por Nirlando Beirão
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Os traficantes fizeram trégua. O Complexo do Alemão baixou nas quadras
Nirlando Beirão
Não há Cristo que dê jeito – nem mesmo aquele lá, monumental, que ganhou status de maravilha – na reputação da torcida canarinho após este Pan do Rio, ainda que sejam candidatos, a torcida e o Brasil, a recepcionar aqui uma Copa do Mundo em 2014.
O, digamos, aperitivo à Copa teve o sabor amargo de uma advertência: competições, vá lá, esportivas no Brasil não primam pelo fair-play e tendem a desandar, para nossos adversários (quase escrevi: inimigos), em aventura de altíssimo risco. Eta paisinho mais sem esportiva.
Houve pancadaria na final do handebol, resposta dos argentinos vice-campeões à provocação gratuita de um de nossos pit boys, perdão, atletas. Aquela coisa bem nossa: desculpa, era só brincadeirinha. Uma das finais do judô feminino também terminou em chega-pra-lá, com a decisiva e lamentável participação de um medalhista olímpico, Aurélio Miguel. A turba malta não concordou com a decisão de um jurado – bastou isso. A bem da verdade, os ânimos estiveram acirrados desde a abertura, naquela vaia alegremente desfrutada por Cesar Maia, o prefeito da arruaça.
No receituário mítico de Pindorama, nem a Bahia serve tão bem quanto o Rio à demonstração daquele propalado estereótipo de nação cordial e carnavalesca – povo alegre, sedutor, receptivo, desprovido de preconceito e incapaz de uma grosseria. Mas, entre Maracanãs e Riocentros, a tigrada do Pan estava muito mais é para Complexo do Alemão.
A cordialidade foi para as cucuias, se é que, na paisagem de violência inaudita e banal do Rio et caterva, alguém ainda acredita nessa cordialidade – de fato, e não apenas da boca para fora, como fazem o professor Roberto da Matta e outros aproveitadores das ficções convenientes.
A sociedade está sempre disposta a culpar “os outros” por aquilo que ela sabe fazer, às mil maravilhas. Promove badernas em estádios e apupa momentos de sublime beleza numa exibição de ginástica, por exemplo, só porque as acrobáticas piruetas envergam uniforme estrangeiro. Ninguém pára para pensar: o resultado não é tudo na vida.
Pessoas sorriem, indulgentes, mas o nome certo é barbárie – e o passo seguinte será queimar mendigos e espancar domésticas em pontos de ônibus?
A histeria do Pan é o cartão de visitas de nosso estilo de hospitalidade. O que faremos com o goleiro argentino que, em plena Copa, defender um pênalti canarinho? Torturá-lo até a morte? Despachá-lo para Guantánamo? Embarcá-lo para Congonhas?
domingo, 29 de julho de 2007
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