terça-feira, 27 de novembro de 2007

E era pra ser uma festa

http://ondeacorujadorme.blogspot.com/2007/11/e-era-pra-ser-uma-festa.html

Essa tragédia na Fonte Nova é apenas mais uma mostra de como as coisas funcionam no Brasil, não só no futebol. Sabe-se que pode dar problema, que é perigoso, mas vamos empurrando com a barriga, ninguém vai perceber, até que explode a bomba. Aí, depois que não tem mais conserto, são anunciadas medidas duras, para que todo mundo veja que estamos trabalhando...
O governo da Bahia, que administra a Fonte Nova, sabia há tempo que o estádio não tinha condições de receber grandes jogos. Duas ações civis públicas (ACPs) já pediam a interdição da Fonte Nova e do Barradão, casa do Vitória, desde janeiro de 2006 (quase dois anos atrás).
Um relatório do Sindicato Nacional das Empresas de Arquitetura e Engenharia (Sinaenco) divulgado em 01/11 colocou a Fonte Nova como o estádio de pior estrutura entre 29 estádios analisados no País. O segundo pior é o Mineirão, palco do próximo Brasil x Argentina pelas Eliminatórias, fato que demonstra a seriedade com que a solidária Confederação Brasileira de Futebol (CBF) trata a segurança do torcedor.
Jogar a culpa toda no governo da Bahia é pouco. Sim, ele é o maior culpado, já que é responsável pelo estádio. Mas o Bahia também, por não ter se preocupado com a segurança de seus torcedores, assim como a Federação Baiana de Futebol e a CBF por permitirem que jogos com grande público (média de 40.410 pagantes por partida) fossem disputados em uma espelunca (com todo o respeito que o tradicional estádio merece) caindo aos pedaços.
Ah, e a imprensa também é culpada, claro. Não deu a devida importância ao relatório do Sinanenco, DIVULGADO HÁ UM MÊS, como diz o Globo Esporte.com e o sítio oficial do sindicato. Hmmm, será que tem algo a ver com a Copa de 2014 no Brasil, que foi oficializada dois dias antes?
Eu tinha um professor na universidade que falava num tal duende verde que fica sempre sobre os ombros dos jornalistas e serve para indicar onde há boas pautas e quais histórias são boas para contar.
Pois bem, é só cruzar os dados: se o PIOR ESTÁDIO recebe o MAIOR PÚBLICO, algo está muito errado e nessa hora os duendezinhos verdes que estão sobre os ombros dos jornalistas que ficaram sabendo do relatório na época deveriam tê-los puxado pelas orelhas e apontado para essa informação dizendo: "aqui! Aqui! Uma grande pauta!
O País inteiro tem que ficar sabendo disso! Vamos discutir isso urgentemente!".
Mas os duendes falharam: a repercussão do estudo do Sinaenco - sim, foi veiculado em alguns meios de comunicação, embora o caro leitor não lembre ou não tenha visto - foi bem menor que a das piruetas do menino Robinho, a polêmica se Kaká é mais bonito ou mais feio que Beckham e o oba-oba da Copa de 2014.
Acabamos sabendo só agora da precariedade da Fonte Nova, agora que oito vidas se foram e dezenas de pessoas ficaram feridas. O que deveria ser uma festa da torcida mais fanática do Brasil virou luto. Calaram-se os gritos dos torcedores, silenciaram os trios elétricos. Famílias que teriam motivos para festejar hoje choram.
E o pior é pensar que, daqui a algum tempo (muito pouco tempo, podem acreditar), a maior tragédia da história do futebol brasileiro vai ser esquecida. Porque é assim que as coisas funcionam no Brasil.
Para mais informações sobre o relatório do Sinaenco, visite http://www.copa2014.org.br/estadios.asp.

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