terça-feira, 30 de outubro de 2007

Copa-14 antecipa "Copa-10", a eleição

Folha de São Paulo

Em Zurique, presidenciáveis revelam estratégias políticas para o Mundial que será entregue ao Brasil, hoje, pela Fifa

Serra quer Maracanã na final, enquanto Aécio Neves deseja a seleção em BH e promete que a obra do Mineirão será a 1ª concluída

CLÓVIS ROSSIENVIADO ESPECIAL A ZURIQUE
A Copa de 2014, que será no Brasil, acabou funcionando como uma espécie de motor de arranque para a "Copa de 2010" também no Brasil, ou seja, a eleição presidencial.
Exemplo concreto: pouco antes das sete da noite fria de Zurique (perto das 16h em Brasília), o governador de São Paulo, José Serra (PSDB), conversava com jornalistas na cafeteria do Hotel Marriott quando entrou seu colega de Minas Gerais -e de partido, Aécio Neves.
Um jornalista provocou Aécio: "Você não tem idéia do que ele [Serra] estava falando de você". Aécio, rápido: "Só podia estar falando bem, pois sabe que sou seu grande cabo eleitoral".Brincadeira ou não, mostra que só naquele momento havia dois atores relevantes do processo eleitoral de 2010, um como candidato à Presidência, outro como cabo eleitoral.
Hoje, chegam mais dois nomes sempre citados como presidenciáveis: a ministra do Turismo, Marta Suplicy, e o governador da Bahia, Jaques Wagner, que vêm no avião do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Convidado, outro presidenciável, o deputado Ciro Gomes, preferiu deixar a representação do Ceará para seu irmão, o governador Cid Gomes.
Sempre no Marriott, onde todos os convidados da CBF se hospedam (quase R$ 600 a diária mais barata), estava também Sérgio Cabral (PMDB), governador do RJ, que entra menos freqüentemente e mais discretamente na relação de eventuais candidatos. Mas entra.
O que os governadores estão realmente disputando, por enquanto, é a Copa de 2014. Ou, mais exatamente, a fatia dela que caberá a cada um.
Aécio Neves, por exemplo, quer o jogo de abertura e que Minas Gerais seja a sede do grupo do Brasil. "Minas pensa alto", admite ele, que promete que "o Mineirão será o primeiro estádio a ficar pronto para a Copa, já no início de 2010".
O dinheiro viria de uma PPP (Parceria Público Privada) ainda em fase de formatação. O governador vê no Mineirão "uma excepcional localização" e uma vantagem sobre praticamente todos os demais estádios brasileiros: tem estacionamento (exigência, aliás, da Fifa).
Aécio confia em que o jogo Brasil x Argentina pelas eliminatórias da Copa de 2010 seja disputado no Mineirão. Se o for, como tudo leva a crer, aproveitará para inaugurar dois telões. Em seguida, o estádio fecha para obras.
O mineiro coincide com seu amigo-rival José Serra em jogar a final de 2014 para o Maracanã. Serra diz que sua única "proposta concreta" é a final no Maracanã, mas, no seu caso, trata-se de cálculo interessado: se a final for no Maracanã, São Paulo fica mais à vontade para pleitear o jogo inaugural.
E jogo inaugural, segundo os cálculos do governador paulista, traz mais benefícios para a cidade que o organiza.
De todo modo, Serra não tem muita certeza sobre os benefícios econômicos que organizar uma Copa traz para o país-sede. Aliás, veio lendo no avião trabalhos acadêmicos sobre o tema e terminou convencido de que "os impactos econômicos são geralmente superestimados".
Mas este impacto não é tudo. Uma Copa produz "ganho em autoestima, em amor próprio e em nacionalismo, que, aliás, não se usa muito no Brasil".
O governador paulista está convencido de que, "em dois ou três anos", se fazem todas as obras físicas necessárias para a Copa, o que significa dizer que caberá ao seu sucessor tocá-las, a menos que se candidate à reeleição, na hipótese de que Aécio Neves, em vez de seu cabo eleitoral, seja o candidato presidencial do PSDB. Os dois juram que estarão juntos em 2010.
Já Blairo Maggi, o governador do MT, é humilde na reivindicação: quer só levar jogos para Cuiabá, na certeza de que o Estado não tem tradição no futebol para ganhar jogos simbólicos como final e o inaugural.
Também por essa razão, o estádio da cidade terá que ser reformado com dinheiro público, já que não há na capital matogrossense um clube com o porte do São Paulo, disposto a bancar a reforma do Morumbi.
Maggi condena qualquer tentativa de politizar a Copa de 2014.
"Tem que ser apolítica. Se começar a pôr política no meio, não vai dar certo, não", afirma.

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