segunda-feira, 29 de outubro de 2007

Fome de bola

São Paulo, quinta-feira, 25 de outubro de 2007

comida

Roteiro da baixa gastronomia em estádios destaca tropeiro do Mineirão e sanduíche de pernil de SP

LUCAS NEVESMARCO AURÉLIO CANÔNICODA REPORTAGEM LOCAL
É certo que o futebol, dentro das quatro linhas, é dado a metáforas culinárias, do frango engolido pelo arqueiro desavisado ao chocolate aplicado no adversário. Mas se, na arquibancada, bate a fome no torcedor, o que os estádios têm a oferecer? Na reta final do Campeonato Brasileiro, a Folha foi às arenas dos líderes apurar.Nas barracas que margeiam o Mineirão (dividido pelo terceiro colocado, Cruzeiro, e pelo Atlético-MG), o protocolar churrasquinho não é páreo para a "pièce de résistance" do "cardápio", o tropeiro -que leva feijão com farinha de mandioca, arroz, bacon, lingüiça, pernil, torresmo, couve, ovo, salsa e cebolinha. Da Barraca da Jaq, saem de 80 a 100 porções por jogo. "Os atleticanos é que gastam. Cruzeirense é chorão!", atiça Jaqueline Ferraz.Já dentro do estádio, a clientela fiel é a azul, segundo a cozinheira Neusa Madeira, que chega a cozinhar 40 kg de feijão por partida. "Cruzeirense compra mais. O atleticano nem olha para trás se o time perde."O tropeiro faz sucesso também entre os visitantes. "Os corintianos comem muito. E os paranaenses falam que, se fosse para lá, ganharia muito dinheiro", diz Ivanir Ferreira, da barraca em frente ao portão 13.Quem bate ponto ali é o vigilante Sérgio Fernandes, 28, que alfineta a concorrência. "Comi o lá de dentro [do Mineirão] uma vez e estava "envenenado"." O advogado Marcelo Coura, 29, discorda: "Hoje, não almocei para vir comer o tropeirão. O de dentro é sagrado."
Pernil paulistano
Em volta do Morumbi (casa do líder, São Paulo), num "centro gastronômico" de 18 barracas, só se vê uma imagem: a da chapa em que repousa um enorme pernil de porco, base do sanduíche que é o hit dos estádios paulistanos. "O povo não muda: sanduíche de pernil é a comida do estádio. Temos de calabresa também, mas não gostam tanto", diz dona Maria, da Barraca do Orlando.Quando um cliente pede um sanduíche, o pernil é fatiado e a seus pedaços são acrescidos tomate, repolho e cebola picados, além de um molho de limão com alho e, por fim, shoyu.A mistura é saboreada por gente como o gráfico Luiz Carlos Souza, 38, abordado quando dizia a um amigo ir ao estádio mais pela comida do que pelo jogo em si. "O sabor da chapa usada não tem igual", explicou.Dentro da arena, o Habib's (patrocinador do time) é a única lanchonete licenciada e oferece quibe, esfihas e torta de queijo e goiabada. Há também picolés Kibon e amendoins de todo tipo (japonês, doce, descascado), que vendedores gaiatos anunciam como "Viagra".Malícia pouco vista nos arredores do Palestra Itália (do vice-líder Palmeiras), onde espetinhos e sanduíches de pernil e calabresa disputam a preferência com a oferta mais "substancial" dos botecos (macarrão, pizza e carnes à parmegiana), degustada e aprovada pelo estudante André Bambino, 18. "Dá para almoçar em casa e fazer o segundo tempo aqui."No interior do estádio, o grupo Dias detém o monopólio da comercialização de alimentos (hambúrgueres, cachorros-quentes, pipoca, salgadinhos e churros). Com negócios também no Morumbi e no Pacaembu, o sócio-proprietário, Renato Dias, não se compromete: "Torço para qualquer time".
Codorna no Maracanã
Embora nenhum time carioca esteja no topo da tabela, a reportagem abriu uma exceção e visitou o Maracanã em nome da tradição do estádio. Pois foi uma decepção: o local deixa a desejar no quesito "junk food".Ao redor do estádio, vans vendem cachorro-quente com batata palha e ovo de codorna -mas sem o purê que acompanha o lanche em SP. Barraquinhas com amendoim e coquinho (pedaços de coco) doces também pipocam aqui e ali, além dos churrasquinhos -a calabresa dá lugar ao salsichão.Dentro do estádio, biscoitos de polvilho e o mate gelado são a pedida -que, cá para nós, está longe de encher barrigas cariocas ou visitantes.

