terça-feira, 13 de novembro de 2007

A Copa de 2014 já começou

São Paulo, domingo, 11 de novembro de 2007

JUCA KFOURI

Com a mobilização fiscalizadora da sociedade brasileira, a Copa no país pode ser um pontapé inicial

T ÃO LOGO o Brasil foi homologado como sede da Copa de 2014, o diretor executivo da ONG "Transparência Brasil", Cláudio Weber Abramo, telefonou para propor a criação de um "Observatório da Copa".

No dia seguinte, chegou uma mensagem do pessoal da revista "Trivela" com proposta semelhante. Nela se propõe a reunião de alguns veículos de imprensa sob o selo "Fiscalize a Copa". E na semana passada, nesta Folha, o empresário Benjamim Steinbruch, presidente da Companhia Siderúrgica Nacional, propôs o "Fiscopa-2014", antes mesmo que o primeiro dólar entre no país. Bom sinal, ótimo sinal para todos aqueles que acreditam que o Brasil possa se beneficiar com o evento, mas que querem que o benefício seja geral, não apenas para o grupo que comandará a organização. Porque a sociedade brasileira tem todos os motivos para ficar com pé atrás em relação ao que possa acontecer no futuro próximo exatamente pelo passado recente dos comandantes da empreitada. Se não bastasse, temos o exemplo do Pan-2007, cujos resultados mais explosivos ainda estão por vir, via Tribunal de Contas da União -e já tardam, por sinal. Daí a importância de ampla mobilização para fiscalizar cada passo, com o que poderemos ter, também, uma Copa cidadã e, quem sabe, o estabelecimento de novos usos e costumes no Brasil, avesso ao simplesmente ver a banda passar. Não vai aqui nenhum sentimento do tipo o Brasil tem outras prioridades - como aqueles que se opunham que o homem fosse à Lua enquanto passasse fome na Terra. Porque sabemos que uma coisa não exclui necessariamente a outra e nem são interdependentes. Em bom português: não organizar a Copa está longe de significar que o investimento será destinado às nossas prioridades e organizá-la não quer dizer que estas serão, obrigatoriamente, neglicenciadas. Há, sim, mil motivos para ficarmos vigilantes e alguns bastidores que cercam o começo das conversas em torno da Copa são eloqüentes neste sentido. Por exemplo: Pelé foi chamado para uma reunião com Ricardo Teixeira e lhe foram oferecidos R$ 350 mil por mês para estar próximo do cartola em tudo que dissesse respeito à Copa. Para profunda surpresa, e desagrado, do Rei, no entanto, seu ex-sócio e desafeto Hélio Viana estava presente à reunião. Como gato escaldado, Pelé conta que, polidamente, agradeceu o convite, mas declinou. E em reencontro que tivemos por ocasião do jantar dos dez anos do diário "Lance!", na última segunda-feira, ele foi taxativo: "Pô, topei pagar um dinheirão na Justiça para nunca mais ter que ver o cara e na primeira reunião que o Ricardo me chama ele está junto?!", desabafou. Fica claro, pois, o teor da entrevista que Pelé deu e Mônica Bergamo publicou nesta Folha, também na semana passada, quando disse que "dessa vez, a culpa não é do coitado do Ricardo" para explicar sua ausência na cerimônia da Fifa. Não é, mas foi. Porque parece que Pelé cansou de ser usado e anda mais cauteloso com sua imagem. Ainda bem.

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