sábado, 24 de novembro de 2007

Torcedor sem dinheiro pode perder espaço no futebol

Publicada em 23/11/2007 às 20h37m

Marcelo Alves - O Globo Online

http://oglobo.globo.com/esportes/brasileiro2007/mat/2007/11/23/327284611.asp

RIO - Restaurantes, cinemas, ingressos caros, conforto, lugares marcados e ainda um jogo de futebol para apreciar. Uma realidade não muito distante do futebol brasileiro que pode ver nos próximos anos uma mudança no perfil do torcedor de arquibancada. Essa parece ser a tendência natural e inevitável para que o futebol do país se modernize e saia do oceano de dívidas a que seus clubes foram se afundando nas últimas décadas de administrações amadoras ao passo que o mundo do esporte avançou de maneira voraz para modelos de gestão mais profissionais.
Pelo menos esta é a visão de muitos dirigentes e especialistas em marketing esportivo que vêem nessa transformação uma saída para que o futebol volte a dar lucro e mantenha seus grandes jogadores por mais tempo atuando no Brasil.
Nesta sexta-feira, o presidente do Corinthians, em entrevista ao jornal "Folha de São Paulo" revelou o desejo de o clube construir um estádio em que parte das arquibancadas seriam reservadas para torcedores que possam pagar até R$ 200 pelo ingresso. Um outro pedaço menor do estádio, que teria capacidade para 77 mil pagantes, seria reservado para o setor popular.
É o conceito de espetáculo que chega ao futebol. O mesmo que move o Carnaval do Rio hoje, por exemplo. Para o especialista em marketing esportivo João Henrique Areas, o futebol precisa definitivamente se profissionalizar para entrar no século XXI.
- A tendência dos estádios é você não elitizar, mas o tornar mais caro. A questão é de demanda e oferta e enquanto você tiver uma demanda forte para o estádio pode colocar o preço alto. E como o torcedor que não puder pagar verá o jogo? Pela TV. O mundo capitalista é assim e não podemos ser hipócritas e dizer que vai tirar o povão do estádio, pois há muito tempo o futebol deixou de ser lazer para virar um negócio - afirmou Areas, que na próxima terça-feira lança o livro "Uma bela jogada - 20 anos de marketing esportivo".
" Há muito tempo o futebol deixou de ser lazer para virar um negócio "
O que foi visto no Morumbi na quarta-feira durante o jogo da seleção brasileira contra o Uruguai - estádio lotado, renda alta (mais de R$ 4 milhões), camarotes que não devem nada aos mais luxuosos do Carnaval ou de shows de grandes bandas no país - pode ser um ensaio de como será a Copa de 2014 e para uma mudança no modelo de gestão do futebol brasileiro.
Com um projeto semelhante ao do Corinthians, mas que ainda encontra resistência para sair do papel, o Flamengo também planeja construir um estádio na Gávea seguindo a mesma lógica. Segundo o presidente Márcio Braga, o estádio da Gávea teria capacidade para 30 mil pagantes, sendo que 10 mil lugares atrás dos gols seriam reservados para as camadas populares e a torcida adversária.
- Os outros lugares seriam formados por cadeiras e elas teriam um preço mais caro. Além de camarotes, que seriam vendidos ou alugados por um período de até três anos - explica o presidente rubro-negro.
Para Márcio Braga, somente desta maneira o clube poderia ter lucro com o estádio:

