terça-feira, 30 de outubro de 2007

Gargalos da economia real desafiam Mundial

Folha de São Paulo

País vive crise com provisão de cimento, energia e com estrutura aeroportuária

Fifa exige que não faltem eletricidade e espaços exclusivos nos aeroportos; preço de insumo vai fazer custo dos estádios crescer

EDUARDO OHATAPAULO COBOSDA REPORTAGEM LOCAL
Se a Fifa confirmar amanhã o Brasil como sede do Mundial de 2014, o que parece certo, será a hora de os organizadores enfrentarem os gargalos que travam o crescimento do país.O Mundial vai exigir muito cimento, segurança elétrica, espaço nos aeroportos e transporte, tudo que com ou sem a competição é um problema nacional para os próximos anos.
Em documento chamado "Acordo para sediar a Copa", a Fifa diz que "é imperativo que a queda de energia não leve ao cancelamento ou adiamento de um jogo ou de uma transmissão pela TV". No Pan, a energia caiu no Riocentro e no Engenhão.
O próprio presidente Lula não garante a oferta de energia (uma incógnita na próxima década) de acordo com a demanda para depois de 2010, quando acaba o seu segundo mandato.
O Instituto Acende Brasil, que representa os principais investidores privados em energia, calcula em 14% o risco de racionamento em 2011.
"É necessário atrair investidores para outras hidrelétricas, investir em energia da cana-de-açúcar, e o país não pode crescer no estilo chinês, tem que continuar em 4%. Se crescer muito, em 8%, vai haver problemas", afirma Rafael Schechtman, diretor do Centro Brasileiro de Infra-Estrutura.
Nas suas exigências para um país organizar um Mundial, a Fifa pede postos de "check in" exclusivos para as pessoas envolvidas na competição nos aeroportos do país-sede.
A falta de espaço para esses postos é um dos pilares da crise aérea, principalmente nos aeroportos mais movimentados.Se conseguir um espaço reservado, a Fifa irá enfrentar a ira de Paulo Candiota, presidente da Associação Nacional de Defesa do Direito do Passageiro do Transporte Aéreo.
"Eles querem criar uma casta privilegiada fora do apagão aéreo. Mas não vão conseguir fazer isso. [A idéia de um "check in" para a família Fifa] parece totalmente inviável. Nem há balcões nos aeroportos para atender a todo mundo. Não acho que as companhias aéreas vão conseguir operacionalizar isso", afirma Candiota, que não descarta uma ação judicial contra o "privilégio" dado à Fifa.Em algumas regiões do país, como no Centro-Oeste, vem faltando cimento, o insumo básico para construção e reforma de estádios em massa que a Copa exige. A indústria do setor diz que foram problemas pontuais e que a demanda para os estádios, por seu porte, não tem como afetar a oferta, que, segundo ela, está garantida.Mas os custos vão aumentar. Segundo projeção da consultoria Tendências, o preço do cimento deve subir 8,5% neste ano e 10% em 2008.
Isso significa que para a edificação de um estádio do porte do Engenhão, por exemplo, um aumento de cerca de R$ 1,5 milhão no custo da obra.
"O preço [do cimento] será o de mercado, mas nossos preços são os mais competitivos do continente americano", diz José Otavio Carvalho, secretário executivo do Sindicato Nacional da Indústria do Cimento.
A Fifa também trabalha com a hipótese de o trem-bala planejado para ligar Rio e São Paulo estar pronto em 2014. Mas isso hoje parece ficção. Mesmo que os planos atuais tenham sucesso, a projeção é que a ferrovia, que ligaria as cidades em pouco mais de duas horas, só deve estar finalizada em 2015, quando a Copa será passado.

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