segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

Copa deixa governo e empresas eufóricos

Folha de SãoPaulo 02.12.07

Privado e público adotam postura desenvolvimentista

EDUARDO OHATAMARIANA BASTOSDA REPORTAGEM LOCAL

O Pan é passado. A Copa de 2014 é vista como a chance de o Brasil mostrar que é capaz de deixar um legado em infra-estrutura e se redimir dos erros cometidos neste ano no Rio.Esse foi o discurso eufórico adotado tanto pelo governo quanto pela iniciativa privada no Enaenco (Encontro Nacional de Empresas de Arquitetura e Engenharia Consultivas), cujo principal foco era discutir a infra-estrutura da Copa, na última semana, em São Paulo.
Diante de uma platéia repleta de empreiteiros, Marta Suplicy, ministra do Turismo, sugeriu que o Mundial será a alavanca para o crescimento do país nos próximos sete anos.
"Segundo especialistas que consultamos, uma Copa promove 50 anos de desenvolvimento no país. Nós não podemos perder essa oportunidade", disse Marta, adotando sem pudor o desenvolvimentismo de Juscelino Kubitschek.
A crença de que haverá um boom de investimento privado no setor de infra-estrutura, negligenciado no Rio, é compartilhada por representantes da indústria de base. Empresários do setor, cujos empreendimentos foram beneficiados pela criação do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), crêem que a Copa dará um impulso ainda maior ao país.
"Eu diria que a Copa corresponde a 10 PACs. A oportunidade que a Copa dá ao Brasil para crescer é muito superior ao PAC", afirmou Paulo Simão, presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção.
"Já há, inclusive, investidores externos que têm a intenção de aplicar dinheiro aqui", completou, sem citar quais seriam essas empresas.Segundo dados do Ministério do Esporte, na Copa do Mundo da Alemanha, a maior parte dos investimentos foi feita em estradas e infra-estrutura. Na África do Sul, o gasto com infra-estrutura será três vezes maior do que a realizada em estádios."
"Metade dos investimentos feitos na Alemanha foram de origem privada. Acho que, se o Brasil atingir essa proporção, já está ótimo. Não creio que o investimento privado seja maior do que 50%", calculou, de modo otimista, Ralph Terra, vice-presidente da Associação Brasileira de Infra-estrutura e das Indústrias de Base, que têm 160 empresas associadas, responsáveis por 15% do PIB nacional.
Segundo Terra, os principais setores nos quais as empresas querem investir são transporte (por meio de parcerias público-privadas) e energia (por concessão pública).
Em referência ao PAC, o ministro do Esporte, Orlando Silva Jr., citou orientações dadas a ele pessoalmente por Lula. "
"O presidente Lula pediu uma radiografia do projeto de cada cidade para cruzar essas informações com o estabelecido no PAC e encontrar uma zona de intersecção larga", argumentou Silva Jr., ao mencionar portos, aeroportos e rodovias.Porém há opiniões divergentes sobre essa questão. "
"Nós pensamos na Copa em 12 cidades, mas a maioria não é contemplada pelo PAC, cujos projetos estão concentrados em grandes centros, como Rio e São Paulo", diz Terra.

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