sexta-feira, 17 de julho de 2009

Manifesto contra a decisão de se reservar apenas 10% dos ingressos ao time “visitante” em clássicos no Mineirão

Manifesto contra a decisão de se reservar apenas 10% dos ingressos ao time “visitante” em clássicos no Mineirão

Belo Horizonte, 28 de junho de 2009

http://gefut.wordpress.com/manifesto/

Querem acabar com a violência no futebol. Qualquer dia acabam com o próprio futebol. A bola da vez agora são os clássicos entre Cruzeiro e Atlético disputados no Mineirão. Por meio de um termo de ajustamento de conduta, o Ministério Público Estadual de Minas Gerais determinou que, de agora em diante, nos jogos no Estádio Governador Magalhães Pinto entre os dois gigantes mineiros, os torcedores do time “visitante” terão direito a apenas 10% dos ingressos.

A idéia de confinar a torcida do time “visitante” em um pequeno espaço em clássicos não é nova. Foi adotada, por exemplo, em São Paulo desde o Campeonato Estadual desse ano e, se a intenção era resolver os problemas de segurança, ainda não foi possível concluir se a medida produziu ou não resultados na minimização de situações violentas.

A realidade da cidade de São Paulo é diferente da realidade da maioria das cidades brasileiras: lá há três grandes times, Corinthians, Palmeiras e São Paulo, além do Santos, sediado na cidade praiana de mesmo nome, mas com grande torcida na capital estadual. E cada um dos times tem seu próprio estádio (no caso do Corinthians, o Pacaembu é usado como sua casa, mas na realidade não é de sua propriedade).

Em Minas Gerais não é assim. Há dois grandes: Cruzeiro e Atlético. E apenas um estádio, tido como a casa de ambos: o Mineirão. Não passa pela cabeça de nenhum atleticano ou cruzeirense que um dia seu time entrará em campo no Mineirão como se estivesse jogando fora de casa. Por isso este texto tem colocado time “visitante” entre aspas, porque em Belo Horizonte não existe time “visitante” em clássicos, a não ser no papel. O Mineirão, fundado em 1965, é casa de dois gigantes que se enfrentam periodicamente, mas que no fundo precisam um do outro para sua existência. Quem já foi assistir a um clássico mineiro, sabe do que se fala aqui.

Verdade que às vezes uma pequena parcela dos torcedores extrapola essa tentativa de superação e gera cenas violentas. Mas confinar a torcida do time “visitante” em apenas 10% dos assentos do estádio é no mínimo precipitado. A questão da violência no futebol é muito mais complexa e não é com uma medida simplória como essa que as coisas se resolverão. Há problemas estruturais muito mais graves, mas talvez não haja coragem ou vontade de se lidar com eles.

Quando se fala de futebol e violência no Brasil, coloca-se este esporte como se fosse ele o gerador da violência, quando na realidade não passa de apenas mais uma esfera da sociedade onde a violência cotidiana se expressa. O futebol ao mesmo tempo é influenciado por e influencia a sociedade em que é praticado. Outro ponto importante a se destacar é que o tal termo de ajustamento de conduta que limita os ingressos para o time “visitante” preocupa-se prioritariamente com a segurança dos torcedores dentro do estádio (apesar de limitar também agrupamentos de torcedores fora dele). No entanto, as manchetes de jornais nos últimos anos raramente trazem notícias de brigas entre cruzeirenses e atleticanos dentro do Mineirão; a maior parte das confusões ocorre de fato fora dele, muitas vezes a quilômetros de distância.

Pesquisas conduzidas pelo Grupo de Estudos sobre Futebol e Torcidas (GEFuT), da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), com torcedores freqüentadores do Mineirão nos anos de 2006 e de 2007 mostraram que a sensação de segurança que eles têm dentro do estádio é muito grande e que o momento de maior insegurança para eles na realidade é a saída do jogo, nas imediações do Mineirão e nas vias de acesso ao estádio. Por que preocupar-se justamente com o local onde os torcedores se sentem mais seguros: dentro do Mineirão? Não seria essa uma forma de camuflar os reais problemas que contribuem para a violência no futebol? Onde vai terminar isso? Primeiro diminuem a carga de ingressos do time “visitante”. Depois vão querer fazer clássicos com apenas uma torcida. Por fim, pode ser que concluam que o melhor mesmo é não ter torcida nos jogos. Não haverá violência. Nem graça.

Qual é a mensagem que estão passando com essa medida? Ao invés de tentarmos aprender a lidar com as diferenças e coexistirmos, o melhor é “exterminar” o outro, eliminar o diferente, não ter que conviver com ele? Como uma cidade que pretende ser a sede de abertura da Copa do Mundo daqui a cinco anos pode dar um exemplo de intolerância tão absurdo? A Copa do Mundo que transmite (ou tenta transmitir) a imagem de povos unidos e em harmonia terá seu pontapé inicial em um estádio que não consegue sequer comportar torcidas de dois times ao mesmo tempo?

O investimento a ser feito é na educação dos torcedores e não em ações coercitivas que acabam por afastá-lo daquilo que lhe é muito caro, estar ao lado do seu time. Quais escolas já levaram seus alunos a refletirem em suas aulas a questão do torcer? Quais os esclarecimentos são dados ao torcedor sobre seus direitos e deveres? Quando os torcedores serão ouvidos para saberem aquilo que desejam e propõem para o futebol?

Diante do exposto somos favoráveis a revogação do Termo de Ajustamento de Conduta no que diz respeito à redução da carga de ingressos aos torcedores visitantes que limita em 10% do total de ingressos à venda e conclamamos a todos a subscreverem nosso manifesto.


Grupo de Estudos sobre Futebol e Torcidas

Universidade Federal de Minas Gerais

http://gefut.wordpress.com/



COMO PARTICIPAR:


assinando nossa petição online endereçada ao Ministério Público Estadual (MG);
participando dos foruns e debates na nossa comunidade online;
compartilhando o manifesto com os amigos e convidando-os à petição online.






VEJA AQUI ALGUMAS DAS MATÉRIAS VEICULADAS:



“Clássico com torcida única” fica “sem graça”, segundo organizadas

MINEIRÃO VAZIO: MP aprova clássicos de uma torcida só

Torcidas organizadas vão assinar Termo de Ajustamento de Conduta em BH

Dirigente diz que “clássico de torcida única” tem caráter experimental

Clássicos terão 90% dos ingressos para mandante

MP e torcidas se reúnem nesta terça-feira

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