quarta-feira, 6 de junho de 2007

Governador avalia concessão do Maracanã

Lancenet, Eduardo Tironi, Felipe Mendes, Nelson Ayres, 01/06/07

LANCE! conversou com governador do Estado do Rio de JaneiroSérgio Cabral Filho, governador do Rio, que assumiu o cargo em janeiro, foi peça fundamental para os Jogos Pan-Americanos. Quando chegou, o Maracanãzinho era uma das obras mais preocupantes. Hoje, está quase pronto.Nesta entrevista, Cabral fala sobre a concessão do Maracanã neste processo, sobre as relações com o presidente interino do Vasco e a profissionalização total do futebol.

L!:Com tantos atrasos e incertezas, por que o senhor acha que o Pan vai dar certo?

SÉRGIO CABRAL: Eu posso garantir à população brasileira que o Pan vai ser um grande sucesso. Havia muita dúvida sobre as instalações de responsabilidade do Estado. Nós conseguimos enfrentar este desafio com apoio do presidente Lula. Ele foi estratégico com um suporte de R$ 130 milhões. Teremos um Maracanã completamente novo e um Maracanãzinho que vai surpreender a todos. O Estádio de Remo da Lagoa se torna um grande centro de entretenimento e lazer. O Rio se prepara para ser uma cidade olímpica.

L!:O que o senhor encontrou no Maracanãzinho quando assumiu?

SC:O Maracanãzinho estava em petição de miséria. Não tinha nada.

L!:O senhor chegou a temer que não ficasse pronto?

SC:Cheguei. Eu devo muito ao compromisso das construtoras que tocaram a obra. Nós passamos três meses, sem recurso algum. E elas acreditando. Foi quando eu consegui, no final de março. Foi o pênalti mais bem levado do futebol brasileiro (A cobrança de um pênalti feita pelo presidente Lula em que Sérgio Cabral estava no gol do Maracanã no dia da assinatura do convênio de liberação de verbas). Pênalti de R$ 100 milhões. Valeu a pena. Temi muito. Pelo Maracanãzinho e pelo Estádio de Remo. O Maracanã também só tinha metade da obra feita. Do ponto de vista do cronograma, o estádio estava mais avançado. Mas, pelo volume de obras, também era muito preocupante. Nos outros, não havia absolutamente nada feito. Hoje, se você passar por lá, existem milhares de operários. Tudo ficará pronto.

L!:Existe chance de o Maracanã passar para a iniciativa privada?

SC:O secretário Eduardo Paes (Turismo, Esporte e Lazer) está desenhando um condomínio de concessões no Maracanã. Neste desenho, o estádio não estaria incluído inicialmente. Mas, pode entrar neste processo. A Busalen é uma consultoria internacional que está tocando isso. Eu acho que temos de ver o que é melhor para o povo. Muitas vezes, em nome do interesse público, o Estado mantém o controle de coisas que se tornam mais caras e de pior serviço. O Maracanã, do ponto de vista de gestão, precisa ser melhorado. A experiência que temos de concessões ao setor privado é muito positiva. Eu acho que temos condições de avaliar uma gestão privada no Maracanã, não vejo nenhum problema. Temos que dar ao estádio esta feição de modernidade que os grandes estádios do mundo têm.

L!:A idéia do prefeito Cesar Maia de demolir o Julio Delamare é viável?

SC:Eu acho que não tem cabimento. Não vejo com bons olhos.

L!:A segurança é o maior legado do Pan para a cidade?

SC:É um dos maiores. Acho que existe um legado intangível, que é o da imagem. O sucesso do evento tem repercussão internacional. Veja que a procura por ingressos está muito grande. Os equipamentos que vão ficar são extraordinários. Mas, na área da segurança teremos um legado objetivo. Uma nova central de tecnologia extremamente moderna será inaugurada nos próximos dias. Vamos receber 12 aeronaves novas, 13 mil rádios, mil automóveis, vários equipamentos para o Corpo de Bombeiros. Tudo isso ficará no Rio.

L!:Para a candidatura ao Pan foram propostas várias obras de infra-estrutura. Para a Olimpíada e a Copa estas obras voltam a ser propostas. Como o Rio vai tocar estes projetos?

SC:Não posso responder pelo passado. Estamos apostando agora na ampliação da rede de metrô. Vamos levá-lo até Ipanema em três anos, já assinamos o contrato com o BNDES. Vamos aumentar o número de passageiros nos trens de 500 mil para 1 milhão. Já estamos comprando novos trens coreanos. E vamos licitar as barcas até São Gonçalo. Para a Barra da Tijuca, a questão é muito polêmica do ponto de vista econômico-financeiro. As empresas que estudam acham que não é viável. Posso te garantir que o nosso trabalho visa a melhorar o transporte de massa. Temos que melhorar o saneamento, foi outra questão que pegou quando o Rio se candidatou para a Olimpíada. As condições de infra-estrutura para a captação dos Jogos Olímpicos vão estar prontas no momento do pleito. O caso da Copa do Mundo está bem resolvido. A questão do estacionamento é que temos que encarar nos próximos dois anos.

