“Paranaense” ou a destruição da cultura do torcedor pela mercantilização do futebol,
por Martin Curi
http://www.coxanautas.com.br/noticia.phtml?id=14839
Nesta semana uma entrevista com o presidente do Atlético/PR, Mário Celso Petraglia sacudiu os torcedores paranaenses. Os seguidores do Atlético devem ter ficados assustados e os fãs do Coritiba e do Paraná devem ter ficados felizes. Por que isso?
Porque Petraglia simplesmente anunciou a desconstrução do Atlético/PR como clube tradicional e bem quisto, pelo qual outrora foi conhecido. O presidente - ou dono, como ele quer ser chamado - tem a visão de uma empresa de entretenimento sem alma e sem torcedores, mas com consumidores e – obviamente – lucros.
Os primeiros passos desse plano, já aconteceram na forma de um estádio estéril, chamado moderno, que exclui qualquer atmosfera e cultura de torcedores. Canções, danças e criatividade não são mais desejados. O espectador deve deixar dinheiro, não opiniões.
Agora ele anunciou que este estádio não vai ter espaço para torcedores organizados. Deliberadamente vai ser excluído um grupo de pessoas. E este grupo não é qualquer um, mas sim o de pessoas que sustentam toda a atmosfera e a experiência única que a visita a um estádio representa. Estes consumidores que Petraglia deseja não são capazes de criar esta cultura. E, aliás, eles não querem só consumir o jogo e a comida, mas também o ambiente. É bem provável que, sem torcidas organizadas, também não vão haver consumidores.
Agora acontece o segundo passo, que consiste na mudança do nome. Um clube de futebol é a origem de identidade de milhares de pessoas, algo parecido com o país de origem. Imaginem se amanhã vem alguém e declara que o Brasil não se chama mais Brasil, mas Consórcio de Minerais e Agricultura S.A. O que vai achar?
Primeiro ele descaracteriza o estádio, considerado templo pelos torcedores, depois muda o nome do clube e depois fica surpreso porque os jogos ficam vazíos. Agora reclama, que não consegue vender os carnês de temporada. A diretoria do clube paranaense acha que seus torcedores são uma falácia. Na verdade, o clube de quem estas pessoas eram torcedores não existe mais. Porque então deveriam comprar ingressos por aquele outro clube chamado Paranaense?Conseqüência lógica é que o clube fica sem dinheiro e vai à falência. Mas o dono do Paranaense já tem a solução: vai vender para algum consórcio estrangeiro. Ele fica com o lucro para a aposentadoria e o povo fica sem time, definitivamente.
O problema descrito não é exclusivo dos atleticanos, mas sim de todos os torcedores brasileiros e talvez no mundo. Os estádios do Rio de Janeiro (Engenhão e Maracanã) acabaram de passar pela reforma do Pan. Resultado: são agora chamados “All-Seater” ou seja estádios sem geral, totalmente encadeirados, onde todo mundo deve ficar sentadinho. Torcida organizada, batucada, canções, alegria e vida? Não obrigado, por favor em outros lugares. Futebol está se tornando um espaço para consumidores.
E outra coisa: você consegue imaginar uma vida sem AtleTiba?
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2 comentários:
Isso é papo pra boi dormir, clubes sempre foram entidades privadas, agora somente estão se tornando mais organizados. Sendo S/A fica melhor ainda, se quiser vou poder comprar ações do meu time e ter poder de voto, etc. Devido as leis de prestação de contas aos acionistas (etc) pode ficar ainda mais transparente as contas e operação do clube. Vários grandes clubes europeus funcionam assim e outros países desenvolvidos (times de basquete, baseball, etc, são todos privados). Bobo é quem acredita que o time pertence ao povo, custa dinheiro pra manter um time e não é responsabilidade do governo sustentar isso.
O mundo dos esportes não é o mesmo de décadas atrás. Cada vez há menos espaço para amadorismo e folclore, tão presentes na história do esporte no mundo todo. O futebol está mercantilizado, é um fato. Porém, é errado tratá-lo exclusivamente como negócio, pois sua essência ainda está - e, espero, sempre estará - na emoção. Sem o amor e a beleza da disputa, o futebol e demais esportes perdem o seu valor, e sem valor não existirá nenhum empresário interessado.
Otganização e administração profissionais são uma necessidade, mas é perfeitamente possível fazê-la sem destruir a alma do jogo. E o Petraglia, que se perdeu em seu próprio ego, parece não enxergar isso.
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