quinta-feira, 31 de julho de 2008

PAN: 1 ano depois

28/07/2008

Deu no 'Correio Braziliense' de 13/7/2008

http://blogdojuca.blog.uol.com.br/arch2008-07-27_2008-08-02.html

Por JOSÉ CRUZ

O primeiro aniversário da realização dos Jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro, que ocorre hoje, será comemorado amanhã com o lançamento do livro Rio 2007 — Viva essa energia, registro com fotos e textos dos principais momentos da competição, que teve a participação de 5.633 atletas de 42 países.
Durante os jogos, foram batidos 123 recordes pan-americanos, e o evento classificou diretamente 10 modalidades para as Olimpíadas de Pequim.
Além do livro, o Comitê Organizador do Pan 2007 apresentará o relatório oficial dos jogos, com resultados de todas as provas e a classificação final, em que o Brasil aparece em terceiro lugar — atrás das tradicionais delegações dos Estados Unidos e Cuba —, seu melhor desempenho nas 15 edições do Pan.
Euforias à parte e fora das áreas de competições, a principal expectativa sobre o Pan 2007, que colocou o Brasil na geografia internacional de competições de nível olímpico, é para a apresentação do relatório financeiro, com análise de gastos públicos que chegaram a R$ 3,5 bilhões.
O orçamento original previa investimento de R$ 400 milhões.
O trabalho preliminar, realizado pela Secretaria de Controle Externo (Secex) do Tribunal de Contas da União (TCU), no Rio de Janeiro, foi encerrado na sexta-feira.
Na próxima semana, deverá chegar à mesa do ministro Marcos Vilaça, relator do documento, em Brasília.
Segundo a assessoria de imprensa do TCU, "o ministro pretende levar o relatório final a julgamento o mais breve possível".
Até agora, a atuação do TCU resultou na abertura de mais de 30 processos.
O mais recente (nº9.255/2007-8) deverá ouvir explicações de Ricardo Layser Gonçalves, representante do Ministério do Esporte no Comitê Organizador do Pan, e José Pedro Varlotta, assessor de tecnologia do evento.
Eles determinaram a realização de serviços de informática e de obras civis sem licitação.
Esse ato "configura gestão antieconômica e ilegal", atestam os auditores do TCU.

Superfaturamento

Esse não é o único projeto que envolve a dupla Layser-Varlotta, militantes do PCdoB, do qual o ministro do Esporte, Orlando Silva, é um dos expoentes.
Uma das mais escandalosas denúncias que Layser e Varlotta estão envolvidos exibe indícios de superfaturamento de 16.000%, na aquisição de um sistema para credenciamento de atletas e autoridades.
Nessa compra, feita à empresa Atos Origin, o governo federal desembolsou R$ 106,2 milhões, equivalente a 75% do valor do contrato, conforme o repórter Ugo Braga, do Correio Braziliense, divulgou em 27 de abril deste ano.
A falta de licitações foi um dos mais graves problemas na fase preparatória do Jogos Pan e Parapan-Americanos do Rio de Janeiro.
O serviço de segurança, por exemplo, envolvendo verbas da União e da Prefeitura do Rio, num total de R$ 290 milhões, não foi licitado.
O mesmo ocorreu com as cerimônias de abertura, encerramento e premiações, comandadas pela empresa Mondo Entretenimento.
Em resposta ao TCU, os responsáveis pelo evento tinham explicações comuns:
"Falta de tempo hábil para realizar as licitações" ou "falta de pessoal qualificado para desenvolver projetos específicos".
Enquanto o relatório final do TCU não é apresentado, o presidente do Comitê Olímpico Brasileiro (COB) e do Comitê Organizador do Pan 2007, Carlos Arthur Nuzman, festeja, conforme comunicado que divulgou na sexta-feira:
"Até hoje ouvimos comentários elogiosos ao Rio 2007, seja nas reuniões das quais participo mundo afora como membro do Comitê Olímpico Internacional, seja aqui no Brasil. Isso nos dá um orgulho muito grande. Os Jogos Pan-Americanos foram realizados com padrões olímpicos de instalações e serviços, o que garantiu o sucesso do evento. É muito gratificante perceber o orgulho das pessoas com relação a tudo o que o Rio 2007 representou", afirmou Nuzman.

