sábado, 4 de agosto de 2007

ATIVISTAS CLASSIFICAM COMO ‘SEGREGACIONISTA’ E ‘HOMOFÓBICA’ SENTENÇA DE JUIZ SOBRE O CASO DO JOGADOR SÃO-PAULINO RICHARLYSON

03/08/2007 – 13h00

http://www.agenciaaids.com.br/noticias-resultado.asp?Codigo=8066

Futebol e homossexualismo são incompatíveis. Essa é a opinião do juiz Manoel Maximiano Junqueira Filho, de acordo com a Folha de S. Paulo desta sexta-feira (03/08). O magistrado rejeitou queixa-crime apresentada pelo jogador são-paulino Richarlyson contra o diretor administrativo do Palmeiras, José Cyrillo Jr. O atleta entrou na Justiça após o dirigente palmeirense ter citado o seu nome, em um programa de televisão, quando indagado sobre a questão do homossexualismo no esporte. Em sua sentença, o juiz classifica o futebol como um “jogo viril, varonil, não homossexual.” No mesmo documento, o representante do poder judiciário avalia que, no caso do atleta ser homossexual, “melhor seria que abandonasse os gramados.” "Não que um homossexual não possa jogar bola. Pois que jogue, querendo. Mas forme seu time e inicie uma Federação”, acrescenta o magistrado Manoel Maximiano Junqueira Filho. Ativistas do movimento gay reagiram com indignação e espanto ao teor da sentença do juiz paulista. Estapafúrdia, chocante, homofóbica, absurda e segregacionista foram alguns dos termos usados para classificar os argumentos explicitados pelo magistrado.“A gente tem que se manifestar veementemente contra isso”, avalia Nelson Matias Pereira, presidente da Associação da Parada do Orgulho de Gays, Lésbicas, Bissexuais e Transgêneros de São Paulo, que atualmente é considerada a maior do mundo. Ele qualifica o juiz como “tosco” e “homofóbico”. Sobre o teor da sentença, Pereira a classifica como “inacreditável”. “É de uma infelicidade tremenda”, acrescenta.

“Nós não temos nada contra os gays, desde que ele fique no lugar dele. Meu lugar é na sociedade”, afirma Nelson Matias Pereira, sobre argumentação comumente usada por conservadores para negar qualquer tipo de preconceito em relação a opção ou preferência sexual alheia.

Para o presidente da associação que promove a Parada Gay paulistana, seguindo-se a sugestão do juiz, de separar jogadoes homossexuais dos demais, seria necessário fazer o mesmo em “um posto policial, uma padaria, uma oficina”, afinal, existem homossexuais em todos os lugares.

Nelson Matias Pereira avalia que as pessoas ainda não abadonaram os “estereótipos” em relação aos homossexuais. “As homossexualidades são muitas”, diz. “Tem milhares de gays que jogam bola e isso não os impede de dormir com outro homem”, explica o atual presidente da associação fundada em 1999 (saiba mais).

Igo Martini, coordenador-executivo do Projeto Aliadas e integrante do Grupo Dignidade, se diz “espantado” e “atônito” com o teor da sentença do juiz Manoel Maximiano Junqueira Filho. Ele a classifica como “excludente” e “totalmente homofóbica”. “O Projeto Aliadas vai tomar providências sim”, adianta Martini.

Intitulado Aliadas, o projeto coordenado por Igo Martini é uma iniciativa da Asssociação Brasileira de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Transexuais e Travestis (ABGLT) e tem como objetivo estabelecer “um ambiente favorável no Congresso Nacional a fim de apresentar e apoiar a tramitação e aprovação de proposições legislativas e de propostas orçamentárias que garantam a cidadania plena e a consolidação de direitos de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais” (saiba mais). A inicitiva da ABGLT é executada pelo Grupo Dignidade, do qual Martini faz parte.

Embora considere a sentença do magistrado paulista como “discriminatória” e “absurda”, o ativista do Grupo Dignidade (acesse o site da entidade) lembra que a queixa-crime apresentada por Richarlyson já teria sido uma atitude homofóbica “da parte dele.” Afinal, o jogador são-paulino se portou como se tivesse “sido acusado de um crime.”

“Ela [a sentença] é homofóbica. Ela está desprovida de uma neutralidade. Fiquei indignado com esse parecer”, afirma Marcelo Cerqueira, vice-presidente do Grupo Gay da Bahia (GGB). “É absolutamente segregacionista”, acrescenta.

Por estar, segundo Cerqueira, “promovendo esse tipo de discórdia”, o juiz deve ser “denunciado as cortes internacionais”. “Tem que ser denunciado. Responder processo administrativo”, pede.

“O Richarlyson deveria sim processar o outro [o dirigente palmeirense] porque ele falou no sentido de desqualificar o jogador”, diz Marcelo Cerqueira. “É procedente neste tipo de situação”, avalia.

