segunda-feira, 29 de outubro de 2007

Suíça coroa reabilitação de cartola

Folha de São Paulo

Teixeira troca escudo do baixo clero do Congresso por convivência com governadores e com o presidente da República

Para assessor de Serra, ficar fora da foto do anúncio oficial da Fifa, em Zurique, na terça-feira, significará prejuízo eleitoral certo

JOSÉ ALBERTO BOMBIGDA REPORTAGEM LOCALO
Ricardo Teixeira que terça-feira estará com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e com os governadores tucanos José Serra (São Paulo) e Aécio Neves (Minas) em Zurique é o mesmo que em 2001, devassado por duas CPIs no Congresso, tinha na linha de frente de sua defesa em Brasília o grupo de parlamentares do baixo clero que ficaria conhecido pelo sugestivo nome de "bancada da bola".
De lá para cá, no entanto, a reabilitação política do cartola, coroada com a escolha do Brasil para sediar a Copa de 2014, foi de tal maneira bem-sucedida que hoje seus adversários não formariam um time de futebol nas "peladas" que a CBF patrocinava até 2001 em Brasília.
A reação começou em 2002, quando Lula venceu Serra no segundo turno da eleição presidencial. O primeiro canal de inserção do cartola no PT, até então hostil à CBF, entidade historicamente ligada aos partidos descendentes da ditadura militar (1964-1985), foi o senador Delcídio Amaral (MS).
Teixeira também não gostava do PT, mas tinha declarado o PSDB inimigo porque a sigla do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso turbinara as CPIs. O cartola sabia que os únicos adversários dos tucanos com chances de chegar ao poder eram os petistas. Seu instinto de sobrevivência política e um assessor com trânsito no PT o levaram até Delcídio.
Assim, iniciou-se um namoro entre a entidade e o partido que se transformaria em noivado quando Teixeira abriu mão de US$ 1 milhão para enviar a seleção para o "amistoso da paz" no Haiti, em 2004, a pedido de Lula. O Brasil receberia os dólares para jogar contra a Itália.
Ao contrário de FHC, Lula é fã de futebol. De cara, o pragmatismo dele, do PT e do ex-ministro José Dirceu fizeram com que o governo acreditasse na empreitada da Copa.O ministro do Esporte escolhido por Lula no primeiro mandato, Agnelo Queiroz (PC do B-DF), também foi do agrado do cartola, que viu nele um político "sensível" aos interesses da entidade. Se no Planalto as coisas iam bem para a CBF, faltava melhorar o ambiente no Parlamento, e Teixeira, com a ajuda de Lula, lançou o projeto da Timemania, a loteria para salvar os clubes endividados.
Como muitos parlamentares possuem algum vínculo com as associações desportivas, o cenário começou a mudar, e o céu de Brasília virou de brigadeiro para a CBF após a entrada dos governadores em cena.
Um assessor de Serra resume o espírito: "Aparecer na foto que será feita em Zurique terça-feira pode não trazer muitos dividendos, mas ficar fora dela é prejuízo eleitoral certo".
Assim como o governador tucano paulista, o mineiro Aécio é nome forte para a sucessão de Lula em 2010. Sérgio Cabral (PMDB-RJ), Eduardo Campos (PSB-PE) e Jaques Wagner (PT-BA) também sonham com o Planalto e em sediar jogos da Copa. Nenhum deles quer ver suas bancadas brigando com a CBF. O deputado federal Ciro Gomes (PSB-CE) e a ministra do Turismo, Marta Suplicy (PT-SP), outros presidenciáveis, vão na mesma linha.

Nenhum comentário: