domingo, 6 de julho de 2008

BOCA x RIVER

MUNDO, 02/07/2008 11h00

Um Coxa no super clássico argentino

http://www.coxanautas.com.br/noticia.phtml?id=21492&t=Um-Coxa-no-super--classico-argentino

O fiel Coxa-Branca Fernando Todeschini conta detalhes do maior clássico do futebol argentino
Continuando com a intenção de mostrar à Torcida que Nunca Abandona as diferenças e peculiaridades dos estádios de futebol espalhados pelo mundo, o site COXAnautas traz uma matéria em caráter exclusivo com o guerreiro Alviverde Fernando Todeschini. No dia da final do campeonato estadual, contra nosso maior rival, 04 de maio, ele esteve divulgando as cores do Coritiba no mítico estádio de 'La Bombonera', e aproveitou para acompanhar o maior clássico daquele país: Boca Juniors x River Plate.

Abaixo, na entrevista, as impressões do colaborador do site a respeito do transporte coletivo, organização, segurança, respeito com os torcedores, provocações entre torcidas, e, é claro, sobre 'La Bombonera', tão temida pelos adversários do Boca:

COXAnautas: Fernando, primeiramente, como você conseguiu os ingressos para a partida? Existem pacotes destinados a turistas de outros países que desejam acompanhar o jogo em Buenos Aires?

Fernando Todeschini: Tentei meses daqui do Brasil conseguir ingresso pro jogo. Uma agente de Campinas falou que me conseguia por US$ 304. Não acertei com ela e arrisquei ir pra lá sem possuir o ingresso pro jogo. Chegando lá, nos hotéis mesmo existem folders de uma empresa que leva turistas pros jogos. Paguei 850 pesos, que deu US$ 274 no dia. A empresa te pega no hotel, de ônibus, e vai recolhendo outras pessoas no meio do caminho. No meu ônibus tinha italianos, croatas, peruanos, e alguns argentinos do interior.

COXAnautas: Aqui no Brasil, sabemos que é extremamente complicado de o torcedor chegar ao estádio utilizando-se do serviço de transporte público. São poucos ônibus, existe uma certa demora e, em jogos "grandes", (como é o caso de clássicos) os veículos não vencem a aglomeração. Como isso se dá na Argentina e de que maneira os torcedores enfrentam esse tipo de situação?

Fernando Todeschini: Procurei observar aglomerações de torcedores indo pro estádio. No centro da cidade, não vi muitos. Somente um ou outro carro. De repente, surgiu do nada e em alta velocidade uns três ônibus (foto abaixo) abarrotados de barras (assim como os hooligans, na Inglaterra, as torcidas organizadas argentinas são conhecidos como barrasbravas). Tinha muita gente dentro, todo mundo espremido, coisa que pra eles é absolutamente normal. Só não tinha ninguém no teto.

Depois do jogo fiquei sabendo, pelos jornais, que muitos torcedores do River haviam sido presos na ida ao estádio, alguns deles porque estavam fazendo arruaça no transporte público. Logo após a partida, foram liberados.

COXAnautas: E nos portões de entrada do estádio, ocorre como aqui, onde filas gigantescas são formadas e a paciência do torcedor é sempre colocada em xeque ou existe uma organização maior?

Fernando Todeschini: Como vocês podem ver na foto abaixo, a fila é única pra quem vai ficar nas arquibancadas laterais (aquela de frente, pra quem vê o jogo na TV). A fila, nessa hora, tinha uns 350 metros. Eu entrei, mais ou menos, uns 50 metros antes, porque turista tem acesso facilitado, direto de uma área exclusiva para estacionamento de ônibus. Demorei menos de 10 minutos para vencer estes 50 metros e ganhar acesso à área restrita do estádio, para onde só se passa mostrando para a polícia o seu ingresso.

Ali, você se encaminha para o seu portão de entrada, sem filas, entregando o ingresso ao bilheteiro.

Ao entrar na fila, os guias recomendam muito cuidado com pertences como carteiras e câmeras. Mas não vi nada de anormal. Ninguém roubando, furtando e principalmente, ninguém furando a fila. A não ser nós, turistas, é claro!

COXAnautas: Agora falando especificamente da estrutura do estádio 'La Bombonera', quais foram as suas percepções como torcedor estrangeiro?

Fernando Todeschini: Os corredores e escadas são muito estreitos e sem nenhuma área de recuo pra um caso de emergência.

Os lugares são marcados individualmente, e isso é respeitado. Fiquei na “platea baja”, equivalente no Alto da Glória às cadeiras inferiores ou Mauá inferior.

