Bola Virtual: A seleção brasileira pertence ao torcedor brasileiro
11/07 - 19:50 - Alberto Helena Jr.
Com expressão retorcida, depois do jogo, vociferou sua filosofia nos microfones: “Todo time precisa sofrer pra crescer!”. Não é necessariamente uma idéia nova, nem desprovida de algum fundamento. Zenon de Cicio, três séculos antes de Cristo, já pregava algo parecido; o ideal do sábio é a impassibilidade diante do sofrimento. Chamaram a isso estoicismo.
Confesso que me inclino mais para o hedonismo, corrente filosófica antagônica que recomenda a turma a usufruir aqui e agora todos os prazeres ao seu alcance, já que este é o único bem possível, princípio e fim da vida moral. Eu, e, desconfio, toda a torcida brasileira, mal acostumados ao inexcedíveis prazeres que nossa escola de jogar futebol nos propiciou ao longo da história, com os interregnos de praxe.
Sucede que nós não somos os protagonistas do espetáculo; somos meramente a platéia, embora a obra toda se destine ao nosso deleite, não dos atores, ainda que eles possam tirar os proveitos inerentes ao seu ofício.
Por isso, apenas vinte e dois marmanjos correm atrás de uma bola num campo verdejante, sob os gritos de dois treinadores, enquanto milhares de nós ocupamos as galerias e milhões ficam de olhos pregados na telinha da tv.
Portanto, é a nós, espectadores, que o jogo da Seleção deve agradar, não ao técnico, aos jogadores, ao presidente da CBF e todos os demais produtores do espetáculo. Eles recebem respeitável remuneração, extraída dos nossos bolsos, de forma direta ou indireta.
E, nessa espinhosa caminhada do nosso time na Copa América não encontrei uma única alma viva que esteja satisfeita com o desempenho do time, ainda que, por vias tortas, tenha chegado a um passo do título, que, todos concordam, apesar de tudo, pode perfeitamente ser conquistado.
Sim, sei bem que a mídia à qual pertenço por profissão, tem um dever maior: intermediar o fato e o público em geral. Tentar entender o que se passa nas entranhas de um time para orientar o entendimento do leitor, do telespectador, do ouvinte de rádio e internautas.
A voz do povo nem sempre é a voz de Deus. Não raro, a chamada opinião pública comete equívocos de avaliação trágicos, assim como a própria mídia, sobretudo aquela que só sabe cortejar a platéia, na busca de maior audiência.
Fazer esse meio-de-campo entre a Seleção e o torcedor, no caso, exige muita sintonia fina, seja para aplacar iras injustas da galera, seja para oferecer respeitável remuneração, extraída dos nossos bolsos, de forma direta ou indireta.
Nem se deve afiançar as naturais explosões emocionais do torcedor, nem se deve trocar de lugar com o técnico, e avalizar suas decisões, ainda que equivocadas. Sim, claro, é uma posição cômoda, num aspecto, e muito incômoda, em outros. Se o crítico não tem que assumir o ônus das decisões sobre o espetáculo, por outro lado, corre sempre o risco de virar o marisco entre as ondas e o rochedo.
E olhe que estamos falando especificamente de um jogo, onde o acaso é elemento essencial.De qualquer forma, sim, o atleta, o competidor, não só o futebolista, se forja no sofrimento dos treinos incansáveis, da tensão permanente etc. Mas, em busca do quê? Da excelência, do que hoje eles convencionaram chamar de o melhor.
Sofrer para ganhar eventualmente uma Copa América, aos trancos e barrancos, é, no mínimo, um desperdício de energias, por mais que os hermanos tenham evoluído e por mais que tenhamos involuído, tecnicamente. Nesse caso, retiro do baú, o velho choro de mestre Pixinguinha e Benedito Lacerda: Sofres porque queres.
Muito mais salutar seria sofrer em busca de um futebol bonito, bem jogado, ao estilo brasileiro, arriscando-se a perder ou ganhar, praticamente na mesma probabilidade, mas plntando um sorriso hedonista em todos nós. E não esta carranca de desagrado, ainda que vencendo.
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