terça-feira, 2 de março de 2010

Mais um torcedor morre, e futebol se cerca de desculpas

Inoperância

Brigas entre são-paulinos e palmeirenses anteontem, em vários pontos de SP, deixam 1 óbito e ao menos 20 feridos

Autoridades repetem velhos discursos na tentativa de combater problema crônico de violência causado pelas torcidas uniformizadas

MARIANA BASTOS
SANDRO MACEDO
DA REPORTAGEM LOCAL São Paulo, terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

MAURÍCIO SIMIONATO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CAMPINAS

A história não é nova, mas o problema parece estar longe de uma solução: após um clássico no futebol paulista, mais uma pessoa morreu e ao menos 20 ficaram feridas, vítimas de confrontos entre torcedores de Palmeiras e São Paulo.
O incidente, na rodovia dos Bandeirantes, em Jundiaí, não foi isolado, mas se tornou o mais grave de anteontem. Choques entre as torcidas organizadas também foram registrados em bairros da capital e numa estação de trem em Santo André. Até a conclusão desta edição, ninguém foi preso.
A Polícia Civil investiga se a briga entre torcedores em Jundiaí (a 60 km da capital), que deixou ainda 12 feridos, foi premeditada ou "por acaso".
E o problema entre as torcidas organizadas extrapola o âmbito esportivo, como ocorreu durante a apuração do Carnaval paulista, quando membros da Gaviões da Fiel, indignados com as notas, chegaram a fechar parte da marginal Tietê. Para o desfile das campeãs, houve inclusive uma mudança na ordem de exibição das escolas para evitar conflitos entre a Mancha Verde e a Gaviões.
À sombra de mais uma morte proveniente de confronto de torcidas, Ministério Público, Polícia Militar e Ministério do Esporte repetem as soluções propostas depois de outros casos de violência envolvendo torcedores ocorridas em 2009.
Para o promotor Paulo Castilho, a Polícia Militar "fez um belo serviço de prevenção". "O que aconteceu ontem [anteontem] não foi falha da polícia."
O capitão Marcel Soffner, assessor de imprensa da Polícia Militar, concorda que foi feito tudo o que era possível. "Se não fosse a atuação da polícia, talvez o resultado fosse pior", diz.
Assim como em 2009, Castilho voltou a defender a torcida única para jogos de risco. "Em estádios como o do Palmeiras, o entorno é supercomplicado. Se não estivesse presente a torcida do São Paulo, os problemas não teriam ocorrido", diz. Para o promotor, as ações em diferentes pontos da cidade foram orquestradas pelas organizadas.
Em maio de 2009, mais de 150 pessoas foram detidas, entre palmeirenses e são-paulinos, perto da estação de trem Itaim Paulista. O bairro teve novamente choque entre as mesmas torcidas agora.
Ainda em 2009, após brigas entre são-paulinos e corintianos no Morumbi, o ministro do Esporte, Orlando Silva Jr., também defendeu a torcida única.
"No momento atual, talvez a melhor solução seja, em clássicos na capital, só o mandante ocupar as arquibancadas", disse ele em fevereiro passado.
Um ano depois, o "momento atual" parece o mesmo.
"O que o ministério pode fazer, está fazendo", afirma Alcino Reis Rocha, secretário nacional do Futebol da pasta.
Ele lembra que um projeto de lei, que muda o Estatuto do Torcedor e transforma em crime condutas violentas nos estádios e nos entornos, foi enviado ao Congresso em março de 2009. Após ter sido aprovado na Câmara, porém, o texto, continua no Senado, travado.
"Estamos fazendo solicitações para que seja aprovado e sancionado ainda no primeiro trimestre", declara Rocha.
Entre as mudanças no estatuto, está prevista punição para quem portar porretes e barras de ferro, num raio de 5 km do estádio ou num trajeto que seja identificado como de ida ou volta do torcedor (como no caso de anteontem, em Jundiaí).
Na nova lei, há penalidades que preveem a reclusão de seis meses a seis anos. Para réus primários, a prisão é substituída por banimento dos estádios.
No domingo, haverá um novo clássico, Santos x Corinthians, na Vila Belmiro. "Em princípio, a forma de atuação [da polícia] é a mesma. Episódios como esse servem de experiência e ajudarão nas discussões futuras", afirma Soffner, da PM.

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