segunda-feira, 20 de agosto de 2007

Entrevista UTB 1

Caros leitores,

A UTB decidiu entrevistar torcedores de todo o Brasil, que representem alguma torcida ou um site que aborde temas de torcedores. As entrevistas serão usadas para um mapeamento da situação atual dos torcedores brasileiros. Quais suas opiniões e interesses? Quais seus problemas?

Vamos começar hoje, falando com Luiz Carlos Betenheuser Júnior, um dos editores do site www.coxanautas.com.br da torcida coritibana.

1. Quem é você?

Luiz Carlos Betenheuser Júnior, 38, Sócio do Coritiba, editor do www.coxanautas.com.br .

2. Descreva seu site: por que foi criado, qual é sua proposta?

O site surgiu em 96, oriundo de uma lista de discussão entre torcedores. Em dez anos, muito mudou, o site tornou-se um referencial nacional quando o assunto é o Coritiba. Atualmente, o objetivo do site é ser um canal de representação da torcida, inclusive para além do mundo virtual.

3. Em quais aspectos, o estádio do seu time é diferente dos outros?

A qualidade de visualização do gramado em qualquer setor do estádio é um dos destaques. É um dos mais centrais estádios brasileiros com grande capacidade (40 mil torcedores).

4. Qual é o maior problema do estádio do seu time?

Estar incompleto. Falta a conclusão de um anel da reta da Mauá.

5. O que você acha sobre estádios que não possuem a geral e onde existe a obrigação de se sentar em cadeiras numeradas?

Um contra-senso. Na prática, é uma medida meramente mercantilista, disfarçada de uma tese de “Estatuto de Defesa do Torcedor”. O povo brasileiro é um povo essencialmente adepto da mobilidade, da interatividade com o jogo. Querer transformar uma cultura é uma besteira.

Logo vão querer ditar normas de conduta do que deve ser vestido, do que deve ser comido, do que deve ser falado. Futebol não é tênis.

Esta estratégia de mercado é elitista e perde o conceito fundamental do esporte no Brasil: o de ser popular.


5. Qual é, atualmente, a manifestação mais bonita da torcida do seu time?

Cantar “Coxa eu te amo! Coxa eu te amo!” em qualquer situação do jogo, independente de resultados.

6. Quais são os pontos positivos e negativos na relação entre o Coxanautas.com e a diretoria do seu time?

A diretoria dos senhores Giovani Gionédis e André Ribeiro fazem um trabalho contra o site. Nesta atuação, velada ou não, usando-se de artifícios infantis e até irresponsáveis em se tratando do interesse de uma coletividade – veto de entrevistas dos profissionais do Clube, veto ao acesso aos treinos, jogos e entrevistas coletivas, veto ao uso de fotos oficiais do elenco -, agora o clube firma um contrato que poucos sabem quais são as cláusulas para incentivar um site de rádio virtual, no qual a bandeira maior é a defesa dos dirigentes, e não da Instituição Coritiba Foot Ball Club.

Criaram, na prática, apesar do disfarce mal feito para quem é mais astuto, um site oficial da Diretoria Administrativa do Clube, em que a palavra de ordem é defender a qualquer custo as ações dos dirigentes, fingindo que o Clube não tem problemas.

7. Como você avalia a atuação da polícia em dias de jogo no estádio do seu time? Qual o tipo de relação vocês têm com a polícia?

Melhorou muito na última década. Existe um trabalho preventivo, que poderia ser ampliado, é verdade, mas que trouxe resultados.

Apenas a imprensa não faz o papel dela, não divulgando os serviços de jogo com as orientações aos torcedores para evitar confrontos fora dos estádios.

Existe uma parceria interessante com a Polícia e o Ministério Público, envolvendo o COXAnautas, a ONG Coritiba Eterno e a Império Alviverde, a principal torcida organizada do Clube. O projeto, chamado “Torcida Social”, visa a pacificação de torcedores e o trabalho do Terceiro Setor.


8. Existem restrições em relação ao material da torcida no seu estádio?

Diferente do estádio da Baixada, do A. Paranaense, no Couto Pereira, estádio do Coritiba, todos estes materiais são liberados.

Inclusive os sócios que ficam nas cadeiras inferiores – e não fazem parte de torcidas organizadas – levam sinalizadores aos jogos, numa festa muito elogiada por outros segmentos de torcidas.


9. Existem problemas em relação à discriminação racial, social ou sexual na torcida do seu time?

Não. Existem campanhas pelo COXAnautas para crianças e mulheres irem ao Estádio Couto Pereira, inclusive com premiações específicas para estes segmentos da população.

O Coritiba já sofreu muita discriminação, especialmente no período das duas grandes guerras, por ser um clube fundado por alemães.

O apelido Coxa surgiu de uma situação ofensiva, criada por um ex-dirigente do A. Paranaense, revoltado com a derrota do seu time num clássico AtleTiba.

Naquele jogo, em meados do século XX, o Coritiba tinha um zagueiro de origem alemã, Bayer, de pele muito clara. O dirigente do time da Baixada o ofendia com termos racistas “Coxa-Branca, quinta coluna”, numa analogia à cor da pele e origem étnica.

Aquilo que era para ser pejorativo foi adotado pela própria torcida do Coritiba e virou marca registrada do Clube, o apelido “Coxa”.

Os dois jogadores que mais atuaram pelo Coritiba, são jogadores negros ou mulatos. O Verdão foi o primeiro clube curitibano a ter um jogador negro no time, isto durante a década de 1930. O negro Jairo (goleiro) e o mulato Nilo (lateral-esquerdo), ambos com passagem pela seleção brasileira, têm mais de 400 jogos pelo Clube.

Na última década, o jogador que mais vestiu a camisa do time Coxa foi Reginaldo Nascimento, atleta negro, ex-capitão do time. Nascimento é um dos 10 atletas com mais jogos pelo Clube em toda a história. Ainda hoje, é muito respeitado pela torcida, mesmo tendo deixado o Coritiba em 2005.


10. Você viaja com seu time? No caso de sim: Quais as suas experiências? Qual foi sua melhor e pior viagem e por quê?

Eventualmente. A melhor, Florianópolis, 2006. Mais de 3.500 torcedores do Coritiba invadiram a capital catarinense. No primeiro tempo, o Avaí ganhava de 1x0. No tempo final, a torcida começou a cantar uma única música, “Cooooxaa!!!”, sem parar. O time virou o jogo e a manifestação popular da torcida do Coxa foi motivo de elogios por parte da imprensa local.

A pior, também em Florianópolis, em 2005, contra o Figueirense. Após o jogo, covardemente a torcida do time local tentou agredir a torcida do Coritiba. Eram cerca de 80 contra 15 torcedores. A torcida Coxa revidou e a polícia montada precisou separar as torcidas.


11. Quais as suas expectativas em relação à Copa 2014?

Nenhuma. Não me interesso pela Copa. Só me interesso pelo Coritiba.

Muito obrigado, Luiz!

Um comentário:

Leonardo Lovo disse...

O Luiz é um exemplo de torcedor não apenas para os adeptos do Coritiba, mas tb para torcedores de outros times, de um modo geral. Consciência e dedicação fazem parte do perfil desse grande Coxa-Branca. Está aí a entrevista dele que não me deixa mentir.

Abraço aos amigos Luiz e Martin, que fazem o que podem pelo engrandecimento do futebol.