segunda-feira, 8 de junho de 2009

Mortes no futebol dobram, diz estudo

São Paulo, domingo, 07 de junho de 2009

De 1999 a 2008, 42 foram mortos em conflitos dentro e fora de estádios, e violência se acentuou nos últimos dois anos

Para sociólogo, ligações das torcidas com o crime organizado e a expansão da internet colaboraram para aumento de conflitos

SÉRGIO RANGEL
DA SUCURSAL DO RIO

As mortes de torcedores de futebol envolvidos em conflitos a cada ano dobraram no Brasil em 2007 e 2008 em relação aos oito anos anteriores.
O resultado está em uma pesquisa coordenada pelo sociólogo Mauricio Murad, da Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro) e da Universo (Universidade Salgado de Oliveira), um dos pioneiros no estudo da sociologia no futebol.
Para ele, elos com o crime organizado e a internet contribuíram para o recrudescimento da selvageria entre as torcidas.
O trabalho revela que, entre 1999 e 2008, a média foi de 4,2 mortes por ano, em um total de 42. Considerado o período entre 1999 e 2006, foram 28 mortos, média de 3,5 em cada ano.
Quando o intervalo analisado se restringe a 2007 e 2008, o índice salta para 7. Ou seja, nos últimos dois anos, o número médio de mortes foi o dobro dos oito anos anteriores.
O estudo levou em consideração mortes nos estádios, nos arredores das praças esportivas e em confrontos provocados por integrantes de organizadas, mesmo longe dos gramados.
""A pesquisa mostra que a violência entre os torcedores é crescente, preocupante e tem que ser contida", diz Murad.
A pesquisa foi realizada com base em notícias dos principais jornais de cada região do país.
Como o universo analisado foi até 2008, a última morte contabilizada é a do são-paulino Nilton César de Jesus, 26.
Ele foi baleado na nuca por um policial em 7 de dezembro, antes da partida decisiva do Brasileiro entre Goiás e São Paulo, em Brasília. Morreu quatro dias depois no Hospital de Base. O torcedor partiu de São Paulo numa caravana da organizada Dragões da Real.
Portanto a morte do torcedor corintiano na noite da última quarta, em confronto com seguidores do Vasco, não entrou no trabalho acadêmico. Em 2009, em pouco mais de seis meses, já houve três casos de óbitos relacionados ao futebol.
Murad acredita que o aumento das mortes nos estádios tem ligação com o envolvimentos de integrantes de organizadas com o crime organizado e a expansão da internet. No Maracanã, por exemplo, são comuns brigas entre torcedores do mesmo clube por causa da ligação de membros de organizadas com facções criminosas.
Nos últimos anos, dezenas de brigas ainda foram agendadas por sites de relacionamentos.
Numa delas, Germano Soares da Silva, 44, morreu cinco dias depois de ser espancado por integrantes de uniformizadas do Botafogo e Vasco no centro do Rio, após um jogo de basquete, em novembro de 2007. Silva era um dos fundadores da Jovem Fla, uma das organizadas mais violentas da cidade.
""Foi um horror e mostrou a brutalidade das torcidas de futebol, que aproveitaram uma partida de basquete para arrumar briga sem tanta repressão. O conflito foi marcado pela internet, e a polícia não fez nada para conter", afirma Murad.
As cenas de violência assustaram os cariocas, mas ninguém foi preso. Na época, 31 jovens, quase todos de classe média, foram indiciados por formação de quadrilha, homicídios e corrupção de menores.
""A grande questão é conter esses vândalos, que são minorias dentro das organizadas. Para isso, basta ter vontade política e usar com inteligência os órgãos de repressão, prevenção e reeducação", sugere Murad, que acredita que a Copa do Mundo no Brasil em 2014 ajudará no combate à violência.

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