quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Engenhão

Tem hora que desanima

Devolvam o nosso dinheiro!

http://oglobo.globo.com/rio/ancelmo/chopedoaydano/

Não bastasse o Engenhão ter perdido completamente a função que lhe dá o nome de batismo - Estádio Olímpico, porque de olímpico nada acontece por lá -, agora, não pode sequer abrigar determinados jogos. Francamente! A transferência do Botafogo x Flamengo do dia 9 de lá para o Maracanã é um ES-CÂN-DA-LO! A medida cristaliza no Brasil a criação do estádio café-com-leite. Inaugurada há pouco mais de um ano, a bela arena do Engenho de Dentro é o que de mais próximo temos dos palcos europeus - até com a estação de trem bem na porta. Mas parece fadada a eventos meia-bomba.
Não se vai discutir aqui a óbvia barbaridade esportiva da mudança de endereço, que retira o mando de campo do Botafogo. Na verdade, muito mais terrível é o descaso com o dinheiro - como diz o chefe - meu, seu, nosso, enterrado na construção do estádio para o Pan do Rio. Gastou-se inacreditáveis R$ 380 milhões na construção, e nem a montanha de dinheiro sensibiliza nossa cartolagem. A obra que tanto orgulho deu aos cariocas se desmancha na decepção do uso pela metade.
O argumento, que dá vergonha de reproduzir, é o grau de selvageria da torcida do Flamengo. Então, vamos ao problema número 2: a Polícia Militar do Rio de Janeiro é ré confessa na incompetência para tourear uma horda de brigões. Traduzindo: a força paga com o dinheiro do erário - de novo - assume oficialmente sua impotência para evitar tumultos e pancadaria no estádio. Como assim?!?!?!? Com meganhas como esses, não precisa de bandido.
E o Engenhão, lindo de morrer, caminha para virar elefante branco. É um vexame digno de os contribuintes recebermos todos nosso dinheiro de volta.




Comentário de Jorge Borges:

Eu venho acompanhando atentamente a questão do "Trambolhão" mas, infelizmente, ninguém na imprensa ou em nenhum outro locus de formação de opinião chegou ao ponto. Se vê muito muito mais "chororô" movido a paixão clubística do que análises mais meticulosas e politizadas do problema. Essa opinião resume bem a forma como a questão vem sendo tratada.



Tenho a expectativa de que o Comitê possa se aproximar dele. E deixo aqui uma contribuição.



Para entender o fiasco do Trambolhão, é preciso nos remeter a uma história que não está tão longínqua assim:



A construção desse Estádio se deu à revelia de qualquer processo ou sistema de planejamento urbano, logo, assim como em tantas obras cesaristas, não houve um estudo de viabilidade para identificar problemas que, só agora, ficam mais do que patentes:

O acesso é péssimo:
TREM: Estação de trem na porta não resolve se não houver integração do mesmo com outros modais e se não houver um serviço confiável (qual é o esquema da Supervia para dias de jogos?). Além do mais, o tal Engenhão acaba sendo servido por apenas um ramal de trens (Deodoro), enquanto o Maracanã é acessível por TODOS os ramais a partir da estação São Cristóvão.
DEMANDA: o local é longe do principal "segmento" de mercado a ser atendido, a Zona Sul. É preciso reconhecer de uma vez por todas que o futebol está num claro e rápido processo de elitização, em termos de opção de lazer e entretenimento da população. Ingressos cada vez mais caros, implantação de centenas de camarotes no Maracanã, extinção da geral, a maldita tentativa de impor a lógica das cadeiras numeradas em todos os setores são apenas sintomas de uma doença que, infelizmente, me parece irreversível. E o povo da ZS, que mal sabe se deslocar pelas vias principais do além-túnel, aterrorizada pelo estigma da imagem violência-total imposta aos bairros do subúrbio, vai mesmo se dispor a um engarrafamento de 40 minutos e a se apertar num estádio que eles mal sabem ou querem saber onde fica? Futebol é paixão, mas o torcedor não é burro!
Ônibus: Essa praga que assola a cidade há quase um século, que paira sob um mar de ilegalidades – com total conivência dos últimos e do próximo Prefeito! – é um sistema totalmente descoordenado, cujo "esquema especial" em dias de jogos, já há alguns anos, é RETIRAR as frotas das ruas em dias de jogos, exatamente pela questão da "segurança". Se isso já vinha acontecendo no Maracanã, que é um bairro muito mais central do sistema, o que dirá do Engenho de Dentro, servido por meia dúzia de linhas e sub-linhas criadas na ilegalidade do cartel RioÔnibus?


As obras de infra-estrutura do entorno foram abortadas. Quem viu o projeto inicial do Estádio ex-Olímpico, percebeu que estava prevista uma série de intervenções sobre o sistema viário do entorno, tais como a abertura de novas vias, a ampliação e requalificação de outras, a inversão de mãos e a redefinição do bairro do Méier para transformá-lo num bairro de passagem (mais ou menos o Botafogo representa para o sistema viário da Zona Sul). O fato é que ABSOLUTAMENTE NADA foi feito. Pior, sob o argumento de "viabilizar" a construção do João Havelange, o nefasto César Maia fez aprovar uma lei que alterou significativamente o zoneamento e os parâmetros urbanísticos de parte significativa dos bairros do Méier, Engenho de Dentro, Pilares, Encantado e outros, próximos à faraônica empreitada. O resultado é que a especulação imobiliária não perdeu tempo e já vemos um processo de verticalização sem precedentes na região, com aumento significativo no tráfego local, que deve levar a uma saturação do sistema viário em pouco tempo.
Isso, pra não falar no legado social...
Mas, para além das discussões sobre o Estádio propriamente dito, existem circunstâncias para a partida em referência que também merecem uma análise. Está claro que o jogo em questão vai ter uma demanda acima da média. O simples fato de um dos participantes (e aí não é só porque é o Flamengo!) estar lutando pelos primeiros lugares do campeonato já dá ao jogo um clima de final. Isso significa que, até pela lógica do Capital, não dá pra fazer um jogo desses num estádio de 40.000 lugares se há a possibilidade de realizá-lo num estádio de 80.000 lugares. Sinceramente, não dá pra entender o que se passa na cabeça da diretoria do Botafogo em criar uma celeuma dessas. Ainda que, no Maracanã, os custos do quadro móvel sejam maiores, a renda ficaria quase toda para o clube, e certamente, seria muito maior do que um jogo realizado no seu gramado alugado.

Sobre a competência ou não da polícia do Rio, é melhor não comentar nada.

Jorge Borges

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