terça-feira, 14 de agosto de 2007

Julgamento de Joel

Nesta quarta-feira o treinador Joel Santana será julgado pelo STDJD acusado de ter incitado agressão física por intermédio da frase “Se ficar de palhaçada, mete a porrada mesmo”, captada pelas câmaras de TV.

É interessante perceber que no futebol brasileiro as palavras estão incomodando mais do que as ações.

Nos choca mais, ouvir Joel gritando para seus atletas que batessem em seu adversário do que assistir a agressões reais e que de fato têm desfilado pelos gramados afora. Nos recentes jogos, Internacional X Vasco e Figueirense X Botafogo, foi espantoso não somente o número de faltas, mas o tipo delas. Eram faltas violentíssimas provocadas por jogadores que não miravam a bola, mas sim a perna, o joelho e o pé dos adversários. Ambas as partida foram constantemente interrompidas por conta de alguma jogada mais brusca e algumas vezes “criminosa” como se costuma dizer.

Nas duas partidas, nenhum jogador foi expulso. E isso significa que os árbitros parecem bastantes permissivos quando a violência rola solta no gramado. E significa também que esses mesmos árbitros não sofrem nenhuma espécie de punição por deixarem que a pancadaria faça parte do jogo.

Sem dúvida, o mundo é feito, em grande parte, de palavras, mas também por atos concretos. Por isso, é necessário um equilíbrio entre essas dimensões que, mais do que se oporem, se completam.

O futebol brasileiro, entretanto, parece estar privilegiando, ou melhor, redobrando o peso das palavras. Sendo assim, Joel Santana será julgado por ter proferido frases que chocaram nossos ouvidos, enquanto árbitros permissivos e jogadores violentos, continuam a atuar livremente.

Essa predileção pelo efeito do verbo, talvez revele a dificuldade que temos, no Brasil, de mudar efetivamente o que precisa ser mudado. Afinal toda transformação necessita de ações, só que às vezes é mais fácil dar importância ao campo simbólico da palavra.

Joel Santana errou. Mas será que seu erro é maior do que o de muitos treinadores que assistem tranqüilamente seus jogadores darem pontapés.

Parece que o silêncio ou as palavras contidas nos basta, talvez porque nos passem a ilusão de que somos os mais perfeitos guardiões da ordem. E nós adoramos a ilusão de que estamos agindo.

Mas fora do futebol ocorre o mesmo. Fazemos passeatas pela paz e enchemos as areias de Copacabana de cruzes, demonstrando nossa indignação com cada tragédia que abala o país. Mas, no dia seguinte, tudo continua sempre como está.
Leda (UTB)

Um comentário:

Anônimo disse...

O erro de Joel foi apenas ser captado pelos microfones.

Quase todos os técnicos devem mandar bater.

Para que as palavras de Joel tivessem efeito negativo para ele, bastaria punir a violência em si, ou o árbitro conivente.

Afinal, não é o Joel quem bate.