domingo, 28 de outubro de 2007

O orçamento é dinâmico

Brasil receberá Copa 2014 sem saber quanto vai gastar

Domingo, 28 de Outubro de 2007 10:20

http://www.maracaju.news.com.br/esporte/view.htm?id=86850&ca_id=8

Responsável pela consultoria financeira do Comitê Organizador da Copa do Mundo de 2014, o ex-presidente do Banco Central, Carlos Langoni, está certo de que o País tem condições de realizar uma Copa do Mundo sem o desperdício de recursos públicos. Porém, às vésperas do anúncio do país sede da Copa do Mundo de 2014 - o Brasil concorre como candidato único -, admite, em entrevista exclusiva ao Terra, não saber qual será o tamanho da conta. "Não existe um orçamento ainda. O que há de efetivo é o orçamento do Comitê Organizador e uma avaliação do gasto com os estádios", afirma. Segundo ele, o montante que caberá ao governo, de recursos para obras de infra-estrutura, só será definido a partir do final do ano que vem, quando serão definidas as sedes do torneio. Na sua opinião, o principal papel do governo é criar um marco regulatório que atenda as exigências da Fifa, o que abrirá caminho para que os investidores se interessem pelas obras e assim invistam por meio de PPPs (Parcerias Público Privadas). "Essas obras seriam realizadas de qualquer maneira. A Copa do Mundo só vai fazer com que elas sejam aceleradas", diz.
Sobre a realização do Mundial, ele afirma que os brasileiros, às vezes, sentem "complexo de inferioridade". Segundo ele, o Brasil vive um momento único na economia e está certo de que isso fará com que o País não tenha dificuldades em encontrar investidores para o projeto. Para embasar o seu pensamento, cita a estimativa do Banco Central, de US$ 30 bilhões em investimento estrangeiro direto no Brasil em 2007.
Langoni afirma que ter administrado o Banco Central entre 1980 e 1983, durante o governo do general Figueiredo, foi uma missão muito mais delicada do que a do seu colega Henrique Meirelles, que está no cargo desde o início do primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2003. "Naquela época, eu não tinha 'reservas'. O Meirelles está em uma situação muito mais confortável", diverte-se. "Aliás, ele está fazendo um grande trabalho".

