Por ANNA MAGAGNIN
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Em uma segunda-feira qualquer do ano de 2027, meu filho de quinze anos lê as reportagens sobre a última rodada do Campeonato Brasileiro.
Era dia seguinte a um gre-nal e todos ficavam atentos as reportagens pós jogo, já que as transmissões dos gre-nais haviam sido suspensas, cinco anos antes, a fim de evitar conflitos.
Meu filho gosta de futebol e semana passada estava encantado com o clássico Fla-Flu que passou na tevê.
Tinha até torcida no estádio.
O Colorado venceu o gre-nal em questão, mas ele parecia triste.
- Que foi filho, virou gremista que não tá feliz com a vitória do Inter?
- É que eu tava pensando, gre-nal é um clássico do futebol brasileiro?
- Claro!
- Como o Fla-Flu?
- Sim, igual. São dois times rivais disputando um jogo. Que pergunta...
- Mãe, mas que clássico é esse que o estádio fica fechado? Que as torcidas não podem ver pela televisão? Esse jogo mais parece um treino. Nos lances que eu vi, parece que os jogadores não tão nem aí.
- É, mas um dia foi diferente...Aí comecei a contar pra ele um pouquinho sobre a história dos Gre-Nais.
Os olhinhos do meu colorado brilharam.
Contei pra ele, que tanto o estádio do Grêmio, quanto o Beira-Rio em dia de Gre-Nal lotavam, sendo quase metade azul e metade vermelha.
Que as pessoas iam juntas ao Gre-Nal, um com cada camiseta.
Que quando o Gre-Nal era no Olímpico, os colorados se encontravam no Beira-Rio e iam até o Olímpico.
Quando a violência começou a aumentar iam escoltados pelo polícia.
Que isso unia muita torcida.
Uns iam para divisa do portão no estádio e ficavam xingando o adversário.
Que todo jogador quando vinha para um time do Sul queria jogar Gre-Nal.
Que o Pato, mesmo depois de ser o melhor do mundo, dizia que um dos remorsos da vida dele era não ter jogado um Gre-Nal.
Que Dunga e Ronaldinho Gaúcho disputaram um Gre-Nal.
Que parecia final de campeonato. As pessoas lotavam os bares. E depois do jogo, era um buzinaço só.
Tinha uma cidade do interior, em que eles brincavam de os perdedores puxar a carroça com os ganhadores dentro.
Que muita gente fazia aposta.
E durante a semana que antecedia o clássico, só se falava nisso na rua.
E no dia seguinte quem ganhava tinha a sua cor brilhando pela cidade.
O treinador que ganhava o Gre-Nal, podia colocar isso no currículo. E que ganhar na casa do adversário era motivo de alegria maior.
Conto pra ele do Gre-Nal de inauguração do Olimpico, antigo estádio gremista, em que o Inter ganhou de 6x2.
Falo dos 5x2 e da atuação de Fabiano Cachaça, em 1997.
Conto do grenal do século, conto do Fernandão e o gol 1000 em grenais, e como aquele jogador começou a se revelar depois daquele grenal.
Conto o Gre-Nal em que vi o Inter perder o título gaúcho em casa e como foi difícil ver a torcida do Grêmio cantar no Beira-Rio.
Até consegui mostrar uns vídeos pra ele. O guri vibra, era só alegria.
E conto que, na idade dele, eu vivia a rivalidade, pois presenciei o primeiro título mundial do Inter e de como isso afetou a rivalidade Gre-Nal.
- Bah mãe, mas era um festa linda. E como chegou a isso que é hoje?
- Ah, primeiro eles começaram a diminuir os espaços da torcida adversária.
É que dava muita briga.
Depois tiraram a bebida dos estádios.
Depois aumentaram o policiamento para dias de Gre-Nal, até o ponto em que o governo disse que não tinha homens suficiente para proteger os torcedores.
Teve umas mortes nessa época.
Aí, eles resolveram que seria torcida única.
Mas o adversário esperava nos entornos do estádio.
E teve muitas brigas feias nessa época também.
Aí decidiram fechar os portões.
Só que os donos dos bares começaram a reclamar dos prejuízos pelas frequentes brigas.
E jornalistas começaram a ser ameaçados.
Por segurança, decidiram que nenhum gre-nal mais seria transmitido, nem por televisão nem por rádio.
E gre-nal gerava dinheiro, mas sem transmissão, muitos empresários convenciam seus jogadores a boicotar o clássico.
E hoje só se escala reserva em gre-nal. A violência terminou com o brilho do gre-nal, essa que é a verdade.
- Mãe, mas quando essa violência chegou a esse ponto, tanta que começaram a cortar tudo. que tinha de bom num Gre-Nal?
- Ah, foi quando a minha geração era maioria nos estádios....
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