sexta-feira, 23 de novembro de 2007

Rolexização

Xico Sá (22/11/2007) no caderno de esportes da Folha de São Paulo

Nas margens plácidas

Entorno de Brasil x Uruguai explicitou a diferença social no país, com pretos no campo para os com-rolex ver

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/esporte/fk2311200715.htm

AMIGO TORCEDOR, amigo secador, não damos lá muita bola para esta marmota chamada seleção brasileira, mas um espectro ronda os estádios quando a canarinha joga. A dita “elite branca”, o movimento dos com-rolex, prevalece. Ao final, o ritual separatista da festa VIP deixa tudo mais explícito ainda.
Na quarta no Morumbi, a impressão, como me alertou El Terron, velho camarada mato-grossense, era a de que, em plena semana da Consciência Negra, só havia pretos no gramado. Essa é a tendência em jogos caríssimos e repletos de promoções de firmas que levam os bacanas a rodo. Com a seleção em campo, a noção da praça democrática vai para o buraco. Achar um negro ou branco miserável nas arquibancadas é quase um milagre para um câmera. A Copa de 2014, com ingressos pelas alturas, corre o risco de repetir essa mesma farsa. Uma Copa no Brasil para turistas e playboys brasucas.
Não que a massa tenha perdido grandes coisas. Pelo futebolzinho amarelo que estamos vendo, ficar em casa pode ser até uma bênção divina. Pena que o Uruguai tenha deixado escapar o triunfo que parecia tingir de celeste os céus. “El loco” Abreu poderia ter cravado o segundo, don Lugano merecia este épico, presente de Natal para todos nós secadores convictos.
O único selecionado que empolga nestas eliminatórias, convenhamos, é mesmo o paraguaio, o escrete de Cabañas está jogando o fino. Soy Paraguai desde niño, mi corazón atravessou, há muito, a Ponte da Amizade e se entregou, com uma guarânia ao fundo, aos caprichos de uma chica do Lago Azul de Ypacarai. Amigo, além da “rolexização” do Morumbi no jogo do Brasil, outra nota triste da semana é a queda do Santa Cruz para a Terceirona.

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