Leia abaixo os principais trecho da entrevista:
Terra - O Brasil se compromete a entrar em um negócio sem saber quanto vai gastar lá na frente. Essa é a questão que todo mundo quer entender. Quem garante que essa conta não vai ficar por pagar?
Langoni - Não existe um orçamento ainda. O que há de efetivo é o orçamento do Comitê Organizador, em torno de US$ 400 milhões (R$ 720 milhões), e uma avaliação do gasto com os estádios, em torno de US$ 1,2 bilhão (R$ 2 bilhões), que virão, respectivamente, da Fifa, e da iniciativa privada. Do ponto de vista do comitê organizador, não vai haver erro. Porque o nosso orçamento é esse aí de US$ 400 milhões e não vai haver muita mudança. Esse é um dado, é uma parcela pequena. O restante, é realmente atrair, criar condições para que grupos privados façam os investimentos necessários. O que eu posso dizer é que o interesse demonstrado pelo setor privado é enorme. E nós nem começamos ainda. Porque é evidente que o setor privado só vai se manifestar quando tiver certeza que o Brasil vai ser selecionado. O jogo começa no ano que vem. Na verdade um pouco antes, porque a seleção das sedes pela Fifa vai depender do compromisso e da certeza de que esses Estados vão atender esse requisito básico, que é ter estádios modernos e infraestrutura adequada.
Terra - Mas não há nenhuma estimativa de quanto custará a competição?
Langoni - O processo é dinâmico, nós fizemos um trabalho agora. Nós aproveitamos esse período entre março e outubro para detalhamos o máximo possível todos os componentes de custo de uma Copa do Mundo. Um trabalho bastante complexo. Eu tinha uma equipe trabalhando comigo, ajudando a definir o orçamento da maneira mais realista possível. Mas é lógico, é um orçamento, para você ter uma idéia, para 2014. É um orçamento inclusive que é distribuído ao longo do tempo e os gastos aumentam em 2013 e 2014, quando de fato começam a acontecer os eventos.
Terra - Quem são os interessados nessas obras. Investidores brasileiros, estrangeiros?
Langoni - Hoje você tem já vários consórcios sendo organizados, de dentro e de fora. E nós, apesar de não termos iniciado esse trabalho, porque uma das funções do Comitê Organizador é incentivar e estimular e atrair investimentos privados para as cidades que vierem a ser selecionadas, já temos notícias de muita gente interessada.
Terra - O senhor vê o Brasil preparado para um desafio desse tamanho?
Langoni - Eu acho que as pessoas, às vezes, tem um complexo de inferioridade. Acham que o Brasil não tem condições de fazer uma Copa do Mundo. Não tem condições por quê? Nesse modelo que nós estamos colocando aqui, em que a contribuição principal do governo, isso aliás já foi assegurado pelo presidente Lula, pelo governo atual e pelos governos estaduais, é criar um marco regulatório que atenda as exigências da Fifa. Recursos públicos vão ser aqueles investimentos que teriam de ser realizados de qualquer maneira, o que aconteceu na Alemanha, por exemplo. O novo aeroporto de Munique foi construído para atender a Copa do Mundo. Então, anteciparam o cronograma.
Terra - O senhor já foi presidente do Banco Central. Estaria tão tranqüilo assim se ainda fizesse parte do governo?
Langoni - Fui presidente e "sem reservas" (risos). É um projeto complexo. O Meirelles está numa situação muito mais confortável. Aliás, fazendo um grande trabalho. Outra coisa importante, é que eu me beneficio da experiência que a Fifa tem. A Fifa já fez quantas Copas do Mundo? É um processo de aprendizado. Nós estamos aprendendo com a Fifa. Você precisa ter uma equipe séria, competente, que saiba trabalhar com planejamento financeiro. O orçamento é dinâmico, revisado de acordo com a sua execução. Teremos de prestar contas a cada três meses. O importante é que há um comprometimento total. O Brasil só sai ganhando com esse projeto. Depois fica uma herança para o próprio futebol brasileiro.
Terra - Na sua opinião, quais os pontos em que o Brasil precisa trabalhar mais para cumprir o que foi acordado no caderno de encargos com a Fifa?
Langoni - Eu acho que é na questão dos estádios, que hoje, não teriam condições de receber nenhum jogo do Mundial. Na infra-estrutura, o maior desafio do Brasil, em algumas regiões é o transporte. A questão energética, eu acho que vai ser superada. O problema principal do Brasil que vai ter de ser equacionado, e é prioridade hoje de qualquer governador, é a segurança. Então, eu acho isso uma grande contribuição que a Copa do Mundo pode nos dar. Então você vê. O Pan, nesse ponto de vista (da segurança) foi um verdadeiro sucesso. Eu acho que o Brasil, em matéria de grandes eventos, sabe muito bem administrar. É uma Copa organizada no País inteiro. Até lá, vamos ter de avançar na área de segurança pública que é um grande desafio para o dia-a-dia do cidadão brasileiro.
Terra - O que o modelo brasileiro terá de diferente dos apresentados até hoje por outros países que sediaram um Mundial?
Langoni - De uma certa forma, o modelo brasileiro de Copa do Mundo de 2014 é um modelo inovador, porque ele vai privilegiar o investimento privado. E aí há uma coincidência favorável, que é importante que o público entenda. Primeiro, toda a administração da Copa, que a gente chama de gestão do evento, é 100% financiada pela Fifa. Não há um centavo de recursos públicos, ou seja, o comitê organizador da Copa... Hoje eu trabalho no Comitê de candidatura. A partir da aprovação, ou seja, de terça-feira, você tem a transição do Comitê de Candidatura para o Comitê Organizador.
Redação Terra

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