Ficaram na promessa

Há um ano, os olhares das Américas se voltavam para o Rio de Janeiro.
Num Maracanã rejuvenescido e lotado, a cidade celebrava a abertura dos Jogos Pan-Americanos com uma festa inesquecível.
Nas semanas seguintes, as modernas instalações construídas ou remodeladas para o evento foram palco de ferrenhas disputas e recordes continentais, prenúncios de um legado esportivo fundamental na campanha para sediar os Jogos de 2016.
Entretanto, as promessas de utilização maciça de estádios e arenas para formação de novos talentos, feitas à época, chegam ao primeiro aniversário do Pan ainda longe de serem cumpridas.
O piso azul emborrachado do Estádio Olímpico João Havelange simboliza a ociosidade.
Pelas raias da única pista da América Latina credenciada a receber um Mundial de Atletismo, atualmente só circulam jogadores de futebol a caminho do gramado.
Cedido pela Prefeitura do Rio ao Botafogo, o Engenhão hoje é palco exclusivo de partidas do Campeonato Brasileiro e não recebe uma bateria sequer de atletismo desde 19 de agosto de 2007, quando Terezinha Guilhermino ganhou a medalha de ouro na final dos 200m feminino T11 do Parapan.
Quando recebeu as chaves do Engenhão, em outubro do ano passado, o presidente do Botafogo, Bebeto de Freitas, notou que não tinha a cópia de um dos depósitos.
Ainda em 2007, o presidente da Federação de Atletismo do Rio, Carlos Alberto Lancetta, esteve no Engenhão com a chave para retirar o que estava guardado no depósito.
Foram R$ 2,5 milhões em materiais usados nas provas do Pan e do Parapan (barreiras, blocos de partidas, cronômetros, dardos, discos, etc).
Sem um documento oficial da prefeitura ou do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), Bebeto se negou a autorizar a retirada, que só foi feita em fevereiro, depois que a Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt) enviou ofício comunicando que o material lhe fora cedido, por comodato, pelo Ministério do Esporte.
O Rio de Janeiro, no entanto, só ficou com um quarto do total, hoje guardado no Estádio Célio de Barros.
O restante foi distribuído pela CBAt para centros em Uberlândia (MG), Bragança Paulista e Ibirapuera (ambos em São Paulo).
No Engenhão, resta apenas uma gaiola de lançamento, desmontada e sem uso.
Na Arena Multiuso, a vocação esportiva ficou em segundo plano.
Cedida para o grupo francês GL Eventos até o fim de 2016, o espaço ganhou nome de banco privado e passou a receber shows e eventos corporativos.
Já o Velódromo e o Parque Aquático Maria Lenk têm recebido poucas competições.
No Centro Esportivo Miécimo da Silva, nada ficou do piso especial para patinação artística nem dos equipamentos de squash e karatê.
E há problemas até nos locais que mais sediaram competições nos últimos 12 meses.
O complexo da Vila Militar de Deodoro, por exemplo, recebeu mais de 30 eventos esportivos.
A intenção de criar ali um centro de formação de pentatletas, no entanto, esbarra numa limitação básica.
Só há equipamentos para a prática de quatro das cinco modalidades que compõem o esporte: hipismo, tiro, natação e corrida.
Falta a esgrima.
"Em 2009, será iniciada a construção de um ginásio para a esgrima", diz o ex-nadador Djan Madruga, secretário de Alto Rendimento do Ministério do Esporte.
Em dezembro, também deve ser inaugurado no complexo um centro de treinamento de judô.

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