terça-feira, 4 de dezembro de 2007

Trem-bala não chega para Copa de 2014

São Paulo, 4 de Dezembro de 2007 -

O Brasil não verá o trem-bala entre Rio de Janeiro e São Paulo pronto a tempo da Copa

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São Paulo, 4 de Dezembro de 2007 -
O Brasil não verá o trem-bala entre Rio de Janeiro e São Paulo pronto a tempo da Copa do Mundo de 2014, que será realizada no País. Foi o que constatou ontem o secretário dos transportes do Rio de Janeiro, Júlio Lopes, durante o 5º Seminário sobre Ferrovias realizado pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). Pelos cálculos do secretário, até lá apenas o primeiro trecho da obra deve estar pronto, o chamado Expresso Guarulhos, que ligará o centro de São Paulo ao aeroporto internacional de Cumbica - sua conclusão está prevista para 2010. Para as Olimpíadas de 2016 - para a qual o Rio é candidato - a cidade carioca espera ter em funcionamento outro trecho dos trilhos, a chamada Linha 6, que ligará a Barra à Ilha do Governador, e o centro carioca ao aeroporto do Galeão. Em São Paulo, o projeto também já incorporou a construção de um ramal que ligue a cidade de Campinas à capital. Mas a linha completa, que finalmente unirá os 400 quilômetros entre uma cidade e outra, só deve estar concluída por volta de 2018. "O ano de 2014 sem dúvida seria o ideal, mas a obra toda só deve terminar por volta de 2018, levando em consideração que a licitação prevê sete anos de construção", disse Lopes. O edital de licitação, por sua vez, só pode ser lançado depois de concluído o estudo comandado pelos governos paulista e fluminense junto ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que fará o levantamento de demanda e custo do projeto e deve ser apresentado em março do próximo ano. Embora não sirva como marco final da obra, os representantes envolvidos acreditam na realização da Copa no País como um chamariz aos investimentos. "Com a Copa, é possível que haja muitos investidores internacionais interessados, o que vai proporcionar uma competitividade maior", sublinhou Rodrigo Vilaça, diretor-executivo da Associação Nacional dos Transportadores Ferroviários (ANTF). Empresas interessadas O secretário do Rio destacou o projeto apresentado pela concessionária italiana Italplan, com orçamento de US$ 9 bilhões e plano de sete anos de construção e 32 de operação. Embora o preço seja mais alto que outros já apresentados, como o da alemã Siemens, orçado em torno de US$ 6,5 bilhões, Lopes confia no maior detalhamento do estudo italiano, que, para ele, poderia até reduzir o tempo total da obra. "O projeto da Italplan leva em conta fatores como topografia, geologia e programação, o que deixa a obra mais preparada", disse. Lopes comparou ainda a iniciativa brasileira a outros projetos semelhantes em outros países: "Por € 9 bilhões, a França pretende trocar a sua frota por trens mais velozes até 2012. Em Londres, o prefeito planeja a construção, por € 16 bilhões, de uma linha que cruze a cidade. Será que nós não temos US$ 9 bilhões para a efetivação do nosso projeto?" O secretário de transportes de São Paulo, José Luiz Portella, vê com mais cuidado o projeto da Italplan e aguarda o estudo conclusivo do governo. "A metodologia adotada pela Siemens prevê uma demanda de passageiros relativa a 12% do que prevê a Italplan. O que precisamos agora é de um levantamento muito aprofundado sobre demanda, velocidade e local das estações, para chegarmos a preços compatíveis", disse. A empresa italiana fez o seu projeto para o trem de Rio a São Paulo com uma base de 32 milhões de passageiros ao ano, enquanto preliminares dos estados calculam 17 milhões. Ninguém duvida, no entanto, que vá haver demanda. "A Dutra [rodovia que liga os dois estados] está absolutamente superlotada, tanto para passageiros quanto para carga. Os lucros da 1001 [viação rodoviária entre São Paulo e Rio] subiram 60% neste ano com a crise aérea", levantou Lopes. "A rodovia dos Bandeirantes [no interior paulista], fora do horário de pico, atende a 75% do número total de veículos que alcança nas horas mais cheias. É um modelo saturado", disse o secretário adjunto dos transportes de São Paulo, Reinaldo José de Campos. "A decisão [de se ter um trem-bala] já está tomada, agora é só uma questão de ver como será", concluiu o secretário paulista, Portella. Embora ainda não haja valores e proporções definidas, o consenso é que o projeto não pode ser viabilizado tanto sem a iniciativa privada quanto sem a pública - o que inclui investimento dos dois estados envolvidos e também do governo federal. Características Apesar de ter seu nome cravado como "trem-bala", devido ao embrião do projeto, que falava em uma velocidade de 300 km/h e um percurso sem paradas, a planta já teve sua velocidade reduzida para cerca de 180 km/h e algumas paradas e ligações inclusas, o que aumenta o tempo do trajeto de 1h30 para 2h20. Nessa nova concepção, em que o nome "trem-bala" é trocado por "trem de alta velocidade" (TAV), o preço da obra pode cair quase à metade, já que a velocidade menor exige uma tecnologia menos avançada. O preço estimado da passagem é de US$ 55, ou R$ 120, contra os R$ 68 pelas 6 horas de estrada em ônibus executivo (pela 1001) e os R$ 255 de avião (pela Gol). A linha pode servir ainda para o transportes de cargas leves, conforme lembra Lopes, da secretaria do Rio. Ele cita produtos como remédios, jornais e entregas de correio, que atualmente recorrem a ônibus, avião ou mesmo helicóptero para poderem cumprir seus prazos de até um dia de entrega. O presidente da Agência de Desenvolvimento de Trens Rápidos entre Municípios lembra ainda outra característica: "O Brasil perde 35 mil pessoas ao ano em acidentes rodoviários. Outras 100 mil ficam inválidas e 400 mil precisam ser internadas, o que significa um custo público de R$ 22 bilhões/ano. Isso exemplifica muito bem o que a falta de alternativa às rodovias traz. Temos que levar em consideração também quanto custa não fazer o trem".
(Gazeta Mercantil/Caderno C - Pág. 2)(Juliana Elias)

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