- É o caminho. Como você vai pagar o estádio? No caso do Flamengo teríamos lojas, um comércio como nos estádios do mundo inteiro. Fora daqui, o preço dos ingressos também é alto, seja nos Estados Unidos ou na Europa - lembrou.
Para que isso aconteça, no entanto, o futebol precisa se profissionalizar. João Henrique Areas lembra que as relações no futebol mudaram muito com o passar dos anos, mas os dirigentes continuam amadores.
- Nos anos 70, havia os dirigentes amadores que lidavam com os sócios e os torcedores. Nos anos 80, entrou a TV e os anunciantes. Na década passada, entraram no jogo os agentes Fifa e os investidores. Esses caras são profissionais do futebol e os dirigentes continuam sendo aqueles que chegam às 17h para cuidar dos problemas do clube - critica.
Por isso que Areas considera fundamental mudanças drásticas na administração esportiva brasileira. Ele sugere que os clubes formem conselhos administrativos que contratariam um executivo que poderia cuidar do futebol. Este profissional teria responsabilidades e metas a serem cumpridas. Areas também diz que os clubes têm que oferecer conforto e espetáculo aos torcedores.
- O que mantém o torcedor feliz é título e ídolo - lembra, para em seguida, cobrar mais profissionalismo do futebol brasileiro.
- O futebol tem que melhorar diversas coisas como o atendimento. O torcedor aqui é maltratado. Você só pode cobrar caro por um ingresso se mantiver uma boa equipe e tornar o programa de ir ao estádio agradável. Você tem que proporcionar um bom espetáculo e o conforto que atraia a classe A, que hoje talvez não vá ao estádio. Não podemos ter dirigentes voluntários que chegam no clube às 17h para tomar decisões. Não é que eles não sejam competentes, só não têm o tempo necessário para se dedicar ao clube. Então, o primeiro ponto é a profissionalização do dirigente - receita.
A polêmica não terá fim, mas um estádio que contemple todas as camadas da sociedade e suas necessidades é na visão de muitos uma saída para os clubes arrecadarem mais. Areas até sugere uma solução nos mesmos moldes para o Maracanã.
- Um estádio público como o Maracanã poderia ter o Flamengo, por exemplo, como sócio, pois é inviável um clube assumir sozinho o estádio do ponto de vista do modelo de negócio. O governo poderia deixar uma zona de 40 mil pagantes com preços populares e não cobrar ao Fla a taxa de manutenção do estádio enquanto os outros 40 mil ingressos teriam preço mais alto ajudando a fortalecer o Flamengo que por sua vez manteria seus ídolos no clube - conclui.

Comentários
1. Iur24/11/2007 - 18h 16m
Não queriam copa? agora vão pagar ingressos no nível de preço dos da copa...

2. Iur24/11/2007 - 18h 14m
Concordo.Ingressos deveriam ser vendidos em pacote pra toda temporada, assim o torcedor marcaria presença em todos os jogos em casa!Isso significa também receita garantida pro cluble.

3. EDUARDO DUARTE FORTES DE FARIA - e-mail24/11/2007 - 18h 12m
O MUNDO É PRÁ QUEM TEM DINHEIRO. DITADURA ECONÔMICA.CONFORTO E DIVERSÃO GRÁTIS?ACORDA POBRÃO!

4. anevio moraes bueno filho24/11/2007 - 18h 05m
Será a socialização geral do Brasil, não teremos mais desdentados nas arquibancadas. Como no carnaval do Rio só bundas de ouro. Viva os Teixeiras... como eles dizem o futebol é nosso.

5. hilson mergulhão breckenfeld filho - e-mail24/11/2007 - 17h 58m
esse senhores desconhecem o funcionamento de clubes e torcida pelo mundo e vêem apenas o lucro na relação entre torcida e clube,uma pesquisa minima pela internet e veriam que existe ao redor do mundo formas produtivas de relacionar o torcedor em qualquer nível social e o clube,mas os experts que descubram;uma afirmação como essa mostra o cárater deles e a intenção.

6. Ricardo de Oliveira Duarte24/11/2007 - 17h 43m
"...Há muito tempo o futebol deixou de ser lazer para virar um negócio..."Negócio que os europeus sabem administrar como ninguém e os gênios administradores dos nossos clubes apresentam essas idéias brilhantes. Certamente é por causa desses "gênios" que a situação do futebol brasileiro ficou está desse jeito.

7. Bueninho24/11/2007 - 17h 38m
De há muito se deseja fazer isso. A elitização já começou já há algum tempo. Quando se tem um evento, como abertura do Pan, quem lá foi era por ter dinheiro suficiente. Nos jogos da Seleção aqui no Brasil, veja se a Globo focaliza os "OI Garvão, firma nóis aqui!". É só observar ou lembrar.

8. Thiago Mendes Cavalini24/11/2007 - 17h 30m
Pra isso funcionar, só de um jeito: Investindo em educação. O país cresce. a renda aumenta e ai sim. Os nossos queridos dirigentes, vão poder equiparar o nosso futebol com o da Europa em termos de renda e organização.

9. Hebert DaSilva24/11/2007 - 17h 23m
Sou "Framenguista" e ja assisti muitos jogos da geral na ponta dos pes os 90 minutos porque nao sou alto. Entretanto apoio a ideia. So a assim poderemos reter nossos craques em casa. Tambem assim excluiriamos a galera que nao sabe se comportar nos estadios. Bote telao nas pracas publicas pra eles. So quem ja foi atingido por latinha cheia de urina vindo das arquibancadas do maraca sabe o quanto lucrariamos se e turma do "free lunch" nao tivesse mais acesso. Se pagassem caro dariam mais valor.

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