segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Contra "hooligans", PF se articula com polícias do exterior

Embaixadas brasileiras serão orientadas a dificultar visto para torcedores violentos que quiserem vir à Copa de 2014

Ricardo Teixeira usa dados do Pan como argumento para não se preocupar com possíveis ações de violência durante o Mundial do Brasil

ANDRÉA MICHAEL, FLÁVIO FERREIRA, ENVIADOS A FORTALEZA
Folha de São Paulo, sábado, 07 de novembro de 2009

Os principais alvos das ações de segurança na Copa do Mundo do Brasil, em 2014, serão os torcedores violentos. A Polícia Federal vai se articular com suas correspondentes internacionais para mapeá-los.
As embaixadas e os consulados brasileiros, interligados em rede com o Itamaraty, serão orientados a evitar a concessão de visto para este tipo de torcedor. Os que embarcarem terão seus passos monitorados, um modelo testado e bem-sucedido nos jogos do Mundial da Alemanha, há três anos.
Já está em curso, internamente, um mapeamento para identificar torcedores violentos, que deixaram suas "marcas" durante os Estaduais e o Campeonato Brasileiro.
Esse será o público preferencial das ações de segurança durante a Copa de 2014, segundo disse ontem o diretor-geral da Polícia Federal, delegado Luiz Fernando Corrêa. Ele foi um dos participantes do debate de encerramento do 4º Congresso Nacional de Delegados de Polícia Federal, em Fortaleza (CE), que teve como tema ações de segurança em grandes eventos.
Com a experiência de quem coordenou a segurança nos Jogos Pan-Americanos, em 2007, Corrêa também entende como desafio para a Copa a necessidade de manter as cidades em movimento e, ao mesmo tempo, garantir a segurança para a realização dos jogos. "Isolar é perder o espírito de competição. Não podemos trabalhar com a ideia de segregar ou ter áreas de isolamento."
Questionado sobre a situação de violência conflagrada no Rio de Janeiro e da ameaça dos traficantes contra as forças de segurança, Corrêa respondeu: "O tráfico não é um problema do Rio, é problema do mundo".
Quanto à solução do combate à violência, ele disse que as medidas estão sendo tomadas pelo secretário de Segurança do Rio de Janeiro, José Mariano Beltrame, pelo "enfrentamento e não contenção, para empurrar com a barriga o problema".
Presente ao evento, o presidente da CBF (Confederação Brasileira de Futebol), Ricardo Teixeira, declarou não estar preocupado com a segurança na Copa. Disse que, pelos resultados obtidos no Pan-Americano, de 2007, "quando o número de assaltos no Rio, se comparado ao que se tinha na rotina, foi quase a zero", o Brasil terá um bom desempenho.
Teixeira apresentou ontem números do aquecimento previsto para a economia, segundo uma pesquisa feita pela Fundação Getúlio Vargas (FGV).
As expectativas para 2014, diz ele, são de injeção de R$ 155 bilhões na economia brasileira, geração de 18 milhões de empregos e incremento de 20% no número de turistas somente no ano da realização do Mundial.
Convidado a participar do painel, o policial alemão Bernd Manthey, que atuou durante 40 anos na polícia de Berlim e participou das equipes de segurança das Copas de Japão/Coreia do Sul, em 2002, e da Alemanha, disse que o fundamental, além do monitoramento dos torcedores violentos e da cooperação internacional, é desenvolver um trabalho coordenado entre as polícias do país, para que haja agilidade na circulação de informações.
Em entrevista à Folha, o policial alemão disse que, até 2014, "o Brasil deverá passar por um processo de pacificação", o que deverá se dar por meio de investimentos em projetos sociais que motivem a população a se engajar nos preparativos para a Copa, que envolvam os cidadãos com a ideia de serem anfitriões de um grande evento, que dever ocorrer como se fosse a realização de um sonho. "Isso não combina com a violência. É preciso fazer a motivação crescer para não dar espaço para a violência."
Manthey é contrário ao uso das Forças Armadas em ações de segurança nas ruas.
"As Forças Armadas e as polícias não devem estar em primeiro plano, muito visíveis para as pessoas, e, sim, bem preparadas, com estratégias para qualquer situação inusitada, porém sempre em segundo plano", disse o policial alemão.

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