terça-feira, 24 de março de 2009

Cadastro de torcedor em SP é inócuo

para quê?

Folha de SP, 24.03.09

Federação paulista já tem fotos e dados de mais de 20 mil membros de torcidas, mas documento quase nunca é consultado

Cartão do Torcedor, de porte obrigatório para integrantes de organizadas nos estádios, não tem resolvido problema da violência em São Paulo

Zanone Fraissat/Folha Imagem

Cena do confronto entre torcedores do Santos e a Polícia Militar, anteontem, no Pacaembu, após o clássico contra o Corinthians

EDUARDO OHATA
RODRIGO BUENO
DA REPORTAGEM LOCAL

Enquanto é discutido no país um cadastramento geral de torcedores para combater a violência, São Paulo mostra que essa pode não ser uma solução efetiva. Já existe um cadastramento de torcedores organizados no Estado, mas ele não tem evitado cenas de batalha como as vistas anteontem no Pacaembu nem resulta em prisão dos vândalos identificados.
""Existe o cadastramento de torcedores pela federação. Temos fotos e dados das pessoas. A polícia usa esse cadastramento. Os torcedores entram [nos estádios] com camisas de torcidas [organizadas] porque foram cadastrados, têm o Cartão do Torcedor. Se não têm, não podem entrar", explicou ontem o tenente-coronel Marcos Marinho, hoje presidente da Comissão de Arbitragem da FPF.
Marinho era justamente o comandante do 2º Batalhão de Choque da PM quando houve a maior repressão às torcidas organizadas -as mais violentas foram até mesmo extintas.
""A PM ou o Ministério Público precisam requisitar isso [o cadastro] à federação ou à empresa que faz o cadastramento [hoje, a BWA]. Nenhuma outra pessoa ou entidade pode ter acesso a esse cadastramento", disse Marinho, quando indagado se a Folha poderia ter acesso ao cadastro para identificar agressores em fotos do jornal.
Segundo Marinho, aproximadamente 22 mil torcedores organizados estão cadastrados.
E, desde o segundo semestre de 2006, não chegaria nem a uma dezena o número de consultas feitas a esse cadastro. ""Acho que houve quatro consultas, talvez mais, quase dez vezes. A Polícia Civil solicitou umas duas vezes. Não sei o resultado das investigações. Não tenho retorno", reconheceu.
O tenente-coronel da PM, Hervando Velozo, diz que nunca usou o cadastro. ""Não consultamos o cadastro, ele é responsabilidade da federação", disse, ao apontar que os responsáveis pela entrada de torcedores organizados não cadastrados são os fiscais da FPF.
Anteontem, no Corinthians x Santos, foram detidos dez torcedores -três não portavam o Cartão do Torcedor.
""Pegamos os que importavam, que são os agitadores. Após levá-los à delegacia, fazemos o boletim de ocorrência e um relatório com os seus nomes. Enviamos à federação para que ela suspenda suas carteirinhas. É melhor você ligar lá para saber melhor o que acontece", afirma Velozo.
Sobre o tema, o único que falou pela FPF ontem foi Marinho, que hoje trabalha em outra área. ""Quando tivermos o sistema totalmente integrado, com catraca identificando, coisa que está em processo, estádios com mais câmeras, aí sim conseguiremos fazer a segurança de forma mais efetiva."
A Folha tentou ouvir o promotor Paulo Castilho sobre o uso do cadastro da FPF para identificar agressores do clássico de anteontem. Ele, que no Pacaembu, em meio ao conflito, defendia a aprovação do cadastro nacional de torcedores para poder identificar os vândalos, não telefonou de volta.

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