sábado, 1 de dezembro de 2007

O dia mais triste da história da Fonte Nova

http://www.baheaminhaporra.com/2007/11/o-dia-mais-triste-da-histria-da-fonte.html

Terça-feira, 27 de Novembro de 2007

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O intervalo transcorreu normalmente, o Baêa voltou com o uniforme tricolor. Fora isso o jogo continuou igual, muitas chances nossas, poucas deles, nada de gol. Faltando uns 10 minutos o jogo já estava morno, a verdade é que era um bom placar para ambos. Exatamente às 17:48 houve uma pequena confusão, imediatamente fui atrás de meu irmão, achei ele e Gera e fui tira-los dali, logo me tranquilizei. Tudo voltou ao normal, mas foi por pouco tempo...

17:50. 42 minutos do segundo tempo. Abriu um verdadeiro clarão ao nosso lado. Pensei que era outra discussão, mas não havia ninguém brigando. Olhei pro meio e só vi um buraco enorme ao lado do refletor. Na mesma hora pensei em tragédia. Havia muita gente ali e embaixo do buraco não existia nada! Pedi pro meu irmão tirar umas fotos enquanto eu ligava para Fábio, daqui do blog, contando o que aconteceu.

Imediatamente os policiais isolaram a área. O jogo acabou, nem vi o final, só vi que milhares de pessoas invadiam o campo. Conversei com uns policiais, o 2º me confirmou que pessoas haviam morrido. A ficha caiu. Era o pior dia da velha Fonte Nova. Pelo estado deplorável que ela se encontra, não foi nenhuma surpresa, já escrevi sobre isso aqui. Mas mesmo assim aquilo era algo inédito para gente. Esperamos uma parte da multidão descer, antes muitos correram, juntamos todos para ir embora do estádio.

Antes disso vi o alambrado atrás do gol da ladeira desmanchar com o peso dos torcedores. Pensei que tinha tudo para ser uma tragédia ainda maior, só uma das fileiras que cedeu, não foi pior por que naquela hora ninguém ainda comemorava pra valer, algo que aconteceria se Nonato convertesse aquela penalidade. Tenho certeza que toda aquela área em que estávamos iria esfarelar. O concreto tinha poucos centímetros de espessura.

Só depois de muito tempo as rádios começaram a noticiar, algumas pessoas que ainda comemoravam caíram na real. Torcedores como nós morreram! Perderam a vida porque isso não é valorizado por todo mundo. Perderam a vida por puro descaso e incompetência. Perderam a vida por causa de 5cm de concreto sustentado por vigas enferrujadas e podres. Podres como as desculpas que eu tinha certeza que seria obrigado a ouvir durante muito tempo.

DEPOIS:Fora da Fonte esperávamos por mais alguns amigos, ao invés dos trios elétricos, ouvíamos diversas ambulâncias. Algumas pessoas ainda comemoravam, outras passavam com pedaços do gramado na mão. Começavam a surgir mais informações, muitas desencontradas, os celulares não paravam de tocar. Voltamos revoltados com tudo aquilo. Chegamos ao condomínio e alguns amigos que torcem pelo Vitória dessa vez nos esperavam na porta, nessas horas não existe rivalidade. Era um alívio cada vez que um de nós ia aparecendo.

Subi pra postar a 1ª foto, a que mostra um cara correndo ao lado do buraco. A reação foi imediata. Vi no Orkut, MSN, sites e blogs diversos. Meu celular tocava alucinadamente. Nessa hora minha cabeça estava cheia, não conseguia mais pensar direito. O tempo ia passando e a adrenalina não descia. Tomei banho e chorei. Depois não conseguia dormir, deitava, me revirava, o sono não vinha, levantava, bebia água e nada. Às 5h da manhã, minha namorada, que mora no exterior me ligou desesperada, já eram 6h e não conseguia pregar o olho. Rezei pensando nas vítimas, pensando em meus amigos.

Acordei às 8h. Todas aquelas memórias do dia anterior não saiam da cabeça. O dia todo foi assim, estava abalado. Quase nenhuma camisa do Baêa era vista pela cidade. No final do dia eu e Bruno demos uma pausa no trabalho para assistir o Jornal Nacional, não tinha como a gente não se emocionar. Tínhamos boas lembranças da Fonte, mas aquilo tudo acabou. Assim como o campeonato, já não importava mais. Naquele dia todo mundo perdeu.

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