quinta-feira, 1 de maio de 2008

O Estatuto do Sofredor

http://blogdojuca.blog.uol.com.br/arch2008-04-27_2008-05-03.html

Por ROBERTO VIEIRA

O capítulo V do Estatuto do Torcedor dispõe sobre os ingressos:

Art. 20. É direito do torcedor partícipe que os ingressos para as partidas integrantes de competições profissionais sejam colocados à venda até setenta e duas horas antes do início da partida correspondente.
'A venda deverá ser realizada por sistema que assegure a sua agilidade e amplo acesso à informação'.

'Nas partidas que compõem as competições de âmbito nacional ou regional de primeira e segunda divisão, a venda de ingressos será realizada em, pelo menos, cinco postos de venda localizados em distritos diferentes da cidade'.

O capítulo VI dispõe sobre o transporte:

Art. 27. A entidade responsável pela organização da competição e a entidade de prática desportiva detentora do mando de jogo solicitarão formalmente, direto ou mediante convênio, ao Poder Público competente:
I - serviços de estacionamento para uso por torcedores partícipes durante a realização de eventos esportivos, assegurando a estes acesso a serviço organizado de transporte para o estádio, ainda que oneroso; e
II - meio de transporte, ainda que oneroso, para condução de idosos, crianças e pessoas portadoras de deficiência física aos estádios, partindo de locais de fácil acesso, previamente determinados.

O capítulo VII fala sobre alimentação e higiene:

Art. 29. É direito do torcedor partícipe que os estádios possuam sanitários em número compatível com sua capacidade de público, em plenas condições de limpeza e funcionamento.


'Parece uma tarefa simples.

Seu filho de nove anos vira pra você e pede para assistir em campo ao jogo na quarta-feira, véspera do feriado.
Parece uma tarefa simples.
'Que bom! Ele finalmente se interessou pelo meu time!'
Você vai até o estádio onde se realizará o espetáculo.
Quando chega lá, uma multidão de torcedores e não torcedores se acotovela numa fila infinita que dá voltas e mais voltas no quarteirão.
'Eu desisto!'
Mas foi seu filho. Aquele menino que faz todo sacrifício dessa vida valer à pena.
Você liga pro trabalho e diz que vai chegar atrasado.
'Ei, velhão! É você mesmo!'
Um sujeito com metade da sua idade oferece os ingressos pelo triplo do preço. Você diz que não. É muito dinheiro.
Quatro horas depois e debaixo de um sol de trinta e cinco graus você se rende.
'Agora é mais caro!'
Você abre a carteira e paga uma pequena fortuna pelos ingressos.
O jogo está marcado para as 22h.
'Vá lá! É uma vez na vida.'
Trânsito caótico. Estacionamento? Um absurdo. O carro fica em cima de uma calçada mal iluminada. Quinze pratas.
Fila imensa pra entrar. Briga de torcidas. Parece mais uma guerra. Vitória ou morte.
Tudo bem, na Copa de 30 já era assim. Simples questão de semântica.
Passa um torcedor ensanguentado do seu lado. Semântica nada!
Sentados. Lado a lado. A visão do estádio lotado, o grito ensurdecedor da multidão, a entrada dos dois times. A lembrança do seu pai que décadas atrás levava você pela mão.
De repente, seu filho pede para ir ao banheiro.
Mas, que banheiro? Banheiro de estádio de futebol não pensa em adulto, quanto mais em criança.
Vocês dão sorte. O jogo começou e os banheiros estão vazios. Sujos, mas vazios.
Quando você pensa em voltar não há mais seu lugar. A turba ocupou cada centímetro quadrado.
Seu filho olha pra você. Você olha pro seu filho.
E os dois saem de mãos dadas pela noite para assistir o jogo.
Em casa. Comendo pizza com guaraná'.

Nenhum comentário: