segunda-feira, 4 de junho de 2007

Cultura do Torcedor: Porto Alegre



Há cerca de 5 ou 6 anos se percebe uma pequena revolução no comportamento dos torcedores gaúchos em Porto Alegre. Uma onda, que pode afetar o Brasil inteiro.
A capital do Rio Grande do Sul sempre foi influenciada pela cultura ‘platina’ do Uruguai e da Argentina. Mas no quesito de ‘como torcer’ eles continuaram brasileiros. Houve torcidas organizadas que tocavam marchinhas e sambas nos estádios. Como as torcidas no Rio de Janeiro ou São Paulo, eles foram claramente organizados com uma hierarquia e em comunicação direta com os clubes, que davam ingressos e outras ajudas. Muitas vezes tiveram irregularidades e eles foram acusados de terem a culpa da violência no futebol.
Mas em 2001 as coisas mudaram. A diretoria do Grêmio decidiu de interromper o contato com as torcidas organizadas, proibir os símbolos delas no Olímpico e a entrada de bandeiras com cabo de bambu, depois de brigas entre algumas facções do clube. Isso foi o começo do crescimento de um movimento paralelo, que já vinha se desenvolvendo no Olímpico há alguns anos. No anel inferior em frente aos lugares das torcidas organizadas encontraram-se alguns torcedores que se definiram explicitamente como não-organizados, em oposição às torcidas tradicionais. Este espaço atrás do gol é conhecido como Geral, e é o lugar para onde eram vendidos os ingressos mais baratos. Eles rejeitaram uma colaboração com a diretoria do clube e queriam simplesmente cantar para apoiar o time. Vaias foram proibidas. Eles se orientaram fortemente nas ‘hinchadas’ argentinas, de cujas canções eles se apropriaram e traduziram para o português. Tanto que eles usam termos espanhóis, como trapo em vez de faixa. O jogo vem em segundo lugar para eles, tanto que muitas vezes eles têm a visão prejudicada. Entre eles existe a obrigação de cantar. Suas canções estão sendo repetidas como mantras por 20 a 30 minutos. Este movimento se chama ‘A Geral do Grêmio’.
Com a proibição dos símbolos das torcidas, a Geral cresceu muito. O movimento explodiu em 2001. A sua criatividade e o seu espetáculo são impressionantes. O símbolo maior da Geral é, além das canções, dos saltos e das bandeiras, a chamada ‘avalanche’. Em cada gol a massa corre até o alambrado e sobe. As câmeras de TV adoram esta cena.
Mas a diretoria do Grêmio foi obrigada a perceber que a Geral não é a solução dos problemas das torcidas. A Geral se diz não-organizada. Isso significa que eles não têm registro de associação civil, nem registro de sócios, nem líderes. A problemática da violência não diminuiu e agora não se tem mais porta-vozes na torcida, que poderiam ser contatados para uma eventual interlocução. A situação ficou fora de controle.

As conseqüências da Geral foram grandes. Os torcedores do rival Internacional não podiam ficar atrás e fundaram a Popular com a mesma filosofia. Mas a diretoria do Internacional estava em alerta por causa da situação do Grêmio e por isso não quis aceitar o status anônimo destes torcedores. Ao contrário do Grêmio, o Internacional decidiu apoiar as torcidas organizadas. Foi criado um registro no clube, onde cada sócio de uma torcida organizada podia se inscrever com carteira de identidade e certidão de antecedentes criminais para obter ingressos de graça. A medida teve um meio-sucesso, porque as torcidas organizadas sobreviveram, mas a Popular não foi evitada. Especialmente as pessoas, que não queriam se registrar e preferiram o anonimato da Popular. Hoje em dia a maior Torcida do Internacional a ‘Camisa 12’ fica ao lado da Popular, separadas por uma área de 10 metros chamada de ‘faixa de gaza’, porque regularmente ocorrem desentendimentos.

Oficialmente a Geral do Grêmio continua não-organizada. Na prática isso parece meio estranho, porque existe uma faixa imensa da Geral em cada jogo e o site na internet é muito profissional. Lá (www.ducker.com.br) se encontram fotos e filmes de todos os jogos no Olímpico dos últimos três anos. O layout é muito bonito.
O exemplo pode ser copiado, porque no Rio de Janeiro já existem as primeiras facções, no Botafogo e no Fluminense, que se apropriaram da filosofia da Geral. Estes movimentos são ainda muito pequenos, mas talvez isso mude. Medidas, como o projeto de registrar torcedores, em São Paulo, devem fortalecer grupos anônimos e não-organizados. Algo que já aconteceu na Europa, quando se tentou derrotar o hooliganismo com pura repressão nos anos 80. A verdadeira diminuição só veio com medidas mais amplas de prevenção e pedagogia.


Por: Martin Curi

Agradecimentos: Chico Rodrigues, Miguel Dagnino e Leo Lovo
Fotos: Chico Rodrigues e Camisa 12

Um comentário:

Anônimo disse...

A Geral se diz nao organizada mas eles tem lideres sim, e ganham ingressos, onibus e dinheiro para despesas em viajens e grande ajuda de custo para fazer akelas grandes faixas, para fazer as barras, eles recebem total apoio financeiro do clube eu sei pq eu convivo dentro do estadio!
enquanto as organizadas hj estão trabalhando independentemente burlando a segurança para color faixa dentro do estadio.