Folha de São Paulo, sábado, 14 de fevereiro de 2009
Cidade planeja gastar R$ 28,8 bi com 2016, a maior parte em dinheiro público
Dossiê apresenta projetos do governo federal como trunfos do país para receber o evento que disputa contra Tóquio, Madri e Chicago
DENISE MENCHEN, DA SUCURSAL DO RIO
EDUARDO OHATA , MARIANA BASTOS, MARIANA LAJOLO, DA REPORTAGEM LOCAL
O Rio de Janeiro gastará R$ 28,8 bilhões para organizar os Jogos Olímpicos de 2016. A maior parte da verba virá dos cofres dos governos.
Em dólares, o custo chega a 14,42 bilhões, o mais alto entre as quatro candidatas. Chicago, Madri e Tóquio projetam orçamentos de, respectivamente, US$ 4,82 bilhões, US$ 6,13 bilhões e US$ 6,42 bilhões.
Os valores e todos os planos das cidades estão nos dossiês entregues ao Comitê Olímpico Internacional (COI), na Suíça.
"Não podemos fazer comparação pura e simplesmente de quanto um gastou, quanto o outro deixou de gastar, como se fosse uma corrida financeira de candidaturas", disse Carlos Arthur Nuzman, presidente do comitê de candidatura.
"As cidades são diferentes, as necessidades são diferentes e as aplicações são completamente diferentes", completou.
O orçamento do Rio é quase oito vezes maior do que o valor gasto com o Pan-2007. Orçado em R$ 409 milhões, o evento custou R$ 3,7 bilhões.
Como no evento pan-americano, a maior parte dos custos será coberta por verba pública. A previsão carioca é que R$ 23,2 bilhões (80%) sejam gastos com infraestrutura e serviços públicos. O comitê não informou qual a participação de cada esfera de poder (federal, estadual e municipal).
Os investimento do governo federal em esporte, inclusive, é apresentado como trunfo do Rio na disputa pelos Jogos.
Nas 538 páginas do dossiê estão listados os programas Segundo Tempo e Mais Educação e aporte de mais de US$ 210 milhões do governo que irão ajudar na preparação das equipes olímpica e paraolímpica.
O texto também cita investimentos do PAC (Plano de Aceleração do Crescimento) e do Plano Nacional de Segurança.
Os gastos do comitê organizador estão estimados em R$ 5,6 bilhões. Desses, 31% devem vir do COI e de seus patrocinadores, 45% da iniciativa privada (apoiadores, ingressos etc) e 24% dos governos -município, Estado e União entrariam com um terço cada um.
O Comitê Rio-2016 admite, porém, que os valores podem ser alterados. No orçamento, grande parte dos custos foi cotada em dólar e convertida em reais a câmbio de R$ 2 -o COI libera os países a usarem o câmbio que quiserem, desde que justificado. Ontem, a moeda fechou a R$ 2,264.
Nuzman disse que 35% dos investimentos estavam previstos com ou sem Olimpíada.
Em relação às instalações esportivas apresentadas no dossiê, o comitê diz que 54% delas já existem, 20% serão temporárias e apenas 26% teriam que ser construídas. Algumas feitas para o Pan não terão a mesma finalidade. A natação, por exemplo, sairá do Maria Lenk e acontecerá em nova arena.
Vilas são cartão de visita dos projetos
DA REPORTAGEM LOCAL
Nenhum projeto reflete tanto o espírito de cada cidade candidata quanto as Vilas Olímpicas. Cada uma delas traz peculiaridades que se aproximam do estilo de vida e do projeto de cada uma das candidatas.
A Vila do Rio terá, por exemplo, a Rua Carioca, uma rua de pedestres que reproduzirá em seu percurso atrações ""vibrantes" e ""acolhedoras" da cidade.
Financiada pelo governo federal, estará localizada bem no centro da Vila e contará com bares, restaurantes e lojas.
Em uma tentativa de convencer o Comitê Olímpico Internacional (COI) de que tem condições de propiciar conforto aos atletas, o dossiê da candidatura salienta que a Vila terá mais de 17,7 mil camas, ""comparado com as 16 mil exigidas pelo COI e com as 8.000 pedidas para a Paraolimpíada.
Além disso, assegura uma praia privada para os atletas.
Chicago oferece a mesma regalia, à beira de lago, e a chance de os atletas ficarem conectados à internet em qualquer ponto da Vila. Quer aproximá-los de amigos e familiares.
Já Tóquio promete um clima mais zen. O comitê local fez adaptações de acordo com as principais demandas dos atletas, que foram consultados antes da elaboração do projeto.
Os esportistas japoneses sugeriram, entre outras coisas, a criação de "oásis" espalhados pela vila, onde é possível relaxar. Outra exigência foi a aquisição de elevadores rápidos para evitar o desperdício de tempo, cardápios bem variados e maior número de restaurantes.
A Vila segue preceitos de sustentabilidade, e os apartamentos serão construídos de modo a minimizar ruídos externos.
