segunda-feira, 30 de julho de 2007

Torcedor, o filho bastardo da Família Pan

Fora da festa

Publicada em 29/07/2007 às 19h39m, Luciano Terra - O Globo Online

http://oglobo.globo.com/esportes/pan2007/mat/2007/07/29/297028832.asp

RIO - O torcedor, que deveria ser um dos membros mais privilegiados da Família Pan, ficou sem pai nem mãe. Ou na melhor das hipóteses, transformou-se num filho bastardo. Desde o início dos Jogos, enquanto autoridades esportivas, delegações e atletas receberam tratamento vip, o respeitável público, que muitas vezes pagou caro para acompanhar as competições in loco, foi tratado de forma nada respeitosa, com direitos violados pelos organizadores e muitas dores de cabeça. Durante toda a competição, a seção Eu-Repórter do GLOBO ONLINE recebeu uma chuva de e-mails com reclamações dos leitores.
O tal do voucher ganhou a medalha de ouro de mico preto do Pan. Quem comprou o ingresso com antecedência e achou que chegaria na hora da competição apenas para assistir ao seu esporte preferido, levou a pior. Os organizadores, também conhecidos como CO-Rio, colocaram poucas bilheterias (quando não apenas uma) à disposição dos torcedores, que enfrentaram longas filas para fazer a troca do voucher por um ingresso numerado. Teve gente que foi ver a seleção feminina de futebol no Maracanã e só conseguiu entrar no estádio no segundo tempo. Deveria, no mínimo, ter o valor do ingresso ressarcido.
O torcedor que comprou o ingresso com mais antecedência ainda também sofreu. Primeiro, de ansiedade, esperando pelo envio dos bilhetes pelos Correios. A data prometida não foi cumprida e muitos só receberam às vésperas da competição ou não receberam.
- Saí de Natal uma semana antes do início do Pan sem os meus ingressos. Para minha sorte, deu tempo de minha mulher enviar para São Paulo, onde passei antes de vir para o Rio - contou André Fernandes Bastos, que comprou ingressos para ver as meninas do vôlei e a ginástica artística.
Depois, sofreu com a troca do lugar marcado ou com o horário errado. No último dia de competição, por exemplo, muitos torcedores que foram à Arena Multiuso assistir ao time masculino do Brasil conquistar o ouro no basquete tiveram que enfrentar uma longa fila para tentar reparar um erro. É que compraram ingressos para um local nobre (R$ 120) e estavam sendo "jogados" para os piores lugares (R$ 60). Nas apresentações da ginástica artística, o mesmo problema:
- Comprei duas entradas para a final da ginástica artística feminina. Optei pelo ingresso mais caro (R$ 120,00), para ficar mais próxima da competição. Fui surpreendida ao chegar lá, pois nos mandaram para a arquibancada. Reclamei e nos informaram que poderíamos ficar em qualquer assento. Escolhemos dois vazios e tivemos que sair, pois os donos dos lugares chegaram. Foi assim durante toda a competição! - reclamou a leitora Claudia Barbosa de Moura, em e-mail enviado à seção Eu-Repórter.
O pior é que nos ginásios, geralmente os locais de visão privilegiada, como os centrais, ficaram vazios, como na final feminina do vôlei. Enquanto do lado de fora a informação era que os ingressos estavam esgotados. Este foi outro mistério com o CO-Rio não soube desvendar.

Além disso, nos jogos de vôlei, no Maracanãzinho, houve o problema com os ponteiros do relógio. Os torcedores compraram ingressos para as semifinais levando em conta os jogos do Brasil. Na hora da troca do voucher, receberam bilhetes para as partidas da tarde, enquanto a seleção brasileira jogaria à noite. A confusão nos portões do Maracanãzinho foi inevitável, com os policiais usando até gás de pimenta para aplacar a ira daqueles que deveriam ser recebidos com tapete vermelho.
Mesmo quem chegou ao local de competição sem enfrentar qualquer problema não se livrou de chateações. Como somente no fim do Pan uma liminar permitiu que as pessoas levassem lanche de casa, os torcedores ficaram reféns dos serviços de uma única rede de lanchonetes, que não funcionava direito.
- Fiquei mais de uma hora na fila do Bob's e ao chegar ao balcão descobri que várias das fichas que comprei se referiam a produtos que não estavam disponíveis - contou Patrícia Maia José, também por e-mail.
Mas, mesmo diante de tantos obstáculos, o torcedor provou que é "brasileiro, com muito orgulho, com muito amooor" e não deixou de dar um show nas arquibancadas.

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