quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Governo não vê "culpa"; ferido não receberá seguro

Folha de SP. 27.11.07

Apólice prevê pagamento de R$ 25 mil por morte, mas exclui a cobertura a pessoas sem seqüelas permanentes
Jaques Wagner (PT) diz que se sente "responsável" pelo estádio ser público, mas indica Justiça para quem quer buscar indenização

LUIZ FRANCISCODA AGÊNCIA FOLHA, EM SALVADOR PAULO COBOSDA REPORTAGEM LOCAL

A família de quem morreu não terá indenização imediata do Estado da Bahia, o dono da Fonte Nova. Quem se feriu, sem seqüelas permanentes, não poderá contar com a seguradora contratada para os jogos do Brasileiro. Esses foram alguns dos recados que os torcedores que estavam na tragédia de Salvador receberam um dia depois do acidente.

O governador baiano, Jaques Wagner (PT), disse que não é o momento de falar em indenização pois isso denota culpa, e ele não se sente culpado pelas mortes. "Não sei se ela [a indenização às famílias] cabe no momento. Indenização passa uma idéia de culpa. Não me sinto culpado pela tragédia, mas responsável (...). A Fonte Nova é um estádio público.

"De acordo com Wagner, o governo aguarda a conclusão da perícia técnica para tomar qualquer decisão."Antes [da indenização] tem a perícia, o laudo, o julgamento. Se a Justiça determinar o pagamento, vamos cumprir, claro. Mas, agora, estamos tomando todas as providências para dar conforto às famílias."Os torcedores que sofreram ferimentos que não vão deixar seqüelas não terão direito à indenização. A apólice de seguro contratada para proteger os torcedores que vão aos estádios nas três séries do Brasileiro não prevê essa cobertura.Já as famílias dos sete mortos serão indenizadas com um valor, por óbito, que pode chegar, no máximo, a R$ 25 mil."Neste tipo de caso a indenização precisa sair rápido. Já enviamos à Federação Baiana como deve ser o procedimento. Assim que recebermos os documentos, a indenização sairá em menos de uma semana", diz Oldemar Fernandes, diretor-técnico da Excelsior, a empresa que faz o seguro do Brasileiro.

O executivo diz que as condições precárias dos estádios brasileiros preocupa a companhia. Afirma que o departamento jurídico da empresa vai estudar o caso e pode até entrar com uma ação contra os administradores da Fonte Nova, mas considera isso uma possibilidade remota."O valor da indenização não é tão alto. Pode não valer a pena", afirma Fernandes.O governador baiano passou a madrugada de ontem acordado, após voltar da China. Após o acidente e ontem de manhã, visitou feridos em hospitais.Afirmou que, apesar de o relatório feito pelo Sindicato Nacional das Empresas de Arquitetura e Engenharia Consultiva apontar o estádio como o pior de 27 vistoriados pelo país, os responsáveis pelo documento não falaram em desabamento.

"A Fonte Nova pode ser o pior estádio do Brasil em iluminação, falta de vagas para estacionamento, conforto. Mas ninguém falou que o estádio poderia desabar. Se isto tivesse sido feito, o estádio estaria interditado", afirmou.

O governador admitiu a possibilidade de a arena ser demolida. "Vamos fazer um estudo para saber se a estrutura está comprometida. Se estiver, não teremos outra solução, vamos demolir", disse Wagner.

Acompanhado do ministro do Esporte, Orlando Silva Jr., o governador não apontou responsáveis. "Não gosto de tirar conclusões no calor da emoção, com sete pessoas mortas e famílias enlutadas."


SEGURADORA: FATURAMENTO SOMA R$ 1,5 MIForam vendidos 10,2 milhões de bilhetes nas três divisões do Brasileiro-07. Para cada um deles, R$ 0,15 são destinados para o seguro. A Excelsior arrecadou R$ 1,5 milhão (gastará R$ 175 mil na Fonte Nova).

Nenhum comentário: