segunda-feira, 29 de outubro de 2007

Disputa pela Copa expõe rixas entre os Estados

Folha de São Paulo

CATIA SEABRADA REPORTAGEM LOCAL
Não é à toa que oito governadores acompanham o presidente Luiz Inácio Lula da Silva na viagem que selará, na terça, a escolha do Brasil como sede da Copa de 2014. Interessados nos dividendos econômicos e eleitorais, 18 Estados brasileiros se lançaram numa acirrada disputa pelo direito de abrigar os jogos. Aqui ou em Zurique, a marcação será homem a homem.
Em disputa, não só os eventos simbólicos - como abertura e final - mas também os de maior rentabilidade. No máximo 12 cidades serão escolhidas. Os governadores de São Paulo, José Serra (PSDB), e do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), se apresentam, numa dobradinha, como anfitriões naturais para festas de abertura e encerramento. À comitiva de inspeção da Fifa Serra até sugeriu que o Rio fosse palco da final por guardar, desde a derrota em 1950, um grito na garganta.
"O governador Serra e eu acreditamos que São Paulo é a cidade que abre e o Rio a que fecha [a Copa]", afirma Cabral.Mas, sob o argumento de que "não há Copa em que a capital do país não tenha sido centro dela", o governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda (DEM), reivindica a abertura. Arruda sabe que São Paulo também a quer.
"Em 2014, Serra estará aqui [em Brasília]. Vai ser mais fácil para ele", brinca.Fora as atividades de maior visibilidade, a sede da Fifa e do centro de mídia são alvo da cobiça de governadores e prefeitos. Sem chance de abrir ou encerrar a Copa, Minas reivindica receber os jogos do Brasil ou hospedar o centro de mídia.O prefeito do Rio, Cesar Maia (DEM), reage: "Por mais que o [governador de Minas] Aécio [Neves] seja amigo do Ricardo Teixeira, a escolha de São Paulo e Rio é inevitável. Isso não é brinquedo, não".
Além de exaltar a infra-estrutura das duas cidades, Maia afirma que os participantes de eventos como a Copa buscam "impessoalidade" na vida noturna -"coisas de cotidiano dos machos". Em Belo Horizonte, diz, essa impessoalidade não existe. Prometendo "festas mais bonitas que as do Maracanã", o secretário de Esportes mineiro, Gustavo Corrêa, contra-ataca: "Minas não tem os mesmos índices de violência que São Paulo e Rio".
Ao saber das pretensões de Minas, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), ironiza. "Também quero. Temos infra-estrutura hoteleira e estamos na cena cultural. Pelo menos, temos mar.
"Coordenador da comissão montada por Serra para organização da Copa, o presidente do Anhembi, Caio Carvalho, alega que Rio ou São Paulo deve abrigar o centro de mídia por concentrar as rotas aéreas do país. "Se dependesse só de vontade política, todas as rotas iriam para Brasília", afirma.Até a aliança Rio-São Paulo acaba quando o assunto é o centro de mídia. Os dois Estados querem recebê-lo.
Entre políticos, não há dúvida do efeito eleitoral do evento. "Disse a ela [governadora Ana Júlia Carepa]: trazer os jogos da Copa é garantia de reeleição", afirmou a secretária de Esportes do Pará, Lúcia Penedo.
Potencial candidato à Presidência, Serra estará com Lula em Zurique na terça. Informado por Arruda sobre os integrantes da comitiva, Aécio também decidiu viajar. Marcação homem a homem.

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