlético que correspondia em campo como se jogasse a cada partida uma decisão. Assim, fomos campeões do Paraná e vice-campeões da Série-B. A paixão era tanta que a Tribuna do Paraná batia recordes de vendas a cada segunda-feira, pois o Atlético estava encantador, sedutor, arrasador (lembram do carrasco Dirceu? E do gol do Berg? Sessenta mil Tribunas vendidas a cada segunda-feira! Aquilo tudo era pura magia, puro encantamento...).
Longe de mim ser o dono da verdade, mas entendo que futebol é uma paixão, e não um simples produto. E mesmo que seja um produto é daqueles que só se pode vender sob o signo da paixão. Somos torcedores, e não consumidores. E a razão que me leva a pensar assim é bastante simples: consumidores compram por necessidade; torcedores consomem por paixão.
Mesmo não querendo, a gente é obrigado a comprar uma dúzia de ovos, pois existe a necessidade imperiosa de se fazer uma omelete para o jantar. Mas para se consumir futebol é preciso paixão, das grandes, daquelas que fazem a gente comprar a camisa, vestir a camisa, mas, sobretudo, amar a camisa não como um produto de prateleira, mas como a segunda pele, a segunda alma, como a própria vida, ou mais!

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