O vice-presidente do GGB (acesse o site do grupo) também defende que, por causa desse documento “chocante” e “estapafúrdio”, o juiz Manoel Maximiano Junqueira Filho deva participar de um curso de 200 horas para que ele aprenda a respeitar os direitos dos homossexuais. Abaixo, a matéria publicada na Folha de S. Paulo desta sexta-feira (03/08).

"Futebol é varonil, não homossexual"

Juiz rejeita queixa-crime de Richarlyson e escreve que "esta situação, incomum, do mundo moderno, precisa ser rebatida"Sentença é considerada "homofóbica" por advogado do jogador, que recorre e pede processo disciplinar contra o magistrado no CNJ

MARIANA BASTOS, RICARDO PERRONEDA REPORTAGEM LOCAL

Depois de gerar polêmica no futebol, o episódio que envolve o são-paulino Richarlyson e o diretor administrativo do Palmeiras, José Cyrillo Jr., ganhou contornos mais agudos na Justiça. A queixa-crime apresentada pelo volante contra o cartola foi arquivada pelo juiz Manoel Maximiano Junqueira Filho, que, em sua sentença, classifica o futebol de "jogo viril, varonil, não homossexual".

O jogador foi à Justiça após o dirigente citar o seu nome ao responder uma pergunta sobre homossexualismo no futebol em programa da TV Record.

A Folha teve acesso ao despacho de quatro páginas no qual o magistrado relaciona os motivos para o arquivamento, no último dia 5 de julho.

No documento, o juiz sugere que, se [o atleta] fosse homossexual, "melhor seria que abandonasse os gramados". Em outro trecho, Junqueira Filho diz que "quem se recorda da Copa do Mundo de 1970, quem viu o escrete de ouro jogando (...) jamais conceberia um ídolo ser homossexual".

A seguir, ele afirma: "Não que um homossexual não possa jogar bola. Pois que jogue, querendo. Mas forme seu time e inicie uma Federação". Por fim, Junqueira Filho utiliza uma estrofe popular antes de proferir a sentença: "Cada um na sua área, cada macaco no seu galho, cada galo em seu terreiro, cada rei em seu baralho. É assim que penso".Renato Salge Prata, um dos advogados de Richarlyson no caso, já entrou com uma apelação contra a decisão do juiz. Ele também encaminhou reclamação contra Junqueira Filho ao Conselho Nacional de Justiça. Alegou homofobia por parte do juiz e espera que ele responda a processo disciplinar.

O advogado também pediu para que, se o caso for reaberto, não retorne ao mesmo juiz. "Foi uma decisão esdrúxula e homofóbica. Ele confundiu juiz de direito com árbitro de futebol", afirmou Prata. Richarlyson assinou a apelação, mas seus advogados não lhe mostraram a sentença. Avaliam que seu conteúdo poderia perturbar o jogador. "É um assunto que precisa ser conversado com tempo."Cyrillo Jr. disse que não sabia da decisão. "Uns dois dias depois, fui ao mesmo programa de TV e me retratei, dei minhas explicações, nunca o chamei de homossexual. Então, não há motivo para um tête-à-tête", disse o cartola. A Folha tentou entrar em contato com o juiz logo após ter acesso ao documento às 18h30 de ontem, mas o fórum dispensou todos mais cedo devido à greve do metrô em SP. Ainda tentou contato por intermédio de familiares, mas não conseguiu. A assessoria do TJ também não atendeu as ligações.

A polêmica que envolve Richarlyson teve início no final de junho. Indagado no programa "Debate Bola", da Record, sobre a possibilidade de haver um atleta homossexual no elenco palmeirense disposto a assumir publicamente sua condição, Cyrillo começou a responder dizendo: "O Richarlyson quase foi do Palmeiras".

A pergunta surgiu dias após a coluna Zapping, do jornal "Agora", informar, sem citar nomes, que um atleta de um grande clube paulista estaria negociando com a Globo para assumir a homossexualidade.Após as declarações de Cyrillo Jr., os advogados entraram com uma queixa-crime contra ele com base no artigo 22 da Lei de Imprensa, que trata de injúria por meio da mídia. A pena prevista é de detenção, de um mês a um ano, ou multa de até dez salários mínimos.

Léo Nogueira

DICA PARA ENTREVISTA:

Associação da Parada do Orgulho GLBT de São PauloTel.: (0XX11) 3362-2361E-mail: paradasp@paradasp.org.br

Grupo DignidadeTel.: (0XX41) 3222-3999

Grupo Gay da Bahia (GGB)Tel.: (0XX71) 3321-1848 / 3322-2552/2176

Um comentário:

Anônimo disse...

Cada macaco no seu galho,
Cada galho em seu terreiro,
Cada rei no seu baralho!

Falou e disse o Douto Magistrado !