Pela quantidade de gente se acotovelando e se abarrotando pelos corredores, o acesso aos banheiros é muito difícil, sendo recomendado àqueles que realmente estejam necessitados. Às lanchonetes não fui, também pelo acesso complicado. Mas vi pessoas comendo uns hot-dogs muito estranhos, com uma vina quase branca, e um pãozinho bisnaga bem esquisito. Deu muita saudade do nosso pão com bife.

Não existem ambulantes, e a polícia não se mostrou presente em nenhum momento, o que por um lado é bom – mostrando que ali o povo era civilizado – e por outro é ruim – não se sabe se em caso de uma eventual confusão, conseguiriam chegar.

Não se pode vender nem consumir bebidas alcóolicas nas proximidades ou dentro do estádio.

A área reservada à torcida visitante é algo esdrúxulo. Eles ficam no 3º anel, acima da torcida do Boca, o que pode ser perigoso e incontrolável se o pessoal resolver atirar objetos.

Também, o que a gente vê na TV é verdade. Os caras ficam em pé, em cima da grade, a uns 5 metros de altura. A polícia não chega lá, imagino eu, porque não tem como passar no meio do povão.

COXAnautas: E o material das torcidas, o que eles levam aos estádios?

Fernando Todeschini: Os "barrabravas", que ficam no meio do 2º anel, no espaço com aqueles ferros amarelos levam muitas bandeiras médias e pequenas e os famosos guarda-chuvas. Na parte sonora, eu só escutava caixas, surdos e um metal de sopro, que não é muito alto, mas é o que dita o ritmo da torcida. São cantadas umas 8 ou 10 músicas o jogo todo. Quando os "carinhas do metal" mudam, os torcedores vão junto e ficam uns 10 minutos em cada música. E eles têm várias músicas, com letras meio longas (2 a 3 estrofes) que todos os torcedores, mesmo os das tribunas menos populares, conhecem. Quando o time entra em campo e quando terminar o jogo, todos eles, crianças mulheres e adultos, cantam o hino que a “hinchada” está cantando.

COXAnautas: Nos estádios de nosso Estado as torcidas dão o "pontapé" inicial dos clássicos antes mesmo da bola rolar. Uma hora antes do jogo, elas já gritam por seus clubes. Como isso se dá na Argentina?

Fernando Todeschini: Não existem provocações antes do jogo entre torcidas e o silêncio no estádio é incrível. Quando o Boca entrou em campo, a torcida cantou a música "Boca mi buen amigo", aí sim foi acompanhada por todos.

Já a torcida do River eu não pude escutar, provavelmente porque a área que eles ficaram é muito alta e boa parte do som se dispersa. Outra coisa é que essa história de não poder usar a cor do time rival não vale na Argentina. Pude notar vários integrantes da torcida organizada do Boca utilizando vermelho.

COXAnautas: E a tão comentada atitude da torcida argentina de empurrar os 90 minutos. Isso é fato mesmo ou não é nada disso do que falam?

Fernando Todeschini: O povão não vem junto sempre, mas os "barrabravas" não param um minuto sequer. Calculei em uns 1000 a 1500 que berraram o jogo inteiro sem parar. Engraçado é que quando o time está na defesa, os caras estão num ritmo, quando o time está no ataque, o ritmo é o mesmo. Bola na trave? Mesmo ritmo. Escanteio? Mesmo ritmo.

A torcida não cresce com o time como a gente vê nos lances de gol aqui. O gol é comemorado de forma meio estranha, pra não dizer fria. Onde eu estava, levantam da cadeira, dão um grito de gol, e logo sentam de novo.

No geral, a torcida deles não é tudo aquilo que vendem por aqui. Achei que ia ser o jogo inteiro uma loucura, todo mundo berrando, e isso aconteceu só umas 4 ou 5 vezes. Só que aqueles 1000 ou 1500 torcedores fazem muito barulho, sem parar.

É impressionante o quanto gritam e o quanto procuram trazer o povão junto com eles, muitas vezes sem sucesso. Mesmo aqueles torcedores que se posicionam ao lado da “hinchada”, quase não a acompanham. E isso que tem “hinchas” que simplesmente não assistem ao jogo, ficando de costas para o campo, pendurados nas barras, incentivando os populares a aompanhá-los.

O espetáculo é fantástico, para que gosta mesmo de futebol, vale a pena conferir.

Um comentário:

Anônimo disse...

Excelente comentario.
Muito obrigado por post.
Ricardo A. (Boca Juniors)
alemantutti@hotmail.com