Já a Vila de Madri foi baseada "em filosofia de cidade mediterrânea compacta". O objetivo é facilitar o relacionamento entre os atletas. (EO, MB E ML)
Rio apresenta Copa como trunfo para ter Olimpíada
Dossiê afirma que o legado do Mundial de 2014 irá diminuir gastos para 2016
Obras do Maracanã, palco da cerimônia de abertura, e dos estádios que receberão o futebol dos Jogos estarão prontas dois anos antes
DA REPORTAGEM LOCAL ,DA SUCURSAL DO RIO
Dois anos antes dos Jogos de 2016, o Rio já estará pronto para receber um dos maiores eventos esportivos do mundo. A Copa de 2014 será no Brasil. E é exibida como trunfo no dossiê carioca entregue ao Comitê Olímpico Internacional.
O calhamaço de 538 páginas cita diversas vezes o evento de futebol. Muitas delas para mostrar que ele representa orçamento mais enxuto para 2016.
Curiosamente, esse conforto é dado por ferrenho crítico do uso de dinheiro público pelo Comitê Olímpico Brasileiro. Ricardo Teixeira, presidente da CBF, abraçou a causa dos clubes formadores em busca de seu quinhão da Lei Piva.
Por onde passa, o dirigente reforça que a Copa brasileira será realizada com recursos privados, ao contrário de uma possível Olimpíada.
A reforma do Maracanã, por exemplo, cairá na conta do evento de futebol. Assim como parte das obras viárias do entorno. O estádio é o palco da cerimônia de abertura dos Jogos.
Até 2014, a capital fluminense prevê ter feito melhorias em aeroportos e acessos à cidade. Teixeira já afirmou que nenhum aeroporto do país hoje atende às exigências da Fifa.
A realização da Copa também é garantia de que as sedes dos torneios de futebol olímpicos estarão prontas para 2016.
Além do Rio, Belo Horizonte, São Paulo, Brasília e Salvador foram as cidades escolhidas. Se alguma delas não estiver na lista da Fifa, no entanto, o COB já tem carta-branca do COI (Comitê Olímpico Internacional) para inscrever outro local.
"A Copa vai nos entregar estádios prontos. A ideia é aproveitar 100% o legado da Copa para o futebol olímpico", afirmou Carlos Roberto Osório, secretário-geral do comitê.
Principal ponto fraco do Rio na primeira fase de disputa pela Olimpíada, a segurança é outro item que o dossiê de candidatura liga à realização da Copa.
Em 2014, afirma o texto, estratégias para a redução da criminalidade, como as previstas para os Jogos Olímpicos, já terão sido colocadas em prática.
Copa do Mundo, no entanto, não significa apenas bons legados para o Rio. Se a competição de futebol no Brasil é um trunfo, a experiência de 2010 pode se tornar um transtorno.
A Fifa decidiu optar por revezamento de continentes e deu também a um país emergente, que nunca havia recebido o evento, a chance de organizar a Copa. A África do Sul já sofreu com atrasos de obras que levaram Joseph Blatter, mandatário da Fifa, a falar em plano B.
As construções já voltaram ao ritmo desejado, e o dirigente disse confiar nos sul-africanos.
O comitê da Rio-2016, no entanto, acredita que novo problema até 2 de outubro, data da escolha da sede olímpica, pode levar o COI a desistir de apostar em outro país emergente.
Em junho, a África do Sul recebe a Copa das Confederações. O evento acontece durante o período de visitas do COI às cidades candidatas. (EDUARDO OHATA, DENISE MENCHEN, MARIANA BASTOS E MARIANA LAJOLO)
Centralização procura evitar "jogo de empurra"
DA SUCURSAL DO RIO, DA REPORTAGEM LOCAL
Com papel fundamental na organização dos Jogos de 2016, o poder público pretende criar estrutura específica para coordenar todas as obras e os serviços sob sua responsabilidade, a exemplo do que fizeram os comitês de Londres-12, Pequim-08 e Sydney-00. O protocolo de intenções para a criação da Autoridade Pública Olímpica foi assinado no mês passado.
O objetivo é garantir a entrega de tudo o que foi planejado na candidatura sem a repetição do "jogo de empurra" de custos entre União, Estado e município que se testemunhou nos Jogos Pan-Americanos e que foi criticado pelo presidente Lula.
"Vai ficar tudo centralizado num só órgão e, assim, a responsabilidade fica clara. Não vai ter luta", disse Ricardo Leyser, do Ministério do Esporte, destacando que o órgão terá representantes das três esferas de poder. Elas poderão acompanhar a evolução dos gastos.
Leyser disse que o governo ainda não definiu se a APO será uma empresa estatal ou um consórcio público, porém destacou que o assunto já está sendo estudado para que o órgão possa ser criado por lei federal assim que sair a decisão do COI sobre a cidade-sede dos Jogos, em outubro.0 (DM, ML, MB E EO)
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