domingo, 13 de maio de 2007

Enfarte no Morumbi

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Por ALCEU TOLEDO JUNIOR*

Quero relatar o que me aconteceu no último domingo durante a final do campeonato paulista no Morumbi.

Eu estava na cadeira superior (setor azul), acompanhado pelos meus dois garotos (Daniel, 12, e Caio,10) e por um casal de amigos (Rafael e Adriana), e tudo era alegria durante a volta olímpica do glorioso Santos Futebol Clube, quando sofri um enfarte.
Para completar, não recebi nenhum tipo de ajuda até milagrosamente chegar ao posto da Unimed no estádio.
Não havia um fiscal da federação paulista, um funcionário do São Paulo Futebol Clube ou algum soldado da Polícia Militar que fosse capaz de informar a localização do posto médico ou que pudesse estender um braço, usar um walkie-talkie ou tomar algum tipo de atitude para me ajudar, pois era cada vez mais difícil caminhar na medida em que o enfarte evoluía..
Talvez por milagre, consegui chegar ao posto da Unimed, onde imediatamente foi diagnosticado o enfarte, graças à qualidade da equipe de plantão.
Depois dos primeiros socorros, fui colocado numa ambulância para ser transportado para o hospital São Luis, opção mais próxima do estádio.
Aí, novo drama, porque para o meu desespero, a polícia militar não autorizava a saída da ambulância. Alegavam que a massa torcedora do Santos poderia invadir o local onde também se encontrava o ônibus do bicampeão paulista.
Foram minutos de pânico, pois a cardiologista que me acompanhava gritava para o motorista forçar a saída e ele respondia que a polícia não permitiria a saída enquanto o ônibus do Peixe estivesse ali.
Novamente por milagre, alguém teve o bom senso de autorizar a saída da ambulância e, em poucos minutos cheguei ao hospital São Luis, onde sofri uma angioplastia que me salvou a vida.
A federação paulista não permitiu jogos na Vila sob a alegação de que o Morumbi oferece mais conforto aos torcedores.
Mas que tipo de conforto é este em que as pessoas são obrigadas a se virar sozinhas, sem o menor tipo de ajuda, se dão o azar de passar mal antes, durante ou depois das partidas?
E para que serve a polícia militar no estádio?
Ela está lá apenas para reprimir torcedores violentos ou somente para proteger o patrimônio do São Paulo?
Durante os incontáveis minutos que passei andando da cadeira superior até a entrada do estádio, devo ter passado cambaleando por no mínimo uns 100 policiais militares.
E tanto eu como os meus amigos perguntamos onde ficava o posto médico para cerca de uns 20 policiais.
Mas eles não sabiam ou não queriam informar nada.
Um deles chegou a sugerir para que eu telefonasse para o número 193 (Resgate) para aguardar um possível atendimento ali na rua, entre os milhares de torcedores que iam embora.
Por frequentar o Morumbi desde os anos 70, eu desconfiava de que o posto ficava na entrada principal do estádio, mas como não tinha certeza, tinha que perguntar.
E só fui parar lá porque alguns torcedores informaram o local correto quando percebiam meu drama.
Como o Brasil pode querer sediar uma copa do mundo de futebol se não é capaz de dar as mínimas condições de segurança aos torcedores?
Como transmitir aos filhos o amor pelo futebol se ir aos jogos é uma aventura de alto risco?
E se eu não estivesse acompanhado por um casal de amigos, quem iria cuidar dos meus filhos enquanto eu recebia atendimento médico?
Muitos poderão dizer, 'bem feito, quem mandou ir ao jogo?'.
Mas, quando meus filhos me pediram para ir ao jogo final, a minha iniciativa foi a de atender o desejo deles de ver o time ser campeão ao vivo.
Lamentavelmente o melhor mesmo a fazer é acompanhar futebol pela TV (com aquelas transmissões normalmente ridículas e tendenciosas a favor dos clubes de maior torcida).

Alceu Toledo Junior é jornalista e diretor do Waves, portal de surf do Terra

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