sexta-feira, 27 de abril de 2007

Discussão: "Favela! Favela! Silêncio na favela!", Parte II

27.03.2007, UTB

O artigo “Favela! Favela! Silêncio na favela” (http://torcedoresbrasil.blogspot.com/2007/04/favela-favela-silncio-na-favela.html) provocou uma discussão intensa entre os membros da UTB. A questão principal é se os gritos de “Favela...” são discriminação ou não.
O tricolor carioca Martin acha, que a estrutura do racismo brasileiro se difere do racismo europeu. No Brasil existe muito mais discriminação social, do que racial. Na Europa os racistas exigem: “Estrangeiros fora!”, algo impensável no Brasil. O que é importante para os “racistas brasileiros” é a continuação da hirarquia social, ou seja algo como um lema: “Pobres, continuem servindo”. Esta discriminação social se reflete no grito “Favela..”.
O rubro-negro carioca Marcos concorda com esta opinião. Ele já trabalhou em favelas e sabe das dificuldades, que os moradores dessas regiões passam. “Eu me recusaria a gritar estes cantos. Eles são muito pesados.”
Em oposição a isso o coritibano Leonardo discorda. Ele acha, que o estádio deve ser protegido como um lugar especial em qual podemos nos manifestar numa forma jocosa e extrapolar os limites. “Não devem existir proibições, com uma exceção: gritos racistas. Estes últimos estão proibidos pela lei e o infrator seria preso. O grito ‘Favela...’ não é racismo. Pode ser tido como discriminação fora do estádio, mas num estádio não há como você saber quem é pobre ou rico do outro lado, você só quer gritar contra o seu rival.” Leonardo receia que a classificação destes gritos como discriminatórios possam ter consequências à liberdade da cultura do torcedor no estádio.
O sãopaulino Uyrá concorda com a opinião de que o estádio não deve ser um espaço politicamente correto. Aliás a definição de racismo e discriminação é muito difícil no futebol brasileiro, porque apelidos como macaco do Inter, Urubu do Flamengo e Coxa-Branca do Coritiba têm origens racistas - tanto a negros quanto a brancos - mas foram incorporados. A mesma coisa vale para nomes de jogadores como Somália ou Grafite.
Um outro aspecto é que a favela tem um outro peso no Rio de Janeiro em relação a Curitiba. Quem escuta o grito “Favela..” em Curitiba é a torcida do Paraná, porque o estádio deles fica numa favela. O canto é uma referência teritorial e não puramente social. No Rio isso é diferente com a torcida rubro-negra.
Mesmo, que as opiniões sobre o que é discriminação e o que não é possam diferir, todo mundo concorda que estes gritos não devem ser punidos. Palvrões não devem ser punidos, eles fazem parte do futebol. “Acredito que punir não é a solução, elucidar o torcedor com campanhas promovidas pelos clubes e jogadores seria uma tentativa que poderia surtir mais efeitos positivos.”, diz Uyrá.
Só que para estas campanhas seria necessário saber: quais gritos são discriminação, quais são racismo e quais não são. Por isso surgiu a proposta de um levantamento de canções e gritos de torcedores. Disso poderiamos fazer um catálogo e criar três grupos: claramente não discriminação, duvidoso e claramente discriminação. Os próprios torcedores deveriam votar sobre o que eles consideram discriminação e o que não.

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