L!:Qual o seu maior temor?

SC:Eu estou muito confiante. Na abertura, eu espero que não chova. Espero que o Brasil tenha um bom desempenho. Mas, não tenho medo da segurança. Acho que vai ser bem tranqüilo, com muita polícia nas ruas, reforço da Força Nacional e das Forças Armadas.

L!:Como vascaíno, como viu a decisão do presidente interino do Vasco de vetar São Januário para o Pan?

SC:Eu não acompanhei este processo. Mas, é um estádio maravilhoso, que poderia ser utilizado.

L!:As relações com Eurico Miranda estão mais amistosas?

SC:Não é uma relação próxima, nem distante. Temos uma coisa que nos une: o Vasco. Posso discordar de seus métodos. Eu apoiei o Roberto Dinamite. Tudo tem um tempo de maturação na vida. Cuba é um país extraordinário e Fidel está como presidente há 50 anos. Eu fiquei oito anos como presidente da Assembléia Legislativa. Mas, você não pode se achar insubstituível. Tanto no Vasco, quanto em outros clubes, quanto em outras áreas. Eu acho que o Eurico já deu sua contribuição. Mas, tem que haver um rodízio. Isto é importante para as instituições.

L!:Em federações e confederações esportivas também?

SC:Tudo tem que passar por um rodízio. É a minha opinião.L!:Como o senhor vê a situação da Federação de Futebol do Rio, que deve ser alvo de investigações de uma CPI na Assembléia Legislativa? SC:O poder público participar e acompanhar é muito importante. Acho que o Legislativo tem a capacidade de se inserir neste processo e colaborar. Eu tentei, em 1993, como deputado, fazer a CPI do Apito, denunciando a manipulação de resultados. A Justiça disse que aquilo não era assunto para ser tratado no Legislativo. Eu lamentei. Havia dados e denúncias consistentes. Tudo o que altera os resultados é regido pelo princípio de direito do consumidor.

L!:O futebol brasileiro ainda é amador demais?

SC:Minha opinião sobre futebol é a seguinte: eu acho que falta muito profissionalismo ao futebol brasileiro. Eu, como vascaíno, não teria nenhum problema se o Vasco tivesse uma empresa que fosse a dona da marca Vasco. Como acontece na Europa. Qual é o problema disso? O que é que isso fere o meu amor pelo clube? Isso é uma hipocrisia. Eu gostaria que o Vasco estivesse nas mãos de uma empresa privada, buscando lucros, a prosperidade e o lucro da empresa dona do Vasco. Quanto custa a marca? A meu ver, isso não era uma coisa a ser decidida pelos sócios do clube, que querem mergulhar na piscina e usar a sauna.

L!:O próprio Vasco já teve uma empresa investindo no clube...

SC:Mas, com esta lógica do clube. Se eu vou botar dinheiro no Vasco, eu quero gerir o clube, ter a capacidade de gestão, dizer quem eu compro, vendo, coloco como técnico, quem é o meu preparador físico. Quero discutir na Federação qual é o calendário ideal. A gestão da natação, dos outros esportes ficaria com o clube, mas o Estádio de São Januário e o futebol você licitava. Abria, avaliava o passivo, o lucro operacional, contratava uma empresa para avaliar minha marca. Quem é o dono do Arsenal, do Chelsea? Deixou de ter torcedor por ter um dono? Se quebrar, ele vende. Vai ter uma massa de consumidores em cima dele. Isso vai gerar movimentação na área social, pois vão querer captar atletas. É a mesma lógica do empresário de futebol. O empresário tem que existir, mas por que não se profissionalizou o clube também? O clube vai começar a investir em escolinhas profissionalizadas. Hoje, é feito isso de uma maneira amadora, rude. L!:Esta idéia se aplica ao Maracanã?

SC:Claro que sim, guardadas as proporções. Não há um comprador do Maracanã. Por que o estádio não pode ter uma empresa que administre o Maracanã por um período? Certamente, ela vai querer torcedores. Vai fazer algo viável, assim como um cinema, um restaurante. Depois do Pan, nós vamos definir isso.

L!:O senhor planeja ser presidente do Vasco?

SC:É o meu sonho. Mas, se existir uma empresa, eu me habilito. Quero ser o presidente da empresa que vai comandar o Vasco. Senão, vou disputar a eleição. Veja bem: é justo que os destinos do futebol do Flamengo sejam definidos pelos moradores da Selva de Pedra (condomínio de prédios em frente ao clube)? Ali, é um playground dos moradores e de outros, como eu, que sou sócio. É justo que eu decida quem vai decidir a compra ou a venda do Obina? Quantos sócios votam no Flamengo e no Vasco? 3 mil? É um democratismo, uma distorção da democracia. Futebol é negócio. Eu vou votar para a manutenção da piscina, para a contratação dos professores de tênis. Se temos atletas de nível competitivo em outras modalidades, fazemos um núcleo profissional.

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