domingo, 22 de fevereiro de 2009

A violência das torcidas: ministro do Esporte dá sugestão equivocada a Lula

http://espnbrasil.terra.com.br/maurocezarpereira/post/35232_A+VIOLENCIA+DAS+TORCIDAS+MINISTRO+DO+ESPORTE+DA+SUGESTAO+EQUIVOCADA+A+LULA

Está na Folha de S. Paulo de hoje: "O ministro do Esporte, Orlando Silva Jr., sugeriu que a melhor opção para clássicos disputados na capital paulista, pelo menos no momento, é contar exclusivamente com a torcida do mandante, como já ocorre em alguns países. Silva Jr. expressou a ideia a Lula após o episódio envolvendo a torcida do Corinthians no fim de semana no Morumbi".
Interessante como as autoridades brasileiras chegam a certas conclusões. Com base em qual estudo, em que análise, em qual dado científico o ministro chegou a tal conclusão? Ele simplesmente acha isso? E quais seriam os tais países nos quais apenas a torcida de um time comparece aos jogos?
"No momento atual, talvez a melhor solução seja, em clássicos na capital, só o mandante ocupar as arquibancadas. Ser jogo de uma torcida só, como acontece na Argentina entre River Plate e Boca Juniors", afirmou Silva Jr, segundo a Folha. Não, caro ministro, nada disso. Tal situação aconteceu apenas nos duelos entre River e Boca pelas semifinais da Libertadores 2004. Os argentinos aposentaram a ideia em seguida, simplesmente porque ela é ruim.
Este blog já manifestou opinião contrária à presença de uma só torcida no estádio — clique aqui e leia o post a respeito. O tema foi debatido, inclusive, no Fora de Jogo, atração da ESPN, que vai ao ar nesta quinta-feira às 20 horas, com reprises na sexta às 17 horas e sábado às 11 horas. Veja, abaixo, vídeo com trecho do programa.

Clique para assistir ao vídeo

Fato: o Brasil insiste em ignorar solenemente experiências de outros países no combate às torcidas violentas. Medidas equivocadas como as tomadas pelos ingleses depois da tragédia de Heysel, em Bruxelas, onde morreram 39 torcedores da Juventus na final da Copa dos Campeões ante o Liverpool.
Depois daquilo, um relatório desenvolvido por equipe comandada pelo deputado Justice Popplewell determinou, entre outras inovações:

— veto a bebidas alcoólicas.
— alambrados fortíssimos, autênticas jaulas para evitar invasões de campo.
— circuito fechado de TV.
— sistema de cadastro de torcedores, que carregariam carteiras de identificação.

Observe que são as mesmas idéias geniais que sugerem por aqui, com duas décadas de atraso, como se fossem soluções inquestionáveis.
O resultado delas? Em 15 de abril de 1989, Nottingham Forest e Liverpool fariam uma das semifinais da FA Cup no Hillsborough, campo do Sheffield Wednesday. Com o estádio lotado e milhares de pessoas sem ingresso do lado de fora, a polícia, despreparada, autorizou a abertura dos portões.
Os alambrados eram fortíssimos e não cederam ante a pressão da massa humana no setor entupido de gente. Assim, 95 morreram esmagados na grade e mais de 200 saíram feridos. As medidas propostas por Popplewell foram atiradas na lata de lixo e veio, então, o Relatório Taylor, que teve à frente o lorde e juiz inglês Peter Taylor.
Então o conjunto de 76 medidas foi adotado, entre elas leis próprias, específicas, capazes de punir severamente torcedores envolvidos em conflitos. O tal cadastro, agora comentado no Brasil, ficou pelo caminho, pois na prática se mostrou inviável. E o hooliganismo foi controlado — leia mais sobre o Relatório Taylor no site do jornalista Ubiratan Leal, clicando aqui.
Será que o ministro sabe disso? Será que ele e sua equipe conhecem essa história? Até quando as autoridades brasileiras continuarão tratando um assunto sério, de segurança pública, que extrapola o território esportivo, apenas com achismo?

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