ZONA DO AGRIÃO
Veja os "cardápios" de quatro estádios

MINEIRÃO
Escalação: no entorno do estádio, churrasquinhos variados (R$ 2,50), sanduíche de pernil (R$ 3) e tropeiro (entre R$ 4 e R$ 6). Na parte interna, bolinhos de feijão (R$ 0,50) vendidos por ambulantes; nos bares, tropeiro (R$ 5), porção de torresmo (R$ 2), sanduíche de lombo (R$ 2) e mais churrasquinhos sortidos (R$ 2)
Gol de placa: o tropeiro, em qualquer variação, na marmita ou no prato
Endereço: av. Antônio Abrahão Caram, 1001, Belo Horizonte
Próximo jogo: Cruzeiro x Atlético-PR, sábado, dia 27, às 18h10

MARACANÃ
Escalação: é o mais enxuto. Na área externa, os churrasquinhos de praxe (R$ 3) dividem as atenções com barraquinhas de salsichão (R$ 2), cachorro-quente (R$ 2) e amendoim doce (R$ 1). Dentro do estádio, o cardápio é reforçado pelo tradicional biscoito de polvilho Globo (R$ 2), pipoca e picolés. O Matte Leão (R$ 2), ícone da carioquice, refresca a torcida
Gol de placa: a dupla mate/ biscoito de polvilho
Endereço: av. Maracanã, s/ nº, Rio de Janeiro
Próximo jogo: Fluminense x Atlético-MG, sábado, dia 27, às 18h10

MORUMBI
Escalação: coxinha de frango (R$ 0,50), sanduíches de pernil e calabresa (R$ 5), cachorro-quente (R$ 2,50), espetinho de carne e calabresa (R$ 2; três por R$ 5) são as opções da "praça de alimentação" informal que surge nas imediações do estádio a cada partida, com duas dezenas de barraquinhas ladeadas por mesas e cadeiras. O interior da arena é domínio compartilhado pela rede Habib's e pelos sorvetes Kibon
Gol de placa: sanduíche de pernil
Endereço: pça. Roberto Gomes Pedrosa, 1, São Paulo
Próximo jogo: São Paulo x América-RN, quinta, dia 31, às 21h45

PALESTRA ITÁLIA
Escalação: no entorno (onde é proibido montar barracas), pacotes de amendoim (R$ 1) churrasquinhos (R$ 2), sanduíches de pernil e calabresa (entre R$ 4 e R$ 5) disputam espaço em bancadas improvisadas. Nos bares, para bolsos mais forrados, vende-se macarrão (R$ 8, no bar Alviverde), feijoada (R$ 10) e pizza (de R$ 8 a R$ 14). Passada a catraca, o cardápio (montado pela empresa que detém o monopólio da alimentação no estádio) inclui churros (R$ 3), pipoca (R$ 2), hambúrguer (R$ 3), cachorro-quente (R$ 3), salgadinhos (R$ 3) e sorvete (R$ 3)Gol de placa: como no Morumbi, a pedida é o lanche de pernil dos arredores
Endereço: rua Turiassú, 1.840, São Paulo
Próximo jogo: Palmeiras x Juventude, sexta, dia 1º, às 20h30

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