terça-feira, 17 de julho de 2007

Confusão na hora de estacionar no Engenhão

Jornal do Brasil17/07/07

Confusão na hora de estacionar no Engenhão

Felipe Sáles

Menina dos olhos do prefeito Cesar Maia, o Estádio João Havelange, o Engenhão, é também o emblema da desordem urbana que predomina na cidade - sob a benção da prefeitura. Ontem, enquanto agentes da CET-Rio relaxavam a proibição de estacionamento nas vias ao redor do estádio, a Guarda Municipal - que não foi avisada da tolerância imposta pelos agentes - multava à vontade os inúmeros veículos estacionados sobre as calçadas das ruas interditadas. Em cinco dias de Pan, os guardas aplicaram 2.689 multas - ou 537 a cada dia.
Com as obras do estacionamento - que teria capacidade para 1.660 vagas - ainda não concluídas, o público que vai ao estádio de carro para ver os jogos ou comprar ingressos tem estacionado nas ruas que dão acesso ao Engenhão, seguindo recomendação dos próprios agentes da CET-Rio - e contrariando a portaria publicada dia 22 de junho no Diário Oficial do município. Segundo os agentes, a "medida" foi adotada porque o fluxo de veículos ontem foi menor, mas a Guarda Municipal não foi avisada e multou vários motoristas. Segundo agentes da CET-Rio, o estacionamento continuava proibido "por questões de segurança" apenas nas ruas que circundam o estádio.
- Houve ume tolerância maior porque está mais tranqüilo. Estamos fazendo o possível para não prejudicar moradores e público. Infelizmente não há estacionamento e o único lugar disponível é a calçada - explica um agente, sem se identificar.
Quem estacionava na rua José dos Reis - que passa em frente ao estádio - por exemplo, era aconselhado a pôr o carro nas calçadas de vias transversais como as ruas Luís de Abreu, General Clarindo e Bento Gonçalves - todas interditadas e com galhardetes e placas avisando a proibição. Na Rua Guilhermina, também interditada, um guarda aplicou seis multas em menos de duas horas, todas por estacionamento irregular.
Os carros corriam o risco também de serem rebocados. De sexta-feira até o meio-dia de ontem, a CET-Rio rebocou 123 veículos, principalmente no Maracanã e no Engenhão. Para resgatar o carro num dos três depósitos da prefeitura, o motorista é obrigado a pagar R$ 77 pelo reboque, além de diárias de R$ 38. Já as multas por estacionar nas calçadas custam R$ 53 e três pontos na carteira.- Vim tentar comprar ingresso e um agente deixou estacionar na calçada de uma das ruas, mas vi que havia muitas placas ameaçando até rebocar o carro. A gente não sabe bem o que pode ou não, cada um diz uma coisa - reclama a aposentada Jussara Cotta,de 55 anos.
Moradores também estão insatisfeitos com o novo trânsito ao qual têm de se acostumar.O comerciante José dos Santos Batista, 60 anos, quase teve o carro rebocado no domingo e reclama por já ter de pagar R$ 60 para deixar um de seus carros num estacionamento.
- A placa informa uma coisa e os agentes dizem outra. E ninguém nunca nos perguntou como poderiam fazer, só fomos comunicados. É uma imposição arrogante - irrita-se.A assessoria da Secretaria Municipal de Transportes disse que, oficialmente, a determinação é de que os agentes cumpram o esquema de trânsito previsto e que eles serão procurados para informar sobre o caso.
Por e-mail, Cesar Maia informou que o secretário de Transportes, Arolde de Oliveira, se pronunciaria sobre o caso, o que não aconteceu até o fechamento desta edição.
Ao todo, o Engenhão possui 17 vias interditadas para trânsito e estacionamento em dias de jogos. A Guarda Municipal trabalha com 29 profissionais no trânsito do Engenhão e a CET-Rio com cerca de 50 operadores de tráfego e três rebocadores.
Flanelinhas agem ao lado de agentes da CET- RioO Engenhão não é o único estádio a enfrentar a desordem urbana. Ao redor do Maracanã, o problema acontece com flanelinhas que agem livremente ao lado da polícia e de agentes de fiscalização de controle urbano da Secretaria de Governo.
Apesar de o trânsito fluir sem muitas retenções em frente ao Maracanã, muitos torcedores rejeitaram o pedido da prefeitura e foram de carro ao estádio.
Agentes da CET-Rio tiveram mais trabalho informando locais de estacionamento do que propriamente controlando o tráfego. Mas, enquanto guias cívicos e guardas municipais se concentravam na Avenida Maracanã, na Rua Professor Eurico Rabelo cerca de cinco flanelinhas atuavam livremente.
Os flanelinhas competiam com apenas um funcionário do Vaga Certa, da prefeitura, e cobravam R$ 5. Perguntado se não iria reprimir a ação dos flanelinhas, um agente da fiscalização de controle urbano da Secretaria de Governo informou que estava ali apenas para reprimir ambulantes. Uma família que veio de Brasília especialmente para ver os jogos do Pan foi assediada por dois flanelinhas quando tentava estacionar o carro.
- Nos assustou à princípio, mas o valor cobrado foi pouco - ameniza a comerciante Taís Trindade, de 34 anos, ressaltando ainda que ela e a família não cumprirão o pedido da prefeitura de usar transporte público.
- É mais fácil de carro, principalmente para quem não conhece direito a cidade. Nos sentimos mais seguros.
Já a contadora Ana Maria Pires, de 44 anos, se recusou a pagar flanelinhas e buscou vaga junto ao funcionário da prefeitura. Ela diz que optou pelo carro para ir ao Maracanã devido à praticidade, mas que não fará o mesmo no Engenhão.
- Lá o problema não são nem os flanelinhas, mas os constantes roubos de carro na região - diz.

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