segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

"Nós não vamos falar de futebol?"

Folha de São Paulo, domingo, 02 de dezembro de 2007

JUCA KFOURI

O cartola da CBF quer falar somente de futebol. E os governadores da Bahia e do Pará só falam em implosões

R ICARDO TEIXEIRA passou a segunda-feira passada mais irritado que o normal, coisa que Dunga procura mimetizar à risca.
E perdeu a paciência, numa cerimônia com o prefeito do Rio, Cesar Maia, quando os repórteres fizeram pergunta obrigatória, sobre os sete mortos na Fonte Nova: "Nós não vamos falar de futebol?", indagou duas vezes o presidente da entidade responsável pela organização do jogo que matou tanta gente. O cartola queria falar de futebol, assunto que não domina. Só mais tarde, lembrou-se de botar na página da CBF uma nota oficial em solidariedade às famílias dos mortos e às dezenas de feridos. E se esqueceu de determinar que os jogos da Série A do Campeonato Brasileiro, o que a TV passou para todo o país, entre Corinthians e Vasco, inclusive, tivessem um minuto de silêncio em homenagem aos torcedores que morreram por causa da paixão deles pelo futebol e da irresponsabilidade de todos que têm a ver com um jogo de futebol num estádio estadual. A começar pela CBF, organizadora do campeonato da Série C, já julgada e condenada mais de uma dezena de vezes com base no Estatuto do Torcedor, por juízes de diferentes Estados da Federação, como inequívoca responsável maior pelo que acontece nos jogos dos torneios que comanda. E a continuar, no caso, pelo governo da Bahia, dono da Fonte Nova, assim como a Federação Baiana de Futebol e o próprio Bahia, mandante da partida. O governador baiano, Jaques Wagner, chegou, em 48 horas, à conclusão mais simplória e, aparentemente, precipitada: "Vamos demolir a Fonte Nova". Mesma conclusão, por sinal, da governadora do Pará, Ana Júlia Carepa, que quer implodir o presídio que abrigou a atrocidade de ter uma adolescente presa entre homens numa cela infecta. É como se ambos os dois (Camões autoriza a redundância!) ex-combativos militantes petistas, embora no partido permaneçam, tivessem resolvido tirar o bode da sala como se fosse a solução. Ambos, aliás, estavam no vôo da alegria por ocasião da homologação da candidatura brasileira para sediar a Copa de 2014, na Fifa, em Zurique, na Suíça, devidamente acompanhados por tucanos e outros bichos semelhantes e estranhos à raça humana. Sim, porque implodir a Fonte Nova, o Maracanã e o diabo a quatro é tudo o que essa gente quer, para felicidade geral dos empreiteiros e publicitários da escola ValérioDuda$ e assemelhados. Longe deste colunista supor que, no fundo, no fundo, houve quem se alegrasse com a morte dos torcedores, por serem a prova de que é preciso construir, construir e construir arenas, sem se esquecer das comissões individuais e das campanhas eleitorais, razão pela qual a demolição virou moda e o esquecimento do minuto de silêncio apenas ato falho. Longe disso. Afinal, o colunista quer falar de futebol e nada mais propício que este domingo, em que o Corinthians pode cair para a Série B e o Palmeiras subir à Libertadores. Daí que... daí que o espaço acabou... Amanhã trataremos disso.

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