sexta-feira, 27 de julho de 2007

Ingressos Pan IX

ORGANIZAÇÃO

Ingresso vira moeda para ação de políticos

Órgãos distribuem 300 mil bilhetes para funcionários e projetos sociais

Eventos do Pan com grande apelo de público sofrem com confusão nas arenas, cambistas e preço com ágio; licitação está sob suspeita

MARIANA LAJOLO RODRIGO MATTOS ENVIADOS ESPECIAIS AO RIO SÉRGIO RANGEL DA SUCURSAL DO RIO

Os ingressos do Pan transformaram-se em instrumento para políticos, em vantagens para aproveitadores, em lucro para um empresário ligado a cartola e em confusão para o público.Para as competições pouco requisitadas, autoridades distribuíram 300 mil ingressos para seus funcionários e projetos sociais -mesmo assim houve arquibancadas vazias.

Para as competições muito procuradas, houve confusão para o público com entradas, cambistas e preços com ágio.Até ontem, foram vendidos cerca de 1 milhão de ingressos de um total de 1,7 milhão.Nem a cerimônia de abertura teve todos os bilhetes vendidos: foram 49 mil de 56,7 mil.Já neste evento os governos federal, estadual e federal já deram 3.000 ingressos. Mas foi com uma carga de cem vezes maior que usaram, mais uma vez, o Pan para a política.

O governo do Estado decidiu oferecer carga de 80 mil como troca por 1 kg de alimentos. Foram alimentos arrecadados pela ONG Rio Solidário, cuja presidente de honra é Adriana Cabral, mulher do governador do Rio, Sergio Cabral.Procurada, a assessoria da Secretaria de Esporte Lazer não ligou de volta para a Folha."Nem sabia qual era o jogo", disse o estudante Carlos Magalhães, 17, que ia assistir à partida Jamaica e Equador.

A Prefeitura do Rio disse que seus 100 mil ingressos foram para participantes das Vilas Olímpicas, comunidades carentes, garis e familiares e mendigos dos abrigos do município. Todos usaram ônibus da prefeitura. "Acho que ninguém iria se não fosse de graça", contou Taís Vieira, 13, que assistiu a Brasil e Canadá no futebol feminino. Ela joga futebol.

A prefeitura divulgou, com fotos, pessoas beneficiadas pelo seus ingressos. Mesma atitude do governo federal, que enviou e-mail à imprensa para contar a ida de crianças do seu programa Segundo Tempo a jogos do Pan. O Ministério do Esporte distribuiu 100 mil.

Na outra ponta, quem comprou ingressos sofreu. Nas competições com apelo, são grandes as filas do SAC (Serviço de Atendimento ao Consumidor). Bilhetes que indicam lugares inexistentes, assentos diferentes dos locais descritos e numerações duplicadas são as principais reclamações."Tive problema em todas as arenas. O serviço deixou muito a desejar", contou a dona-de-casa Sônia Schaffer.Para entrar nas arenas, o público ainda enfrenta o atraso ou a falta de entrega dos bilhetes comprados pela internet.

E há cambistas, impune pela PM. Voluntários, que não quiseram se identificar, relataram estar com medo da pressão desses cambistas se não colaborarem com o esquema.E falta fiscalização. Na final do basquete feminino, bilhetes eram depositados em caixas de papelão. Na licitação para ingressos, o Comitê Organizador do Pan exigia especificações detalhadas de segurança.Responsável por produzir e vender os bilhetes, a Ticketronics é empresa de Alexandre Accioly, sócio do diretor do COB, Marcus Vinícius Freire. Por isso, a licitação é investigada pelo Ministério Público.

O professor americano Ted Gorn resume sua revolta por não ser restituído imediatamente pelo ingresso do softbal, que foi adiado: "Nos EUA eles devolvem seu dinheiro e pronto. Eu estava aqui para ver o jogo e, por culpa da organização, não vi. Porque não podem me dar o dinheiro?"

CAMBISTA:VOLUNTÁRIO ESTÁ COM MEDO

Duas mulheres que trabalham no Maracanãzinho disseram à Folha estar com medo dos cambistas, que ameaçam voluntários para conseguir entradas. No segundo jogo do Brasil, na terça, voluntários pediram ajuda à Força Nacional. Na mesma noite, a reportagem viu pessoas com bilhetes de cambistas entrarem no ginásio sem carteirinha de estudante.

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