Na 'FOLHA', de hoje
JUCA KFOURI
http://blogdojuca.blog.uol.com.br/arch2009-02-15_2009-02-21.html
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Quanto tempo levará para que todos esqueçam o que aconteceu no Morumbi no domingo passado?
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A CULPA é minha, é sua, é dos poderes executivos, legislativos e judiciários.
A culpa é de todos nós.
E, quando a culpa é de todos, passa a ser de ninguém e a vida segue, como se morrer ou se ferir gravemente num estádio, ou a caminho, fosse coisa corriqueira, uma coisa nossa, como tantas outras, a impunidade entre elas.
Por mais que em outras partes do mundo, onde a situação era pior (na Inglaterra, por exemplo), a vontade de resolver o problema tenha resolvido o problema.
E sem soluções mágicas, sem proibir ninguém de ir aos estádios, com exceção dos que são pegos cometendo violências e exemplarmente punidos por cometê-las.
E como?
Com ações inteligentes que começam pela prevenção, que seguem com rigorosa repressão e culminam com severa punição.
Um tripé tão óbvio como é óbvia a nenhuma vontade, por aqui, e há mais de dez anos, de solucionar a selvageria, que tem como protagonistas torcedores violentos e fanáticos, cartolas despreparados e provocadores, policiais destreinados e de estopim curto, mídia cúmplice ao botar lenha na fogueira e espaço a quem não deve tê-lo, por representar seitas e não o torcedor comum -esse pobre coitado abandonado ao próprio azar quando resolve ir a um jogo de futebol.
O presidente Lula gosta de futebol, é corintiano do fundo do coração, mas o tema não o comove.
Um dia, ao assinar o Estatuto do Torcedor, ele discursou no Palácio do Planalto e disse que "nunca mais o torcedor brasileiro seria tratado como gado".
Ficou no discurso, e o torcedor segue sendo abatido.
O governador dos paulistas, José Serra, gosta de futebol, é palmeirense até o último fio de seus poucos cabelos e nem se pronunciou sobre o que aconteceu no domingo passado ali no quintal do palácio onde vive, no Morumbi.
O governador fluminense, Sérgio Cabral, gosta de futebol, é vascaíno militante e desconhece que o Maracanã é uma praça de guerra.
O dos mineiros, Aécio Neves, também gosta de futebol, é cruzeirense, morreu um torcedor do Galo no fim de semana em Belo Horizonte e, claro, ele não tem nada a ver com isso.
José Sarney é o novo (?!) presidente do Senado, e Michel Temer é o novo (?!) presidente da Câmara dos Deputados, o que explica muita coisa neste Brasil varonil.
Todos, talvez com exceção de Temer, absolutamente próximos de Ricardo Teixeira, o eterno presidente da CBF, alguns até amigos mesmo, mas, como ele, mudos em relação ao tema.
O que importa é fazer a Copa de 2014.
E, um quarto poder, o Ministério Público, em São Paulo, alterna representantes para cuidar do assunto que vão da esperteza desmedida à ingenuidade que beira à simploriedade, embora sempre com a marca do deslumbramento pela proximidade com o poder dos cartolas e suas benesses, uma camisa autografada aqui, um camarote refrigerado ali e, quem sabe, uma candidatura a deputado para fazer parte das bancadas da bola que se espalham pelo país e se reúnem numa voz só em Brasília.
Entendeu por que amanhã ninguém falará mais sobre os pelo menos 49 feridos no Morumbi?
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