terça-feira, 31 de julho de 2007

Petraglia abre o jogo e conta tudo sobre o Atlético

Paraná-online, Rafael Tavares [30/07/2007]

Polêmico, presidente do Conselho Deliberativo assume: ele é quem manda no Furacão.
Mário Celso Petraglia é um homem emblemático. Ame-o ou deixe-o. Não tem meio-termo. Durante quase 4 horas, na manhã de ontem, a Tribuna esteve na casa dele, numa entrevista absolutamente exclusiva. Tocando a vida do Atlético em meio a uma saraivada de críticas, não teve dúvidas ao responder que o Rubro-Negro é, sim, um time de dono. “Eu estou dono do Atlético”, afirmou. Os projetos ambiciosos ainda estão em pauta. Pra ele, nenhum desvio de rota é permitido. E quem não quiser acompanhá-lo que pule do barco. “Sou assim e não vou mudar”, profetiza.
Os assuntos que mais atormentam o torcedor foram tópicos dessa entrevista, que na verdade transcorreu como um bate-papo franco, aberto, em que entrevistado e entrevistador abonaram regras. Um simples gravador em riste mudaria o tom das respostas. Por isso ele foi deixado de lado. Testemunhas do que foi falado? Só as imagens do Sagrado Coração de Maria, que Petraglia mantém, uma pendurada numa prateleira e outra sobre a mesa, bem à sua frente.
Aliás, este mesmo Petraglia que passa uma imagem arrogante, pretensiosa, tem seu lado religioso. Vide a proteção de tela usada no computador: “Deus é luz”. Certamente, esta fé lhe dá forças pra vender seus pensamentos futuristas aos outros, mesmo tendo o adverso como companheiro tão fiel. A propósito, ele mesmo se refere à “forças ocultas”, que teria enfrentado ao longo desses 12 anos à frente do clube. “É o Sobrenatural de Almeida”, brinca, numa referência ao personagem do escritor e dramaturgo Nelson Rodrigues.
Entendê-lo não é uma obrigação, mas uma necessidade. Afinal, é ele quem dirige a paixão de milhares de pessoas. Foi o que tentamos fazer!

O Paranaense

A torcida que vá se acostumando. Entre os principais projetos em curso, está o de firmar uma marca para o clube: Paranaense! Assim, o Atlético-PR quase centenário deve ser chamado, na concepção de Petraglia. “Vá na Argentina e chame o River Plate de Atlético. Ou o Boca Juniors”, justifica. E tem razão de ser. Ambos são “Clube Atlético...” Na página oficial, já se pode conferir as referências, sempre como C.A. Paranaense. “É uma coisa que vem de fora pra dentro. Vamos ver isso de novo agora na Sul-Americana. Somos conhecidos lá fora como Paranaense. Não tem jeito. Atlético é um adjetivo. E se fosse Clube de Futebol Paranaense?”
Como ele vai conseguir isso é um mistério. Afinal de contas, mudar a cabeça dos torcedores, que desde sempre se acostumaram a gritar “Atlético, Atlético...” nas arquibancadas, parece ser uma missão tão complexa quanto implodir um estádio pra erguer outro no lugar. Mas, como Petraglia conseguiu esta façanha, não será surpresa se, dentro de alguns anos, a Baixada for tomada pelo coro “Paranaense, Paranaense...”.
[...]

Arena

Este mês marcará o lançamento do projeto de conclusão da Arena. Serão 40 mil lugares, tudo em conformidade com o Caderno de Encargos da Fifa. Para o presidente rubro-negro, não restam dúvidas de que o Brasil será a sede da Copa de 2014, tampouco de que a bola rolará no estádio do Atlético.
O terreno anexo, onde ficava o Colégio Expoente, já está livre de construções. Apenas uma foi deixada de pé, pra servir de escritório da obra. Uma dificuldade de engenharia terá que ser vencida, sem maiores problemas. Há um declive de 5 metros, da Brasílio Itiberê até o centro do gramado. O projeto de arquitetura já está concluído e os de engenharia estão sendo trabalhados.
A Arena será o primeiro estádio do País sem fosso ou alambrado, nos moldes dos europeus, utilizados nos últimos Mundiais. “É exigência da Fifa. Não tem como escapar”, afirma ele.
Agora, imagine um Atletiba, estádio lotado, Fanáticos e Império presentes, e nada separando os torcedores do campo. “Não sei. É um problema de segurança pública. Os engenheiros ligam a toda hora pra saber o que fazer, se deixam um lugar diferenciado para as torcidas organizadas. Mas não posso conceber isso. Mudar um projeto grandioso, seguindo recomendações internacionais, por causa de torcedores organizados.”
Petraglia diz que não há dinheiro em caixa reservado pra obra, mas garante que os meios de financiamento serão criados. “Não há problema em relação a isso. Estou aqui pra cumprir o que prometi, e costumo cumprir. Estamos em busca de financiamento.” O prazo? Ele deixa escapar, mesmo sem perceber: 3 anos. Até 2010 a Arena deve estar concluída.
[...]

Sócios

“Temos complexo de vira-latas. É uma coisa histórica, antropológica. O Paraná é divido em três. Um, do sul, é muito frio. O outro, no norte, é paulista. E o outro pedaço é gaúcho. É difícil vencer isso. Não acreditam que alguém possa desenvolver algo grandioso.” O ceticismo nas palavras resume as dificuldades que Petraglia diz enfrentar no curso de suas idéias visionárias.
Exemplo disso foram as tentativas de antecipação de receita, seja por carnê ou a atual campanha de sócios. Pouco mais de 3 mil torcedores aderiram. “É uma questão cultural. No Brasil vende-se a idéia de que o futebol é um bem cultural, que tem que ser de graça. O torcedor bate no peito, diz que é atleticano, que quer time, mas faz o que pra ajudar? O atleticano é uma falácia!”

Adversários

Acusam Petraglia de todo tipo de esquema. Que ganha dinheiro com o clube, que o balanço do Atlético apresenta números surpreendentes para pouco resultado prático em campo. Falam até que o seu filho é dono da empresa que vendeu as cadeiras pra Arena. Sobre isso, ele desconversa, sem fugir do embate. “Não tenho rabo preso com ninguém, minha vida é um livro aberto. Investiguem o que quiserem, analisem o balanço do clube. Falar é fácil. Quero ver provar”, defende-se. Cabe a nós investigar. Assim faremos.

Futuro

Hoje, ele já não fala em fazer do Atlético, ou Paranaense, como ele apregoa o melhor clube do Brasil. “Quero que o Atlético seja o melhor do mundo! Mas pra isso é preciso mudar concepções, as pessoas têm que mudar conceitos, ter visão de futuro e ciência de que, pra ter do bom e do melhor no futuro, tem que fazer sacrifício, plantar para colher.” Botar isso na cabeça do torcedor parece ser o maior desafio. Difícil crer que ele entenda uma possível queda à Segundona como parte do plantio para colher louros no futuro.
Terminada a Arena, Petraglia garante que entrega a coroa. “Hoje, é 99% de certeza que eu deixo o Atlético depois de cumprir esta promessa”, afirma. Mesmo assim, uma preocupação pessoal o atormenta. O que vão fazer com tudo depois que o Petraglia sair do Atlético? Presunção demais? Pode ser. Mas ele tem isso em mente. Já fala, até, numa possível fundação, nos moldes do que acontece em outros países em que os clubes funcionam como empresas. Parece ambição demais tentar “blindar” as conquistas edificadas, para que ninguém as destrua. Será que alguém teria motivos ou intenções pra isso? Só o futuro vai responder.

Nenhum comentário: